sábado, 30 de junho de 2018

Liberdade




“Posso discordar do que dizes, mas bater-me-ei para que o possas dizer”.

Não sei se a citação estará textualmente correcta, nem sei quem o terá afirmado. O certo é que concordo com ela até ao limite: A liberdade de expressão é algo que não podemos – eu não posso – limitar ou coarctar, seja em que circunstâncias forem.
E dois motivos há para tal:
À uma, porque se admitirmos que se pode impedir alguém de dizer o que pensa teremos que admitir que podemos ser impedidos de dizermos o que pensamos. Não gosto que me impeçam de falar. (Argumento egoísta)
Depois, porque o acto censório seguinte será o de impedir pensar. E isso, sabemos, é um dos maiores desejos de qualquer ditador ou aspirante a tal. (Argumento político ou filosófico)
Mas já me faz sair do sério que algumas pessoas ponham ou tentem por em prática o que dizem ou pensam, transformando-se em centro do universo e reduzindo os demais a meras existências em seu proveito.
Lido regularmente com gente com quem discordo de pensamento. Tento, na medida do possível, ser urbano na troca de argumentos, ainda que, por vezes, a conversa descambe na ignorância: aumento de volume de voz.
Mas quando vejo algumas dessas pessoas a colocarem em prática o que pensam, ignorando os que os cercam em prol dos seus interesses, por vezes mesquinhos, já não consigo tolerar. Mesmo quando as suas acções não se reflectem directamente na minha pessoa.

Eis um exemplo:
Recentemente tive que agir numa acção em tribunal. Como testemunha.
Foi-me solicitado por uma das partes e anuí. Porque sabia da justeza da sua pretensão e porque a justiça, no seu conceito abstracto, é cidadania e devo ser cidadão por completo, participando quando solicitado.
Tal como eu, outros foram convocados para a audiência, depois de terem acedido a pedido da parte em questão.
Pois uma dessas pessoas achou que, num dos dias de convocatória, não deveria comparecer. Não estava doente, nem distante, nem tinha alguém dependente de si. Apenas argumentou que o seu chefe não achava conveniente para o serviço a sua ausência.
Por sorte para todos, e na sequência de uma reunião de conciliação antes do julgamento, a audiência não se realizou, nem se notando a sua não comparência.
Não gostei. Nem um bocadinho!
Não apenas não cumpriu com o seu dever de cidadão – colaborar com a justiça – como não honrou o seu compromisso voluntário junto de quem lho pediu.

Temos tido, eu e esta pessoa, diversa conversas ao longo dos anos em que os argumentos estão diametralmente opostos. Irredutíveis, muitas vezes. Mas é legítimo – e saudável – a não concordância e o ventilar ideias.
Mas, depois deste episódio, isso não se repetirá.
Para além da urbanidade que se impõe e dos deveres profissionais, não mais trocarei ideias – ou piadas ou apartes ou outro tipo de convívio – com quem não cumpre os seus compromissos voluntários, prejudicando terceiros, apenas porque socialmente não é “recomendável”.

By me

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