terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Obscenity 2


I am sorry, but I will not translate this text, even if I have written the first one on this subject in English. Mainly because I got up at 3.30 am so that I could be at work on time. Please read the previous post and you will find there, briefly, my ideas about this.



Acredito que não me tenha feito entender com o texto publicado no post anterior. Vejamos se consigo explicitar as minhas ideias.

Tenho para mim que não há objectos bons ou maus. O que poderá ser classificado será o seu uso, dado pelos humanos que com eles interajam.
Donde, entendo não haver fotografias ou pinturas boas ou más. Neste caso o que poderá ser classificado será a interpretação ou leitura que delas se façam. As mensagens que possam fazer passar.
Donde, a fotografia ali apresentada não é classificável por si mesma mas tão só a mensagem que transmite ou aquilo que mostra. E, do meu ponto de vista, a guerra é algo de condenável, seja qual for a perspectiva que dela se possa ter. Não apenas é a imposição da vontade de alguém sobre outrem como os seus objectivos são alcançados se o vencedor infringir danos sobre o vencido. Por outras palavras, havendo mortes de seres humanos. Infligidas por outros seres humanos.
E isto eu entendo como pior que mau: o pior que a Humanidade pode fazer!
Na fotografia exibida lá não consigo ler nenhum tipo de censura ao acto bélico. Talvez que, antes pelo contrário, se possa ler um acto de heroísmo, em que, apesar de à sua frente estar a morrer gente, os restantes combatentes continuam na sua macabra actividade.
Entendo também não haver fotografias, ou fotojornalismo, isento! O simples facto de se obturar num dado momento, e não antes ou depois, depende sempre, e sempre, da opinião que o fotógrafo, ou fotojornalista, tem da acção que à sua frente se desenrola. Seja essa opinião pró ou contra esses factos. Acrescentem-se a perspectiva e o enquadramento, também eles resultado das opções técnicas, estéticas e de conteúdo, e teremos que todas as fotografias contêm mensagem e interpretação do fotógrafo. Ou do fotojornalista.

Quanto à pintura exibida, pouco terá, ela mesma, de pornográfica.
Sendo que Coulbert terá sido um dos percursores do realismo em pintura, este quadro será uma quase-fotografia. Dados os detalhes e a pose que nele encontramos.
Repare-se ainda que a mulher assim representada não está a agir. Não há ali um movimento ou gesto de defesa ou exibição. Mais não é que um corpo nu deitado.
Acontece, em contrapartida, que a posição mostrada será incomum de ver nas representações pictóricas. Por convenção ou tabu social, o sexo é escondido quer por vestes quer por posições corporais.
Quem quer que possa observar uma mulher nesta posição ao vivo, pertencerá a uma de poucas categorias: Alguém ligado a actividade de saúde, quer para tratamento quer para ajudar a um parto, ou um homem que se prepare ou tenha terminado o acto de amor – ou prática de sexo, se preferirem. Mas como a maioria das pessoas não pratica actos médicos ou apara bebés no nascimento, aquilo que vêm aqui reduz-se ao sexo. Aquilo que se pratica na intimidade, que todos praticam e que não o admitem que não seja por fanfarronice.
Acontece que o autor chamou a este quadro “O nascimento do mundo”, numa clara alusão à origem de cada ser humano. E que, para além de acontecer biliões de vezes, é das coisas mais belas da vida. E reverenciada ao longo da história, de todas as formas e em todas as culturas.
Qualquer maldade que possa existir neste quadro, diria eu, existe mais na mente de quem o vir e interpretar que naquilo que ali está expresso inequivocamente.
Acrescente-se, do ponto de vista da mensagem do autor e ao que me foi dado saber, que o pintor procurou, com temas e técnicas, abalar a sociedade, combatendo conceitos burgueses de então, os chamados “vícios privados, públicas virtudes”. Também soube, na pesquisa que fiz em torno deste quadro, que quando foi exibido foi fortemente criticado, pela técnica realista e pelo assunto tratado. O que significa que o objectivo do autor foi conseguido. Então e, ao que parece, hoje. O que poderá atestar da sua qualidade enquanto obra de arte.
Pela parte que me toca, também não o aprecio particularmente. Não o compraria para ter em casa nem me deteria por muito tempo a vê-lo onde quer que estivesse exibido. Mas não deixo de reconhecer que o seu autor conseguiu os seus intentos.

Para finalizar este tema, pelo menos por agora nestas linhas, gostaria de referir que o que por mim foi criticado ou elogiado no texto publicado não se refere à bondade ou maldade da fotografia ou da pintura enquanto objecto ou enquanto veículo de mensagem.
O que me incomodou no artigo de jornal onde li os factos relatados foi o acto censório por parte de autoridades policiais, supostamente apoiado por instituições judiciais e pela letra da lei.
Que entende como reprovável e passível de ser escondido do olhar do público o corpo humano em poses naturais, mas que permite impunemente o divulgar do macabro da guerra e da morte do ser humano por balas ou baionetas.
Acredito que estes agentes da ordem passariam inconsequentemente se na capa do mesmo livro estivesse “Guernica” ou “3 de Maio”, imagens retratando fiel ou subjectivamente, a barbárie da guerra.
Continuo entendendo que as imagens da morte de alguém às mãos do seu semelhante sejam uma Obscenidade. Não pela forma mas pelo conteúdo.


Texto: by me
Imagem: “3 de Maio”, by Goya, “A origem do mundo”, by Courbet, “clipart” algures na web, edit by me