quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

A moedinha




Nunca encontrei dinheiro na vida!
Excepção feita àquela vez em que fui dar com uma nota de mil escudos muito mal tratada no bolso das calças, depois de lavadas. Mas isto não conta, já que mais ninguém usa as minhas calças e terei sido eu mesmo a lá a deixar.
Mas aquele “Achar”, de ir na rua e encontrar notas ou carteira, não terem nenhuma indicação de dono e, por razão de bom-senso, poder dizer “Já ganhei o dia!”, isso nunca me aconteceu.
Houve também aquela outra ocasião em que, num passeio pedestre na serra de Sintra, encontrei um Bilhete de Identidade. Era de um rapaz, de uns 14 ou 15 anos, não recordo bem e, no regresso, fui à esquadra de polícia entregá-lo, que lhe haveria de fazer falta.
A senhora agente que me atendeu olhou para mim, para o documento de um lado e do outro, para mim de novo e perguntou:
”E onde está o resto?”
Consegui ser educado e não permitir que a minha boca proferisse os impropérios que teimavam em querer sair. Mas sempre lhe disse uma ou duas das minhas que a deixaram tão branca quanto as divisas que ostentava nos ombros. E saí! Espero que tenham feito chegar o BI ao seu dono.
Mas, encontrar dinheiro, de algum valor, ontem foi uma estreia!
Estava ali, um tudo ou nada brilhante e solitária, esta singela moeda de um cêntimo, na plataforma de embarque dos comboios cá do meu bairro suburbano.
Ainda olhei em redor, não fora tratar-se de uma daquelas partidas em que a moeda está colada ao chão e, um pouco ao lado, alguns brincalhões se rebolam a rir com os incautos. Mas nada dava indícios de tal.
E fiquei à conversa com os meus botões:
“Se a minha sorte não foi suficiente, até hoje, para encontrar dinheiro perdido na rua, não vou gastar o meu quinhão dela com esta moeda de um cêntimo. Quando a sorte me sorrir, neste campo, será de orelha a orelha e com os dentes todos!”
E deixei-a lá ficar, trazendo, em contra partida, a sua imagem.
Acontece que a sorte, quando olha para mim, mostra-me uma expressão digna de uma tarântula com uma crise hepática. Assim tem sido e suspeito que continuará a ser, pelo que não conto ficar rico com o que encontrar no chão.
A minha única dúvida é se a fotografia que aqui vêem, bem como este texto que a acompanha, não valerão tanto quanto a moedinha que recusei apanhar.

By me

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