Uma das coisas que me custa é ver o percurso, as ideias e os
comportamentos de tantas pessoas.
Nascidas de famílias com poucos recursos, tiveram juventudes
difíceis. Os pais esforçaram-se até ao limite para que estes pudessem ter uma
vida melhor, que nem sempre conseguiram.
Entrando no mundo do trabalho, protestaram contra as
condições laborais, os contratos precários, os horários intermináveis, as
prepotências de chefes e patrões.
Mas assim que conseguem subir um degrauzinho que seja na
escada da sociedade, trabalho ou outra, transformam-se e são tão ferozes para
com os que ficaram para trás como aqueles contra quem protestaram na véspera. Nos
actos e nas palavras. Nos desenhos de sociedade e na disciplina da hierarquia. Mais
papistas que o papa!
Sabemos, porque a experiência assim nos ensina, que essas
pessoas dificilmente irão mais longe que serem o chefe maior do pessoal menor. Os
donos da chave da retrete. Os escravos feitos feitores. Aqueles que os seus
iguais de origem odeiam porque algozes nas suas misérias. Os bufos. Os lambe-botas.
Os sempiternos frustrados porque, por muito que se esforcem, nunca serão mais
que isso mesmo: os trastes da sociedade.
São estes, lamentavelmente, que este domingo serão o grosso
dos votantes naqueles que se opõem à igualdade entre seres humanos. Aqueles que
defendem como natural que muitos durmam em cobertas de serapilheira enquanto
alguns poucos dormem em lençóis de seda.
No dia da Mulher, temo pelo resultado destas eleições.
By me
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