Um destes dias, no
centro de saúde a que pertenço, aguardava eu ser chamado para marcar uma
consulta.
Um à-parte: Chamam
de paciente aos doentes porque têm que ter paciência para serem atendidos. Também
lhes poderiam chamar de expectantes, já que são os que esperam.
Encostada à parede
e perto dos seguranças que em voz alta iam chamando pelos números das senhas,
uma senhora, na casa dos vinte e poucos, “muito grávida”. Não posso assegurar,
até porque não questionei, mas estaria com oito meses de gravidez, bem medidos.
Isso ou gémeos.
Nestas condições,
as cadeiras das salas de espera não são, nem de perto nem de longe, as mais confortáveis,
pelo que a sua opção de ficar em pé se entende. Mas incomoda.
Incomoda a própria
e incomodou-me a mim que, apesar de ser “paciente”, me custou ver aquela
senhora assim.
Chamei de parte um
dos seguranças e perguntei-lhe se ela não seria uma pessoa classificável como “prioritária”,
passando à frente dos demais que, mesmo que doentes, apenas aguardavam vez para
marcações, tal como eu.
Fui informado que
não, que nos centros de saúde, e para questões burocráticas, não há prioridades
e que todos são tratados por igual, por ordem de chegada. Tal afirmação foi
confirmada pelo colega, enquanto segurava na mão o papel onde ia anotando os números
chamados.
Com os olhos
esbugalhados e a barba eriçada, preparava-me para trocar de senha com ela se
lhe fosse vantajoso quando o seu número foi chamado.
Por vezes, a paciência
necessária nos centros de saúde não é tanto pela afluência de gente ou escassez
de meios mas antes pelas normas vigentes.
By me
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