terça-feira, 21 de junho de 2016

Celebrações



Estava demasiado calor para o fazer à toa, pelo que escolhi o fim do dia.
Fui para o parque recém recuperado aqui do bairro e sentei-me num dos bancos. Eles aqui não têm costas: parecem ser feitos de chulipas surripiadas aos caminhos de ferro, assentes em alvenaria forrada com tijolo burro. Simples, razoavelmente duradoiros e multi usos.
Pois sentei-me e deixei-me ficar, o que não me é muito fácil: a imobilidade, como dizia o outro, é uma cena que não me assiste.
Rapei então de uma folha de papel, procurei por uma pedra e um nico de areia e preparei-me para constatar o tempo: À medida que a sombra variava no papel, ia colocando a areia, bem visível no papel.
Dos garotos que por ali estavam, três deles ficaram curiosos, perderam a vergonha, pararam com a bola e vieram saber o que fazia eu. Nove/dez anos, teriam eles.
E eu lá lhes expliquei o especial do dia.
E quiseram saber mais: “O que é isso do solstício?”
E fui contando: da rotação, da translação, dos eixos, do tamanho dos dias e das noites, das estações do ano… Depois veio a lua e as suas fases, dos porquês e das posições relativas.
E as mãos fizeram de satélite, e as cabeças de planeta, e o sol… bem, esse fez de ele mesmo.
Quando dei por mim eram uns oito ou nove, pirralhos ou já nem tanto, que num fim de tarde brincavam com a luz e a sombra, cabeça na lua e pés na terra, as bolas e os skates esquecidos ali nas bermas do relvado.
No papel, a areia ia ficando na curva que eu esperava, marcando bem mais que o tempo: a relativização do universo e o impossível do equilíbrio.
Quando me levantei e sombra foi comigo, a miudagem já partira para outras brincadeiras, que as bolas rolam e as adrenalinas chamam.
E com a certeza que eles não se lembrarão do que ouviram daqui por seis meses, quando outro solstício acontecer. Porque nem lembrarão a data. Mas se alguém então falar no assunto, saberão explicar a brincadeira deste dia e o porquê da noite longa.

Melhor celebração? Não creio que a pudesse ter tido!

By me 

Sem comentários: