“Quando chegaram,
vinham a medo.
Deixaram-se ficar
de lado, enquanto eu falava com outro casal, cochichando entre si mas sem se
aproximarem. Só quando fiquei sozinho se aproximaram.
No início da
conversa achei um pouco estranho as suas atitudes, que queriam fazer uma
fotografia, como era habitual, mas havia algo que não batia certo.
Só quando a
conversa se soltou, ainda antes do “Olh’ó Passarinho!”, é que se abriram:
Queriam saber se
eu teria duas fotografias de arquivo, feitas quase um ano antes. Uma onde
entrava ele, outra onde entrava ela. O elemento comum era um amigo de ambos, na
altura “namorado” dela, que tinha falecido pouco antes do Natal.
Ali não a tinha,
garantidamente, mas em casa por certo que sim. Que não me desfaço de nenhuma
fotografia que faço, muito menos das feitas com esta câmara.
E fizeram a foto
do costume, de pé no enfiamento da rua, com o banco e o candeeiro em campo.
Quando a
receberam, e enquanto eu tomava as notas habituais, bem como as necessárias
para encontrar o que me pediam, lamentaram não terem ficado a olhar um para o
outro. Fazer outra, com o artefacto, seria quebrar os hábitos, mas nada me
impedia de usar a Pentax, que aquele queixume merecia algo de diferente.
O conjunto de
fotos já ali está, guardado onde não me esquecerei de levar para entregar
quando os vir de novo. Com uma impressão extra, esta, afixada ali no painel,
que a história merece um realce especial.
E quem era ele?
Fica na minha memória e arquivo, bem como na deles, que se estimam ou algo
mais.
Desejo apenas que,
daqui por um ano, um deles não me venha pedir a fotografia do outro!”
Quando escrevi o
texto acima há oito anos, mais semana, menos semana, não imaginava que a última
frase seria premonitória. Por motivos semelhantes.
Os intervenientes?
Claro que não os mostro! Nenhum deles me autorizou, em vida ou depois dela, de
o ligar a esta história por imagens.
Fica o local onde
aconteceu.
By me
Sem comentários:
Enviar um comentário