Estava demasiado
calor para o fazer à toa, pelo que escolhi o fim do dia.
Fui para o parque
recém recuperado aqui do bairro e sentei-me num dos bancos. Eles aqui não têm
costas: parecem ser feitos de chulipas surripiadas aos caminhos de ferro,
assentes em alvenaria forrada com tijolo burro. Simples, razoavelmente
duradoiros e multi usos.
Pois sentei-me e
deixei-me ficar, o que não me é muito fácil: a imobilidade, como dizia o outro,
é uma cena que não me assiste.
Rapei então de uma
folha de papel, procurei por uma pedra e um nico de areia e preparei-me para
constatar o tempo: À medida que a sombra variava no papel, ia colocando a
areia, bem visível no papel.
Dos garotos que
por ali estavam, três deles ficaram curiosos, perderam a vergonha, pararam com
a bola e vieram saber o que fazia eu. Nove/dez anos, teriam eles.
E eu lá lhes
expliquei o especial do dia.
E quiseram saber
mais: “O que é isso do solstício?”
E fui contando: da
rotação, da translação, dos eixos, do tamanho dos dias e das noites, das estações
do ano… Depois veio a lua e as suas fases, dos porquês e das posições
relativas.
E as mãos fizeram
de satélite, e as cabeças de planeta, e o sol… bem, esse fez de ele mesmo.
Quando dei por mim
eram uns oito ou nove, pirralhos ou já nem tanto, que num fim de tarde
brincavam com a luz e a sombra, cabeça na lua e pés na terra, as bolas e os
skates esquecidos ali nas bermas do relvado.
No papel, a areia ia
ficando na curva que eu esperava, marcando bem mais que o tempo: a relativização
do universo e o impossível do equilíbrio.
Quando me levantei
e sombra foi comigo, a miudagem já partira para outras brincadeiras, que as
bolas rolam e as adrenalinas chamam.
E com a certeza
que eles não se lembrarão do que ouviram daqui por seis meses, quando outro
solstício acontecer. Porque nem lembrarão a data. Mas se alguém então falar no
assunto, saberão explicar a brincadeira deste dia e o porquê da noite longa.
Melhor celebração?
Não creio que a pudesse ter tido!
By me
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