domingo, 16 de março de 2025

Frascos


 


Encontrei estes dois numa loja de objectos de vidro, em Lisboa.

Fui a ela de propósito, por via de um galheteiro que me convencesse, mas nada me prendeu a atenção.

Excepto estes frascos. Caiu-me em cima um manto de nostalgia que me fez retroceder muitos anos, aos meus tempos de catraio. Na casa de família havia-os iguais, no formato e cores de tampa mas francamente maiores, talvez com o triplo da capacidade. O que não estranho, já que éramos seis sentados à mesa todos os dias.

Tinham, ou têm, uma característica que hoje é francamente rara de encontrar: a robustêz. Vidro grosso, capaz de não se importar se escorregar das mãos e embater na pedra do balcão ou pia. Os de hoje, por bonitos que sejam, ficam logo lascados ou mesmo em cacos com pequenos acidentes.

Na época em que os recordo, esses acidentes não poderiam acontecer, que a substituição custava dinheiro. E esse não abundava. Além do mais, aquilo que se guardava nestes frascos eram comprado a granel e pesado no balcão da mercearia ou venda, não havendo sacos de plástico onde pudessem ser guardados em casa. Na melhor das hipoteses, ficaria nos cartuchos de papel pardo riscado onde era transportado para casa, com o topo fechado e dobrado e um cordel a garantir que não se abriam.

Esperaram eles, os frascos, que tivesse inspiração para a fotografia e as palavras já aqui andassem a bailar. Foi hoje, nesta viagem aos meus tempos de catraio, que os estreei com recheios apropriados à forma, função e memória.

 

Pentax K1 mkII, Tamron SP Adaptal2 90mm 1:2,5


By me

sexta-feira, 14 de março de 2025

Velharias


Há quem quem confunda velharia com antiguidade. 
Por velharia entende-se tudo o que, já não sendo novo ou recente, tem menos de cem anos. Por seu lado, consequentemente, antiguidade será tudo que seja mais antigo que cem anos. 
Claro que esta diferença, na prática, não faz diferença se a diferença for curta, excepto no preço, que uma antiguidade tem mais valor de mercado que uma velharia. 
Já os negociantes têm uma noção de tempo um pouco estranha.
Esta objectiva com obturador, é uma velharia, apesar dos seus 75 anos. E não está funcional.

Pentax K1 mkII, Tamron SP Adaptal2 90mm 1:2,5


By me

quarta-feira, 12 de março de 2025

Memórias




Vocês me desculpem mas não resisti. E apesar de ter a DSLR ali ao lado, em cima da mesa, foi mesmo com o telemovel.
Conheço o local há um ror de tempo. Desde os meus tempos de estudante ainda numa época pré-revolucionária. Ficava-me no caminho do liceu, quando decidia não fazer o transbordo de autocarro e poupar o segundo bilhete.
Antes de abrirem as portas ao público, este café, que agora também serve refeições, entregava de borla os bolos da véspera a quem lá fosse. E havia sempre alguns miúdos a fazerem fila, vindos de um bairro de lata nas imediações.
Nunca ali fiz fila. Preconceitos da época faziam com que os meninos do liceu não se misturassem com os meninos de pé descalço. Como se uns valessem mais que outros! Além de que as rivalidades entre os grupos dos já não tão meninos por vezes terminavam com arnica, merurocromo ou mesmo uma ida ao posto de enfermagem.
Este era um dos bolos que eu cobiçava noutros espaços, de permeio com as pirâmides, os duchasse ou as bolas de berlim. Com creme, claro. Mas estas últimas surgiam todos os dias em frente ao liceu, no intervalo grande, pelas mãos de uma vendedeira ambulante que as trazia num cesto de vime coberto com um pano branco. Quando tinha poupado nos bilhetes quanto bastasse, lá ía eu escolher uma, a que tivesse mais creme, e lambuzar-me até às orelhas.
Hoje já não há vendedeiras às portas dos liceus, com panos e batas brancas. E já não me lambuzo até às orelhas, que fico com as barbas cheias de doces vestígios. Mas os paladares são os mesmos, mesmo que comidos com faca e garfo.

By me

segunda-feira, 10 de março de 2025

Já foste



 

Pentax K1 mkII, Tamron SP Adaptal2 90mm 1:2,5


By me

sábado, 8 de março de 2025

Calçada de Carriche




Luísa sobe,
sobe a calçada,
sobe e não pode
que vai cansada.

Sobe, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe
sobe a calçada.
Saiu de casa
de madrugada;
regressa a casa
é já noite fechada.
Na mão grosseira,
de pele queimada,
leva a lancheira
desengonçada.
Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

Luísa é nova,
desenxovalhada,
tem perna gorda,
bem torneada.
Ferve-lhe o sangue
de afogueada;
saltam-lhe os peitos
na caminhada.
Anda, Luísa.
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

Passam magalas,
rapaziada,
palpam-lhe as coxas
não dá por nada.
Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

Chegou a casa
não disse nada.
Pegou na filha,
deu-lhe a mamada;
bebeu a sopa
numa golada;
lavou a loiça,
varreu a escada;
deu jeito à casa
desarranjada;
coseu a roupa
já remendada;
despiu-se à pressa,
desinteressada;
caiu na cama
de uma assentada;
chegou o homem,
viu-a deitada;
serviu-se dela,
não deu por nada.

Anda, Luísa.
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Na manhã débil,
sem alvorada,
salta da cama,
desembestada;
puxa da filha,
dá-lhe a mamada;
veste-se à pressa,
desengonçada;
anda, ciranda,
desaustinada;
range o soalho
a cada passada,
salta para a rua,
corre açodada,
galga o passeio,
desce o passeio,
desce a calçada,
chega à oficina
à hora marcada,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga;
toca a sineta
na hora aprazada,
corre à cantina,
volta à toada,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga.

Regressa a casa
é já noite fechada.
Luísa arqueja
pela calçada.
Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada,
sobe que sobe,
sobe a calçada,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.

"Calçada de Carriche", António Gedeão

Imagem by Me

quarta-feira, 5 de março de 2025

Soluções faça você mesmo




Um dos problemas que afecta muita gente é o espaço. Melhor dizendo, a falta de espaço. Principalmente a falta de espaço na mesa de trabalho.

Não importa quão grande seja, estará sempre cheia de coisas. Aquelas que estão a ser usadas, as que foram usadas há pouco, as que estiveram em uso a semana passada, as que estão ali porque ainda não foram colocadas no devido lugar, as que ficaram ali já nem se sabe bem porquê... as mesas de trabalho estão sempre cheias.

Mas há um objecto que entra e sai da mesa (ou pode entrar) amiúde e para o qual nem sempre há lugar seguro porque a mesa está cheia. Ao meio não há lugar, na beira da mesa pode cair, ali está demasiado perto da caneca de café, acolá está à frente de algo... nunca há o lugar certo e seguro para pousar a câmara em cima da mesa.

Encontrei eu uma solução: um grampo fixado na beira da mesa mas não no caminho dos braços, uma cabeça de monopé com ajuste de “tilt” e uma base de fixação rápida.

Colocado o conjunto no local certo da mesa, nunca haverá nada em cima dele que impeça ou atrapalhe o pôr ou retirar da câmara. Nunca acontecerá entornarmos um café em cima porque fica um pouco subida. O encaixe rápido permite segurança, impedindo que caia mesmo que lhe demos um toque acidental.

Nenhuma destas peças se encontram à venda nas lojas dos centros comerciais e dificilmente nas de bairro. Haverá que procurar no comércio que abastece os profissionais ou encomendar pela net.

As peças que uso são da marca Manfroto, mas qualquer marca serve desde que satisfaça dois requisitos: robustez dos materiais e facilidade no seu manuseio; compatibilidade entre o sistema de fixação com o ou os existentes nos tripés que usamos.

Desde que montei este sistema, colocado na secretária ou numa prateleira de uma estante ao alcance do braço, a minha tranquilidade ao trabalhar sentado à mesa aumentou exponencialmente.

 

Pentax K1 mkII, SMC Pentax-FA 100mm 1:3.5 macro


By me

terça-feira, 4 de março de 2025

Vira-bicos fotográfico




Sejamos honestos: não há objectos bons ou maus, éticos ou não éticos.

O que há, antes sim, são os usos que são dados aos objectos e as classificações que lhes damos. E estas dependem do local e da respectiva cultura vigente.

O que aqui se vê é um gadjet dos anos ’70 e ’80 que tem inscrito o seguinte: “Panagor mirror circle anglescope”. Fabricado no Japão. Veio parar às minhas mãos no meio do equipamento fotográfico que herdei de meu pai.

A sua função é fotografar a 90º com o seu eixo, usando um espelho no seu interior e estando acoplado a uma objectiva. De origem tem uma montagem serie VII para receber um anel de adaptação para usar na objectiva

Sejamos honestos de novo: o uso mais comum de tal gadjet é fotografar para o lado parecendo que se está a fotografar em frente. Fotografias discretas, feitas às escondidas, captando o que supostamente não se deveria captar. Pouco ético, convenhamos.

Poderá ter um outro uso: fotografar tectos pintados ou zimbórios sem que se tenha que inclinar a câmara 90º para cima. Ou a ponta dos nossos sapatos sem que tenhamos que dobrar as costas até partir.

Se bem conheci meu pai, terá sido para fotografar monumentos que o terá comprado.

Hoje já não se deve fabricar e só o encontro enquanto velharia em sites e leilões on-line.

Um destes dias ponho-o na mochila e vou fazer uma ronda por algumas igrejas e palácios das redondezas.

 

Pentax K1 mkII, Tamron SP Adaptal2 90mm 1:2,5


By me

segunda-feira, 3 de março de 2025

Medos e mudanças

Enquanto pedia um café ao balcão, alguém numa mesa atrás de mim exclamava “Valha-nos Santa Bárbara!”
Virei-me, estranhando, e apurei o ouvido. Sorri então.
Nunca ouvira dizer que a Santa Bárbara fosse a padroeira das mudanças de moveis ou a protectora dos riscos nos soalhos.
Porque os deuses, lá em cima, estavam numa de mudança de mobiliário, daquele antigo estilo Luís XV ou XVI. E faziam-no amiúde e com gana.
Entretanto voltei-me para o balcão, por mor do meu café, e vejo a empregada a benzer-se.
Surda que é de nascença, e com um aparelho em cada ouvido, ainda não tinha dado pela coisa. Mas quando viu o relampâgo... até se encolheu.
Somos bichos, com os mesmos medos que qualquer outro por muito que os expliquemos ou racionalizemos as origens. 
Por mim, adoro assistir a uma valente trovoada. Mesmo que fique encharcado. É daqueles acontecimentos que nos reduzem à nossa insignificância no universo, por muito importantes que nos entendamos.

By me

domingo, 2 de março de 2025

Talvez não fotógrafo




Volta e meia oiço – ou leio – sobre casos que conto aqui ou ali:
“Então e não fotografaste? Tu, logo tu, sempre com a câmara contigo, não fotografaste!?”
A frequência com que me vou deparando com esta afirmação/interrogação vai aumentando, à medida que o tempo passa.
Efectivamente, cada vez menos fotografo o que assisto!
Existem em mim dois fotógrafos que se digladiam face às ocorrências: o bio-químico e o foto-mecânico.
Cada vez mais o primeiro tem relutância em deixar o segundo actuar perante a actividade humana. Aquilo que o segundo pode ver e, eventualmente, registar com a sua objectiva é infinitamente menos que aquilo que o primeiro constata.
Os cheiros, os sons, os sentimentos do dia-a-dia são tantos, tão apelativos, tão inebriantes, tão envolventes que, se todos eles passassem para a câmara, nada mais faria. Seria como aqueles turistas que vão de férias e vêm os locais pelo visor, e apenas por ele. Vi alguns assim na Expo98, por exemplo.
Se a magia da fotografia, a grande magia, é o contrair do tempo do antes e do depois para o durante a exposição efectuada, que duração teria uma exposição que englobasse a vida?
Se a fotografia faz parte da minha vida – e faz indubitavelmente – procuro fotografar com os olhos e, em havendo oportunidade, encontrar algo que, de alguma forma, transmita o que vi e/ou senti.
São ícones fotográficos o que vou fazendo, não procurando reproduzir realidade que não apenas a minha realidade. A minha forma de ver a realidade.
A fotografia documento - e as actuais tecnologias cada vez mais o incentivam – retiram-lhe validade. Já perdi a conta das vezes em que, confrontado alguém com fotografias minhas, me perguntou se a tinha trabalhado no photoshop. A credibilidade de uma fotografia, da fotografia, já não existe. Supondo que alguma vez existiu.
Por isso, quando vejo/vivo algo, prefiro gozar esses momentos, “fotografando” na “película” a que chamamos cérebro e guardar para mais tarde a materialização do todo que vi e senti.
Estou em crer que deixei de ser fotógrafo. O que sou? Nem eu sei bem!
Talvez um medíocre espectador com uma ferramenta que não domina.

By me

Raridade?




O conceito de “raro” é algo que varia no tempo e no espaço. E no conhecimento de quem o classifica.

Encontrei esta peça on-line. Melhor dizendo, foi um amigo que me propôs o negócio, contactado-me on-line, sabendo-me fã da marca. Mesmo sem saber o seu estado de conservação aceitei de imediato.

Isto porque de entre o que não sei, o haver projectores de slides de marca Pentax era um dos assuntos. E acabei sabendo que tinham fabricado quatro modelos, sendo que um deles teve duas versões. Esta terá sido a primeira.

Para além da surpresa da sua existência, some-se a curiosidade do nome da objectiva. Fabricada na alemanha nos inícios dos anos ’70 carimbada com “pro-Takumar” para deixar bem claro que tinha sido feita para equipamento Pentax, que usava então o nome Takumar para as suas objectivas. Subtilezas comerciais.

Este projector necessita de uma séria limpeza e de alguns ajustes na sua mecânica. Coisa que acontecerá em havendo oportunidade. Até lá, ocupará um lugar de destaque aqui em casa pela raridade do objecto. Pelo menos no mercado português. E por ter vindo projectar mais um pouco de conhecimento na imensidão daquilo que não sei.

 

Pentax K1 mkII, Tamron SP Adaptall2 90mm 1:2,5


By me

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

Equilíbrios????




Não é fácil de explicar a quem defende a ecologia quase que como solução última para a humanidade. Ou a quem acha que a simetria é o pináculo da perfeição. Ou a quem pensa que o equilíbrio, interior ou exterior, será a manifestação divina de algum estado de graça universal.

Em boa verdade, o equilíbrio, a ecologia, a simetria, são invenções humanas. Retrógradas, conservadoras, rígidas como aço e anti-natura no seu máximo.

O universo não é simétrico. O universo não é equilibrado. Quer vejamos isto do ponto de vista cósmico, quer vejamos isto à escala humana.

Se o universo fosse equilibrado, não teríamos a expansão e contração galáctica. Nem as amibas teriam saído do seu ambiente aquoso. Nem o ser humano teria descido das árvores.

É no desequilíbrio, na intranquilidade, na ausência de simetria (que nem o corpo humano possui) que a evolução acontece, que melhoramos e nos melhoramos. É na insatisfação, no tentar atingir o horizonte planetário, nas super-novas, que algo de novo acontece. Terá sido o desequilíbrio que provocou a extinção dos dinossaurios e o surgimento de novas espécies. Nós incluídos. Terá sido algum desequilíbrio que terá provocado o famoso big bang.

A estabilidade, a simetria, o equilíbrio, serão algo que procuramos porque raro, como os diamantes. E só porque raro lhes atribuímos valor. Material ou não.

Sou apologista da ausência de equilíbrio, da instabilidade, da assimetria. Na vida, na estética, na evolução.

A balança é uma invenção humana! Absurda, claro.

By me

domingo, 23 de fevereiro de 2025

Verso e reverso




Não deixa de ser interessante que a parte de uma câmara fotográfica que mostramos, que procuramos conhecer e que surge em tudo o que é publicidade seja a sua parte frontal.

No entanto, é na sua parte traseira, do lado do LCD ou da tampa da película, que encostamos o rosto, na cumplicidade de um afago ou abraço, quase que um beijo de amor.

 

Pentax K1 mkII, Tamron SP Adaptall2 90mm 1:2,5


By me

Com calma, Miranda




Devagar e sem pressas, a coisa vai-se compondo.

O primeiro passo está dado, ou seja, a objectiva foi substituída por outra quase idêntica mas sem fungos. 

O que significa que já posso pôr-lhe película e ir fotografar, ainda que sem utilizar o seu fotómetro TTL. As pilhas recomendadas já não se fabricam por conterem mercúrio e as alternativas actuais têm outros valores. 

E porque é que quero ter isto, lançado em 1971, a trabalhar tão bem quanto o possível?

Pertencia ela a meu pai e herdei-a. Esteve demasidos anos mal guardada, como demonstra o estado ótpico. E, apesar de ser utilizador convicto de câmaras Pentax, faço questão que todas as que possuo, Pentax ou não, estejam tão operacionais quanto o possível.

Esta é uma delas, com o acréscimo de ter uma história que me é próxima.

Pentax K1 mkII, Tamron SP Adaptall2 90mm 1:2,5


By me

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

Frustrações




Mau mesmo é quando vais a uma loja de referência em equipamento fotográfico para comprar um determinado tipo de artigo.

Acontece que a loja disponibiliza dois modelos muito semelhantes, da mesma marca e gama de preços, mas com algumas características específicas diferentes. E queres saber mais sobre isso, já que o que consta na net não é esclarecedor. E as respostas ditarão a escolha.

És atendindo pela pessoa responsável por aquela secção que, depois de muito procurar, constata que ali não têm nenhum dos dois modelos mas apenas no armazém, distante. E não te sabe responder às tuas questões. Que são técnicas, específicas e importantes.

Saber mais que o vendedor especializado é algo que pode alimentar o ego de qualquer um, mas é frustrante, faz-nos perder tempo e reduz a opinião que se tem sobre o local.

 

Pentax K1 mkII, Tamron SP Adaptall2 90mm 1:2,5


By me

Mau feitio




Sou fumador há muitos anos e sei muito bem o que é querer um cigarro e não ter.

Por isso, quando me pedem um cigarro na rua em regra dou. E fico agradado quando quem pede percebe que o que dou é o último do maço e recusa. A minha resposta é que tenho mais, ou que ía logo ali comprar mais e a cumplicidade entre fumadores reforça-se.

Mas há algo que me faz sair do sério e recusar liminarmente o dar o cigarro: quando chegam junto a mim e com ar displicente, quase como se fosse uma obrigação, me dizem “Oh chefe, dê-me um cigarro!”

Em primeiro lugar um “por favor” fica sempre bem. Em seguida o “Oh chefe” é dito com um tom de sobranceira, como que uma ordem dada. Não me importa se tenho um maço cheio ou se vou comprar mais de seguida. Ou abano apenas a cabeça ou sai-me um “Hoje não!” em tom desabrido.

Eu sei o que é querer fumar e não ter tabaco. Mas alguma cordialidade ou quebra gelo fica sempre bem e ajuda no acto de partilha de vícios.

Mas eu não sou conhecido por ter bom feitio!

 

Pentax K1 mkII, Tamron SP Adaptall2 90mm 1:2,5

 

By me

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

Aviso


Enquanto os cidadãos se reúnem atabalhoadamente em praças públicas, a céu aberto ou debaixo de telha, tentando manter vivo o conceito de democracia representativa, meia dúzia de títeres, eleitos ou não, decidem sobre a vida de centenas de milhões de humanos. 

A história repete-se, seja com vias romanas, seja com autoestradas de informação.

Em breve regressaremos a uma nova idade das trevas, mal alumiados nos templos com micro-leds, os servos da gleba vendidos com os terrenos de cultivo ou de senhorial lazer e os arautos difundindo o medo do cadafalso ou corte do wi-fi.

By me

domingo, 16 de fevereiro de 2025

Coito interrompido




Estava de volta de uma fotografia e a coisa não me estava a correr bem. Não havia forma de conseguir a imagem que tinha imaginado, por mais voltas que desse na perspectiva ou na luz. Mas eu sou teimoso e, rilhando os dentes, insistia.
De súbito tocam à porta. Em boa verdade, bateram na porta de casa ao mesmo tempo que faziam soar a campaínha. Com insistência.
Soltei um rotundo e clássico impropério, daqueles que soltamos quando o dedo mindinho do pé embate, descalço, na perna da cadeira, e fui ver quem se atrevia a interromper o acto criativo, mesmo que não muito bom.
Era o vizinho do lado a perguntar-me se toda aquela fumaça que se via na escada viria de minha casa. Não vinha. E se não era da minha a alternativa era vir da do vizinho da frente. Mas disseram-me que não atendia. 
Fui até à porta e tentei a campaínha. Nada. Umas valentes pancadas na porta e nada também. Entretanto a esposa do vizinho, com o seu bebé de semanas ao colo, já estava a ligar para a linha de emergência, dando os dados necessários. Apesar da situação, ela estava com mais calma que ele.
Entretanto ouvi algum barulho no apartamento de onde vinha o fumo. Retornei a ela e descobri que o botão da campaínha tinha truque e que afinal ela funcionava. Alternei entre ela e murros na porta até esta abrir.
Abriu-a um dos residentes, um rapaz dos seus vinte anos, a perguntar sobre o que se passava. Quando referimos o fumo na escada, e com a maior das displicências, disse aquilo não era nada de grave, apenas o fumo do fogareiro. E que ele iria tratar disso.
Recolhemos todos às respectivas casas, não muito tranquilos, entenda-se. Fiquei de olho na janela, por via da chegada dos bombeiros e, pelo caminho, calcei os sapatos, não fosse ter que sair de fugida. 
Chegou o carro de primeira intervenção, chegou a ambulância, chegou o carro patrulha.
As duas bombeiras subiram, equipadas para o que desse e viesse e resolveram a coisa sem mesmo recorrerem aos extintores que traziam. Os agentes da polícia entraram e falaram de rijo com quem lá estava. E fiquei a saber que se tratava de um assador a carvão a ser usado na cozinha e com as janelas fechadas. 
Uma das bombeiras veio pedir-me para abrir janelas para limpar o fumo da escada e do apartamento de onde vinha e aquelas que sugeriu, porque mais em linha recta, eram exactamente as do espaço a que pomposamente chamo de estúdio.
Lá tive que afastar a “tralha”, desmontando o que tinha em mãos, para fazer a ventilação, que até foi coisa rápida. Enquanto o fazia, ela acrescentava com bonomia, que as duas haveriam de cá voltar para uns retratos. Rimo-nos todos.
Os bombeiros foram-se embora, assim como o carro-patrulha e ficou apenas a curiosidade de vizinhos, na rua e no café em frente, onde sou cliente regular. Foi um ponto alto na pacatez da rua secundária onde vivo.
A fotografia que eu queria fazer? Passou-me a vontade e não voltei a ela nesse dia. Nem nos seguintes. Não era coisa importante que não para mim.
Vai acontecer, p’la certa, um destes dias quando voltar a vê-la com os olhos da alma. 

Pentax K50, SMC Pentax 28-200 1:3,8-5,6

By me

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

Corando




Há duas formas de pôr a roupa a corar.
Uma é esta, clássica, recorrendo ao sol natural.
Outra é contar-lhe uma anedota porca.

Mas camisa velha e batida já dificilmente cora com uma piada.

By me

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

D'arquivo




Esta foi a única imagem que consegui registar em quase dez horas de actividade formativa.
Saber que há gente que atenta nas nossas palavras, gestos, linhas, que as considera como referência e que as irá repetir, contestar ou considerar como importantes, por muito levezinho e divertido que levemos a coisa, é uma responsabilidade demasiadamente grande para que o possamos por de parte, mesmo que por momentos.
E se estou concentrado naquilo que os que nos cercam vão fazendo, preocupado em ter a certeza que as aprendizagens estão a acontecer e da forma mais útil, dificilmente consigo escutar a voz interior, ou ver as imagens projectadas atrás da retina, para que com isso possamos criar alguma coisa.
Não sei ao certo o que acontece com muitos e muitos outros, mas eu não sou multi-tasking.

By me

domingo, 26 de janeiro de 2025

Boa ou má




Tenho para mim que não há boas ou más fotografias.
O conceito de bom e de mau é um conceito social que, muitas vezes, entra em conflito com as opções de quem fotografa.
Pior: Limita quem fotografa a fazer o seu trabalho pela opinião da sociedade, deixando para trás, tantas vezes, a sua própria capacidade de inovar e criar.
Entendo que uma fotografia é boa quando consegue satisfazer o seu autor. Quando ele olha para ela e se revê no que nela “lê” e sente. Isto é uma boa fotografia!
A partir daqui entra em campo a questão do gosto dos demais e da eficácia da comunicação.
Se a fotografia agrada à maioria leva o carimbo de boa. Se também agrada aos especialistas será excelente.
Mas, e antes de mais, a fotografia, o trabalho realizado que transformou aquilo que foi visto e sentido naquilo que o fotógrafo entende por um equivalente fotográfico, tem que agradar ao seu autor.
Claro que a fotografia também é uma forma de comunicação. Por isso existem os livros, as galerias, os álbuns, os grupos. As mais das vezes fotografa-se para outros vejam e sintam o que o fotógrafo viu e sentiu.
E quando tal acontece, a fotografia é eficaz na sua função de comunicar.

Mas também sabemos que comunicar, mesmo que com fotografia, implica o partilhar de códigos comuns. Tal como a escrita. Ou a música. Ou a escultura. Se quem o vê não entender os códigos usados por quem o fez, a ponte da comunicação não existe.
Daí que exista uma tendência generalizada em fotografar usando de códigos (técnicas e estéticas) que sejam do entendimento generalizado dos destinatários. Algum tipo de formalidade no fazer de fotografia.
Esta formalidade, este usar de códigos generalizados na fotografia, acaba por fechar portas à capacidade que cada um possa ter de se satisfazer com o que faz sem pensar nos outros. Acaba por limitar a criatividade absoluta, obrigando a criar de acordo com os códigos instituídos.
Mais do mesmo, portanto!

Claro que os chamados “profissionais” a isso são obrigados. Têm que agradar aos clientes!
A sua principal preocupação, ao fotografar, é que os sentimentos expressos nas fotografias que fazem, se alguns, sejam entendidos por quem lhes paga o trabalho. Que é isso que deles se espera.
Se a gestão do espaço e dos elementos nele (composição), se a nitidez ou as relações entre o claro e o escuro não estiverem de acordo com a técnica e estética em vigor (os códigos de comunicação) dificilmente será vendida. Quer seja uma fotografia de um acontecimento social, uma reportagem de guerra, paisagem ou vida animal. Não aparecerá numa revista ou jornal, ninguém a verá num cartaz publicitário nem constará no álbum de casamento.

Será uma necessidade do fotógrafo definir aquilo que lhe agrada e aquilo que agrada ao consumidor. E ter a coragem de o assumir.

Nunca disse a um aluno ou formando “Essa fotografia é má!”
O mais que fiz foi dizer-lhe “Não gosto” ou “Não entendo”. E, acto continuo, pedir que ma explicasse, que sobre ela discorresse em voz alta. E que me dissesse se ela correspondia ao objectivo a que se tinha proposto. E se esse objectivo era pessoal ou comunicação de massas.
A classificação de boa ou má seria a dele, de acordo com isso e com a conversa.

Que o mais importante é a satisfação do próprio. O resto é socialização. 

By me

quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

Retrato de una desconhecida




Tinha saído de casa com este espelho no saco para o partir e fazer uma paródia fotográfica sobre a sexta-feira 13 e as demais coisas do azar.

Mas antes de o fazer surgiu junto à minha câmara á-lá-minuta esta jovem senhora com quem estive um pedaço de conversa. E pedi-lhe para fazer algumas fotografias com a minha DSLR, uma Pentax K7. Acedeu.

Não sou muito de fazer retratos, de sugerir a frontalidade para a câmara e menos ainda de pedir para sorrir, pelo que a deixei livre nos seus pensamentos e poses.

Depois de algumas abordagens menos convencionais, lembrei-me do espelho que tinha no saco e entreguei-lho, pedindo que se entretivesse com ele. Este foi um dos resultados.

É espantoso como como as pessoas se esquecem da presença da câmara quando têm nas mãos um espelho. Em particular as senhoras. Entram num outro mundo muito seu, numa outra realidade, dialogando com quem vêem na superfície espelhada e não com quem está atrás da câmara.

Já o fotógrafo, se tiver sorte e a luz ajudar, pode passar para além do visível (pele ou vidro) e criar emoções ou sentimentos que vão bem para além do explícito e encontrar implícitos que talvez nunca tenham estado ali.

 

Pentax K7, Sigma 70-300


By me

terça-feira, 21 de janeiro de 2025

Na Rua do Benformoso




Com a idade que tenho, a que se soma a minha curiosidade, acabo por ter histórias ou episódios que aconteceram um pouco por toda a cidade: Lisboa.

E como agora está “na berra” a Rua do Benformoso, aqui fica uma situação aí vivida, há coisa de meio século.

A minha namorada era adolescente como eu. Aliás, frequentávamos o mesmo liceu, coisa impossível um ano e tal antes, época em que o ensino era separado para rapazes e raparigas.

Pois esta minha namorada tinha uma madrinha, já bem idosa. E era quase que obrigação a afilhada visitar a madrinha com alguma regularidade. E, para visitar a madrinha, havia que ter um pouco mais de cuidado com as roupas e as conversas. E nem pensar a afilhada usar calças na sua presença. Que madrinha é madrinha e o respeitinho é muito bonito.

Vivia a boa da senhora num rés-do-chão de uma casa modesta e pequena na Rua do Benformoso. Rua estreita, de prédios velhos, que começava (e começa) na Praça do Martim Moniz e terminava (e termina) no Largo do Intendente. Nem o princípio nem o fim, principalmente este, eram zonas que se recomendassem. Com negócios de contrabando e artigos de origem duvidosa no seu início e tascos, pensões e prostituição no seu fim. Claro que não se pode generalizar estes atributos por todos os que ali viviam ou frequentavam, que boa gente por ali havia naturalmente, mas soqueiras e ponta-e-mola ou faca na liga eram o pão-nosso-de-cada-dia.

Pois um dia fui formalmente convidado para ir conhecer a madrinha da minha namorada. Uma espécie de apresentação formal à família e mais importante que conhecer os pais, que eu já conhecia. A aprovação da minha pessoa pela madrinha era a aprovação do namoro.

E eu lá fui, tendo cuidado com o que vestia, mas sem fato ou gravata. Que naquela época era sinal de ser do reviralho.

Admitido na casa, modesta que era mas imaculada e cheia de bric-á-braque por tudo quanto é lado, não faltando um santinho com candeia acesa e um canito de loiça, fui conduzido à sala. E convidado a sentar-me numa cadeira de braços almofadada, a única, de costas para a janela mas de frente para o televisor. A que não faltava o naperon em croché com uma jarra com flores em cima.

A certa altura a boa da senhora, creio que para ajudar a quebrar o gelo, sugeriu que eu pegasse num cinzeiro de loiça que ali estava. Qualquer um, disse ela. E eram muitos. Em seguida pediu-me que o virasse (estava vazio, claro) e que visse o que estava escrito. Se bem me recordo das palavras, constava nele “Este cinzeiro foi surripiado do restaurante qualquer-coisa”.

Achei estranho, mas ela continuou, fazendo-me ver o que constava noutro, e noutro, e noutro ainda. Em seguida os pratos, decorados ou de mesa. Em todos eles havia algo de semelhante escrito.

Contou-me então que era hábito trazer-se uma recordação dos restaurantes ou pensões por onde se passava e que os donos mandavam escrever aquilo para tentar dissuadir, pela vergonha, o surripanço.

E toda a decoração daquela sala, a sala da madrinha, tinha essa origem. Por isso serem desirmanadas e de estilos tão díspares todas aquelas peças.

Se a memória me não falha voltei a casa da madrinha talvez duas vezes. Que as visitas seria uma vez por mês ou a cada seis semanas e eu nem sempre podia ou queria. Quando o namoro terminou não senti falta da madrinha, dos seus troféus ou da rua do Benformoso.

Quanto aos cinzeiros... Hoje em dia o que não falta são lojas de recordações.

 

Pentax K1 mkII, SMC Pentax-m Macro 50mm 1:4


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Equivalências




Aparentemente pesa sobre Miguel Arruda, deputado à Assembleia da República pelo partido Chega, a suspeita de ter furtado malas nos aeroportos de Lisboa e de Ponta Delgada.

Para poder ser interrogado e, eventualmente, julgado terá que ser levantada a imunidade parlamentar que o protege.

Mas não deve este deputado açoreano ter receios. A menos que existam dois pesos e duas medidas, o seu futuro político está assegurado.

Como precedente, veja-se o que sucedeu com Ricardo Rodrigues, então deputado à Assembleia da República pelo Partido Socialista, acusado de ter furtado dois gravadores de som durante uma entrevista a um jornal e sob o olhar irrefutavel da câmara de vídeo desse jornal. Três anos depois e passada que foi a agitação mediática e política, regressou à terra natal e foi eleito por duas vezes presidente da câmara de Vila Franca do Campo.

O problema não está na integridade dos políticos: está na parvoeira de quem os elege.


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terça-feira, 14 de janeiro de 2025

Verso e reverso



 

Sabemos que a imagem é rainha nos tempos de hoje. Talvez mesmo imperatriz.

Mais ainda: sabemos que a imagem – com os seus significados e significantes – é bem mais antiga que a escrita, e que nós hoje quase que veneramos essas antiguidades.

Mas a história da imagem não é nem linear nem pacífica. O seu peso mágico ou místico nas diversas culturas foi variando com os tempos. Tal como as associações que cada uma e cada individuo fazia ou faz à imagem ou ao que ela representa.

Antes de endeusarmos a imagem nos tempos que correm, talvez seja útil termos uma ideia do que ela foi no passado.

Aqui, uma transcrição de parte do artigo sobre “iconoclastia” retirado da Wikipédia (que vale o que vale mas pode servir de pista para outros estudos ou cogitações).

 

Iconoclastia ou Iconoclasmo (do grego εικών, transl. eikon, "ícone", imagem, e κλαστειν, transl. klastein, "quebrar", portando "quebrador de imagem") foi um movimento político-religioso contra a veneração de ícones e imagens religiosas no Império Bizantino que começou no início do século VIII e perdurou até ao século IX.

Os iconoclastas acreditavam que as imagens sacras seriam ídolos, e a veneração e o culto de ícones por conseqüência, - idolatria.

Em oposição a iconoclastia existe a iconodulia ou iconofilia (do grego que significa "venerador de imagem"), ao qual defende o uso de imagens religiosas, "não por crer que lhes seja inerente alguma divindade ou poder que justifique tal culto, ou porque se deva pedir alguma coisa a essas imagens ou depositar confiança nelas como antigamente faziam os pagãos, que punham sua esperança nos ídolos [cf. Sl 135, 15-17], mas porque a honra prestada a elas se refere aos protótipos que representam, de modo que, por meio das imagens que beijamos e diante das quais nos descobrimos e prostamos, adoramos a Cristo e veneramos os santos cuja semelhança apresentam.

Em 730, o imperador Leão III, o Isáurio proibiu a veneração de ícones. O resultado foi a destruição de milhares de ícones pelos iconoclastas, bem como mosaicos, afrescos, estátuas de santos, pinturas, ornamentos nos altares de igrejas, livros com gravuras e inumeráveis obras de arte. O iconoclasmo foi oficialmente reconhecida pelo Concílio de Hieria de 754, apoiado pelo imperador Constantino V e os iconófilos severamente combatidos, especialmente os monges. O concílio não teve a participação da Igreja Ocidental e foi desaprovado pelos papas, provocando um novo cisma. Posteriormente a imperatriz Irene, viúva de Leão IV, o Cazar, em 787 convocou o Segundo Concílio de Niceia, que aprovou o dogma da veneração dos ícones, e recuperou a união com a Igreja Ocidental. Os imperadores que governaram após ela – Nicéforo I e Miguel I Rangabe – seguiram com a veneração. No entanto, a derrota de Miguel I na guerra contra os búlgaros em 813, levou ao trono Leão V, o Arménio, que renovou a iconoclastia.

Durante a regência da imperatriz Teodora, o iconoclasta patriarca de Constantinopla João VII foi deposto, e em seu lugar erguido o defensor da veneração Metódio I. Sob a sua presidência em 843, ocorreu outro concílio, que aprovou e subscreveu todas as definições do Segundo Concílio de Niceia e novamente excomungou os iconoclastas. Ao mesmo tempo foi definido (em 11 de março, data da reunião do concílio em 843) a proclamação da memória eterna da ortodoxia e o anatematismo contra os hereges, ainda realizada na Igreja Ortodoxa atualmente como o "Domingo da Ortodoxia" (ou "Triunfo da Ortodoxia").

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Ao colocarmos hoje no lugar de quase deus a actividade que fazemos (imagem, fotografia), convém que tenhamos a noção que tudo isso já foi pensado pelos antigos e que o verso e o reverso já foi ponderado.

Talvez que o problema da actual sociedade de informação (imagem incluída) seja a dificuldade de criarmos algum pensamento realmente original.

 

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domingo, 12 de janeiro de 2025

Dúvidas




E a pergunta é:

O que estarão eles a fotografar?

 

Pentax K1 mkII, Tamron SP Adaptall2 90mm 1:2,5


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quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

identidades




Ficam, uma vez mais, o mesmo tipo de testemunhos de gente que em momentos de desespero têm que abandonar tudo. Ou que lamentam não ter podido salvar.

Em tendo que escolher o que salvar, uma das primeiras opções são fotografias. Em paralelo com documentos.

Ouvimos isto de quem foge de incêndios devastadores na europa, na américa, na oceania. E de quem arrisca a vida atravessando oceanos, fugindo de guerras ou fome.

Quem somos e de onde vimos. A pergunta de milénios, agora suportada pelas técnicas contemporâneas.


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quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

Velharias e histórias




Gosto de adquirir artigos usados presencialmente, mesmo que anunciados na web.

Confronto o interesse no artigo, o aparente estado de conservação e a minha disponibilidade económica e se as três linhas coincidirem algures num ponto combino um encontro.

Neste, e para além da certeza sobre o artigo e o seu estado, tenho a vantagem de poder conversar com quem vende. Fico a saber um pouco sobre o seu relacionamento com a fotografia e a história daquele artigo. Foi o caso.

Este visor em ângulo recto estava anunciado e com uma localização a que eu podia aceder. O preço era particularmente bom e, apesar de já ter um, este é anterior, com características diferentes. E, nas primeiras Pentax, o modelo actual não funciona e vice versa. Encontrámo-nos.

Em estado impecável, incluindo o estojo e a embalagem original, fiquei a saber que terá sido comprado por uma senhora, agora com mais de 80 anos, algures nos inícios dos anos ’70, ou no Japão ou numa das colónias africanas portuguesas, pois ela viveu por lá.

Mais tarde ofereceu-o, junto com três filtros Pentax (com os quais também fiquei) a uma amiga, mãe de quem estava a vender o conjunto.

Para além destes factos, é interessante perceber como estes itens atravessaram três continentes e três gerações e que chegam agora ao século XXI em tão bom estado de conservação. Praticamente novos. Naqueles tempos o equipamento fotográfico não apenas era caro como era algo para ser conservado por quem lhe tinha estima.

Sobre grande parte das peças que possuo tenho uma história. Ou porque vivida em primeira mão ou porque me a contaram. E das que me foram contadas, de algumas tenho dúvidas da sua veracidade. Ou porque inventadas para facilitar o negócio e inflacionar o preço ou para ocultar uma origem mais obscura.

Em qualquer dos casos, todas essas histórias dão um sabor especial ao que tenho aqui por casa.

 

Pentax K1 mkII, Tamron SP Adaptall2 90mm 1:2,5


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