segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Dados




Hoje é dia europeu de protecção de dados. E não, não me refiro a estes, mas antes aos dados sobre cada um de nós, que andam desbaratados e ao deus dará.
Há uns anos, e em tom de brincadeira, decidi fazer uma experiência: com base nas poucas informações que tinha sobre uma pessoa com quem conversava na web e que residia no Chile, tentei obter informações a seu respeito. Sem sair da minha cadeira e sem quebrar nenhuma segurança de nenhuma base de dados. Assustador, mais ainda se pensarmos que, à época, o Facebook ainda não existia.
Obtive fotografias, moradas, contractos, números de identificação, parentescos… Tudo isto através do que se encontrava disponível nas empresas com quem essa pessoa tinha relações, sites institucionais como turismo e agências internacionais. Sem cometer num crime de invasão de privacidade nem intrusão em locais privados. Até porque não sei como quebrar seguranças nem encontrar “portas das traseiras”.
A maior parte de nós não se preocupa com estas coisas. As bases de dados e a utilização dos serviços electrónicos parecem facilitar-nos a vida e reduzir custos reais e ecológicos. Parecem apenas.
Numa notícia televisiva recente, em breve todo o país estará abrangido por receitas electrónicas, na sequência de um projecto-piloto bem sucedido. Neste sistema, deixará de existir a receita médica em papel: o tratamento é inscrito numa base de dados e o doente só tem que se apresentar numa farmácia com o seu cartão de utente para obter o medicamento.
Parece cheio de bondades e virtudes este sistema. No entanto…
No entanto consigo antever os jogos de bastidores por parte de grandes empresas, bem como de companhias de seguros, a querer saber que a tratamentos foi sujeito determinado individuo que se candidata a um emprego, promoção ou seguro de saúde. Ou, ainda, um político a querer “descobrir a careca” ao líder adversário. Ou ainda os jogos de influências por parte das empresas produtoras de medicamentos, ao saberem que certo médico prescreve mais deste que daquele fabricante.
Bastará, para que tudo isto seja mais que pessimismo, que haja interesse em quebrar seguranças de informação. Coisa que sabemos ser relativamente fácil para quem saiba do ofício.
As informações privadas sobre cada um de nós andam por aí, queiramo-lo ou não. Algumas são voluntariamente fornecidas, as mais das vezes com uma sobredose de ingenuidade: redes sociais, inquéritos de porta-a-porta ou de rua, conteúdos de contractos comerciais…
Outras são-nos impostas, por vezes rudemente. Os trajectos feitos ao abrigo da “via verde” ou dos passes sociais ficam registados em mãos privadas, as câmaras de vigilância super abundam, guardando cada rosto e gesto em público, e até a simples compra de um artigo ou serviço, com a obrigatoriedade de factura, deixa registo em bases de dados permeáveis.
Não creio que Orwell tivesse imaginado tudo isto indo tão longe. Ou mesmo que a IBM europeia e ao serviço do regime Nazi e do controlo de Judeus, sonhasse sequer estender os seus serviços a todos os seres humanos desta forma.

Quando proteger os seus dados, proteja-os mesmo.

By me 

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