terça-feira, 15 de outubro de 2019

Duas imagens




Em dois dias consecutivos publiquei estas duas imagens. A de baixo primeiro, no dia seguinte a de cima.
Ambas são imagens especiais:
A de baixo pelo tratamento de luz, pela forma como os dois copos são apresentados, pela invulgaridade de se ver uma imagem de um copo partido. Fi-la apenas porque me apeteceu, sem mais para contar que ela mesma.
A de cima pela proximidade com que o assunto é mostrado que, não sendo nada que qualquer cientista ou entusiasta da astronomia não possa fazer e francamente melhor, nos mostra aquilo que todos conhecemos mas que a maioria não tem como assim registar.
Uma é singular no conteúdo e de difícil leitura ou interpretação, a outra inequívoca no conteúdo e de leitura imediata.
O que as diferencia também ou principalmente, sem sombra de dúvida, é que a de cima é uma fotografia para ser exibida na net, a segunda nem um pouco. Exactamente pela facilidade ou complexidade de leitura ou interpretação.
Dúvidas haja sobre isto, perdem-se com o tipo e a quantidade de reacções de quem as viu: quase nenhuma na de baixo, umas quantas mais na de cima.
Prende-se isto com vários factores:
À uma, pelo tamanho com que são vistas. Boa parte do actual consumo de redes sociais acontece em dispositivos moveis, de reduzido tamanho, não permitindo aperceber os detalhes de uma imagem complexa;
Por outro lado, uma imagem de difícil percepção obriga a usar de tempo, caso desperte interesse, na sua interpretação. E tempo é o que pouco há na net em geral e nas redes sociais em particular. Por cada imagem que vemos, entram uns largos milhares. E não queremos perder nenhuma. Ver, ver, ver, mais, mais, mais, são as regras de quem navega na net.
Temos, assim, que o fazer de imagens para a net, se queremos que aconteça alguma reacção (mesmo que negativa) há que simplificar o que se exibe, sem constrangimentos ao vagar do olhar nem detalhes pouco explícitos.
E se isto até pode ser “divertido”, para quem se ponha a matutar na relação produtor/consumidor de fotografias, tem um lado perverso:
Ao criar-se o hábito de simplificar as imagens, com o objectivo de obter reacções, pode-se correr o vício de se ganhar o vício mental de só assim fotografar. De não atrair o olhar do fotógrafo assuntos mais complexos visualmente. Um pouco na fotografia como na escrita “netiana”, com os seus ícones, emojis e abreviaturas.
É bom que se saiba, ao fotografar, em que condições o trabalho será “consumido” e adaptar o que queremos transmitir ao suporte final. Não apenas ao tamanho com ao tempo que sabemos que o espectador irá dedicar ao que vê. E não nos deixarmos levar pelo facilitismo do consumo, mas antes fazer o queremos fazer, deixando um pouco de parte as opiniões de terceiros.

Os meus cinco cêntimos sobre um tema que vai muito para além da fotografia, do consumo e das novas tecnologias.



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