sábado, 24 de janeiro de 2009

The show must go on!


O meu primeiro trabalho profissional em fotografia foi no teatro. Ou, de outra forma, o meu primeiro trabalho pago em fotografia.
Tratava-se de uma companhia que já existia antes da revolução e cujas peças e trabalhos tinham andado a fintar a censura e a polícia política. Em acabando ambos, manteve o conceito de “Teatro de intervenção”, desta feita sem as peias censórias de então.
Os anos que para eles trabalhei, já em democracia entenda-se, foi para mim um manancial de aprendizagens, que não apenas em fotografia: o género humano, o audiovisual, o teatro, a arte, o que é ser criativo usando mensagens à sociedade e viver disso.
Acontece que, passados quase dez anos sobre o 25 de Abril, o público já não tinha grande apetência para assistir a teatro em que, para além da função lúdica, também o levasse a pensar. Tendência esta que se manteve e tem vindo a aumentar, diga-se em abono da verdade.
Assim, havia dias de representações em que havia mais gente em palco a representar que sentados na plateia a ver fazer. Por vezes, era confrangedor estar ali, pensando que era da receita da bilheteira que eles viviam.
Apesar disto, nunca se suspendeu uma representação em que houve um só que fosse espectador. E o empenho de quem dava corpo e cara às personagens nunca esmoreceu, pese embora haver dias de menos ânimo.
Deixei de trabalhar para eles ao fim de três anos, levado pelo desejo de enfrentar novos desafios fotográficos. A companhia encerrou passados bastantes anos, por morte da directora e encenadora.
Do edifício resta uma ruína que em breve o camartelo e as políticas urbanísticas do município reduzirão a coisa nenhuma. Mas o que nunca se apagará ou enterrará são as memórias de quem frequentou aquela plateia e de quem representou naquele palco. Tal como aquilo que com eles aprendi.
E, neste momento em particular, recordo um aspecto fundamental:
A comunicação e a expressão criativa têm que se manter a todo o custo. E, enquanto houver uma só pessoa que queira receber o que há para contar, o espectáculo continua. E mesmo para além desse ponto!
E se esta não fosse a centelha motivadora, ou uma delas, quantos pintores, escritores, compositores, teriam desistido da sua actividade, por o seu trabalho não ser reconhecido na sua época?
Hoje, temos a herança cultural que temos! Que é das coisas boas que recebemos e que podemos e devemos conservar e aumentar para os vindouros!


Texto e imagem: by me

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