sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Águas passadas


No site do Instituto de Meteorologia pode ler-se, com link de chamada na página de entrada, o “Balanço climatológico preliminar do ano 2008”.
Porque é pequeno, transcrevo-o na integra:

No ano de 2008, em Portugal Continental, a média das temperaturas média, máxima e mínima do ar foi inferior ao valor médio de 1971-2000. Durante o ano apenas nos meses de Janeiro, Fevereiro, Abril e Junho os valores da temperatura média foram superiores aos respectivos valores normais, nos restantes meses foi inferior. Referência para as anomalias positivas da temperatura máxima e mínima nos meses de Janeiro e Fevereiro e para a anomalia negativa da temperatura mínima no mês de Novembro.
Os valores da quantidade precipitação foram inferiores ao valor da normal 1971-2000 classificando-se como um ano muito seco a seco. Apenas nos meses de Abril e Maio os valores de precipitação foram superiores aos valores médios; nos restantes meses foram inferiores em particular em Outubro, Novembro e Dezembro. O ano de 2008 registou o 8º valor mais baixo do total de precipitação anual desde 1931 (2005 é o ano mais seco).
O ano termina em situação de seca, em 31 de Dezembro de 2008, o índice de seca apresenta: seca fraca 68% do território, seca moderada 31% e seca severa 1%.

Surpreendidos? Espero que não muito, já que o que ele nos conta fomos nós constatando ao longo do ano: choveu pouco!
Mas teremos algum motivo para estar surpreendidos: Os media de nada falaram, em nada o citaram, dele não fizeram reportagem, referencia ou o que quer que fosse.
Indo mais longe, um jornalista influente, sabendo do seu conteúdo, quis ir trabalha-lo. Mas em constatando que tinha já mais de uma semana de publicado, entendeu que era coisa velha e desinteressou-se.
Mas será que o que lá consta não é importante, seja qual for a sua idade? O facto de se referir que o país se encontra em situação de seca (fraca, moderada e severa) não é relevante?
É que, entre outros aspectos, se pode ver (e vir a ser confirmado pelo balanço definitivo a publicar) que as barragens se encontram com níveis bem mais baixos que o habitual nesta época do ano. E as nascentes que, em terras serranas ou não, corriam abundante e livremente, estão agora tímidas e bem mais difíceis de encontrar. O que é sintomático da quantidade de água que se encontra no subsolo. Aquela mesma água que usamos nas torneiras para beber e cozinhar. Aquela mesma água que faz falta para que os vegetais cresçam e, deles, os animais se alimentem. Nós nos alimentemos! Aquela mesma água que faz falta em toda a cadeia alimentar!
Um assunto destes, com uma semana de existência, é velho. As suas repercussões serão constatadas bem lá mais para o verão. Quando for público e notório que as colheitas não foram tão abundantes quanto se desejava e os preços o mostrarem. Quando o coberto vegetal natural não for suficientemente verde para suster os incêndios estivais. Quando, pela falta desse mesmo coberto natural, o que existir for levado pelo fogo e a terra fértil da superfície arrastada por ventos e eventuais enxurradas para os leitos dos rios, deixando por menos boa aquela que já foi cultivável.

Nessa altura, e por falta de outros motivos, virão a lume noticioso estas e outras questões. Reportadas por jornalistas, mostradas por imagens, comentadas por especialistas. E se dirá que o planeta está a aquecer, pôr-se-ão as culpas nos gases de efeito de estufa e se recomendará que se economize a água nas torneiras e regas.
A mesma água que, faltando então, escasseia já por termos tido um ano de seca. E sobre o que se fecharam os olhos jornalísticos porque, com uma semana de vida, o balanço já é coisa velha!


Texto e imagem: by me

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