terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Horizontal



A questão da fotografia recorrendo ao enquadramento integral e fazer disso um estilo de imagem, é velha.
Não querendo entrar em polémicas, entendo que é pouco prático e que a maior parte das pessoas não o usam. E, em democracia, a maioria tem razão.
O problema levanta-se, desde logo, porque raros são os laboratórios que imprimem integralmente as imagens que lhes entregamos. A menos que sejamos assertivos naquilo que pedimos. E como os formatos de papel standard não são consentâneos com os formatos das câmaras, algo será “cortado”, na horizontal ou na vertical.
Em seguida, temos que a imagem original raramente é vista. Exceptua-se o diapositivo (ou slide). Todo o processo digital implica converter a imagem formada sobre o sensor em impulsos eléctricos, estes em códigos digitais, estes em impulsos eléctricos que, por sua vez, serão transpostos para o papel ou para um ecrã. Em tudo isto, há sempre intermediários, automáticos ou não, que alteram ou mesmo subvertem o resultado da passagem da luz através da objectiva.
Considerando tudo isto, o uso de editores de imagem que acrescentem, retirem, ajustem, melhorem aquilo que o fotógrafo quis fazer aquando da obturação é aceitável.
Diria mesmo que recomendável, quando não conseguimos nessa altura aquilo que queremos mostrar. Ou porque nos falhou qualquer detalhe técnico ou porque é essa alteração que irá fazer passar a mensagem ou sentimento que se quer.
É exactamente por isso, por ser possível e por ser recomendável, que me incomoda, me faz saltar a tampa, me faz mesmo evitar ver as imagens que têm o raio do horizonte torto. Muito principalmente quando esse horizonte é no mar.
Sabemos que a linha do horizonte não é uma recta mas antes uma curva, já que o planeta é quase esférico. Mas estar o mar a tombar para a esquerda ou para a direita… Não só denuncia que esse detalhe não foi considerado na tomada de vista como também não foi visto no tratamento posterior.
Claro que o mar pode estar torto propositadamente. Interpretação subjectiva sobre um qualquer assunto. Infelizmente, imagens dessas serão menos que 0,0001% de todas as fotografias que têm o mar torto.

E, para aqueles que lêem este meu desabafo meio cáustico, fica uma pergunta: aceitam ter em casa, ou numa exposição, um quadro pendurado ligeiramente torto? Ou está direito ou está assumidamente de lado.

Ver um quadro assim, na parede, dá vontade de o ir endireitar. Tal como dá vontade de endireitar o mar descaído de certas fotografias.

By me

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