sexta-feira, 29 de março de 2024

Avisos




Ter o famoso 28, elétrico da Carris, só para nós, a meio de uma tarde de sexta feira santa, com a cidade invadida por turistas espanhóis, não é para qualquer um! Há que conhecer os cantos à casa ou, se preferirem, as rotas dos carros elétricos.

Em vez de embarcar nos “Prazeres”, onde termina habitualmente, cruzarem-lhe a porta no largo da Estrela, onde alguns invertem a marcha. E não esperar por ele na “ilha”, bem visível entre a basílica e o jardim, ambos da Estrela, mas mais de lado, no pequeno jardim onde a inversão é feita.

A viagem não foi de turismo mas sim para me deslocar a um ponto específico da cidade, mas foi divertido ir vendo os olhares dos turistas na rua, trocando sorrisos e acenos com os que, a bordo, iam espreitando pelas janelas nas ruas e vielas por onde seguíamos.

Felizmente nenhum deles conhece bem a cidade, ou haveriam de soltar valentes gargalhadas ao verem o cartaz de “Cuidado com os carteiristas” ao descermos a calçada da Estrela e passarmos mesmo ao lado da Assembleia da República. Faz sentido, o aviso.

Mas fará bem mais sentido se colocarem cartazes de 3 por 10 metros ali por perto, nas diversas ruas que ladeiam aquele edifício.

Pentax K1 mkII, Pentax-M 35mm 1:2

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terça-feira, 26 de março de 2024

Potências




Creio que quase todos os que se interessam sobre o fazer fotografia se interessaram também por objectivas potentes.

O conceito de potente será coisa variável. Variável em função das tecnicas de construção de objectivas, variável em função das opções de cada fotógrafo. Eu não sou diferente.

Esta é uma Tokina AT-X AF 400mm 1:5,6, comprada algures em meados dos anos 90.

A minha intenção ao compra-la não foi tanto o ir buscar lá longe um detalhe, ainda que a tenha usado para isso.

A principal utilização foi o “andar à caça” de insectos (abelhas ou borboletas) em parques e jardins públicos na época própria.

Acontece que a distância mínima de foco de origem é de dois metros e meio. Demasiado longe para o que queria fazer.

Assim usei-a para fotografar com aneis de extensão, tal como havia feito com uma outra que tinha e tenho. Com o incómodo (para muitos) de perder a possibilidade de usar o auto-focus. Coisa que não me afecta por demais, já que tenho o hábito de focar manualmente. E com abelhas ou borboletas que não ficam quietas por muito tempo, há usar de estratégias para obter resultados satisfatórios.

No entanto haverá que considerar que a curtas distâncias, ou nem tanto, uma objectiva que tem um ângulo de visão de 6º, imagens pouco estáveis são faceis de acontecer. A minha solução foi, ou é, quando vou assim fotografar usar de um monopé para estabilidade. Bem mais flexivel que um tripé, tanto na colocação como na proximidade ao assunto.

Quanto à qualidade da imagem, nunca me deixou por demais satisfeito. Ou porque não a tem ou porque não soube eu tirar partido daquilo que estava a usar. Ideal mesmo seria fotografar com alguma topo-de-gama desta classe para poder fazer comparações.

Pentax K1 mkII, Tamron SP Adaptall2 90mm 1:2,5

By me

segunda-feira, 25 de março de 2024

PLINK




Tinha comprado a Pentax K100D há umas duas ou três semanas. A minha primeira Reflex Digital.
Saíra de casa para ir tomar um café e, por qualquer motivo, tinha-a pendurada no pescoço e não no ombro como é meu hábito. 
De súbito oiço um “plink” violento vindo do meu ventre. Como nada me doía, olhei para a câmara. Estava o filtro neste estado!
Doeu-me a alma! Coisa nova assim estragada! Depois de pensar um pouco, acabei por perceber o que se passara: uma pedrinha, que seria pequena, saltara de sob a roda de um carro ao passar e acertara mesmo em cheio na objectiva.
Por sorte, tinha e tenho o hábito de usar um filtro de protecção nas objectivas. Se assim não fosse, teria sido a objectiva a sofrer os danos.
Este é um dos argumentos a favor do uso de filtros de protecção: protegerem!
Não apenas de situações como esta, muito raras que são, mas também da água, das poeiras, de pancadas acidentais. E, igualmente importante, de riscos ínfimos que acontecem na sua superfície quando fazemos limpeza. Não damos por eles mas existem e, de algum modo, afectam a qualidade da imagem.
Os detractores do uso de filtros UV argumentam e com razão, que qualquer filtro que se coloque em frente da objectiva, por muito bom que seja, altera sempre a imagem. Tal como cumpre a sua função de filtrar para da luz, no caso os ultra-violetas, alterando a fidelidade da cor resultante.
Assm, há quem argumente com frevor o uso de filtro, tantos quantos, com o mesmo frevor, argumentam contra.
A minha posição, tão válida quanto a oposta, é simples: a menos que não confie no estado de consevação do filtro, uso-o. A excepção é em estúdio, onde tudo acontece com mais calma e onde a probabilidade de acidentes ou sujeira é muito pequena.
Por acréscimo, um alerta que me foi dado por um mecânico fotográfico há uns tempos: 
Dizia-lhe eu que todas as minhas objectivas têm um filtro colocado, mesmo as que estão guardadas. E ele avisou-me que a caixa de ar criada entre ele e o elemento frontal da objectiva pode ser propício à criação de fungos, coisa que evitamos a todo o custo. 
Pensei no que ouvira e, em chegando a casa, tomei cautelas: retirei todos os filtros colocados, mantendo apenas naquelas que tenho a uso. Em querendo usar, é só colocar o respectivo filtro.
Fiquei, assim, com quatro tipos de filtros arquivados: os UV de protecção, os específicos para usar com preto e branco, os de correção ou compensação de cor, hoje pouco usados porque o digital já permite esses ajustes, tanto na tomada de vista como na edição, e os quadrados, de acrílico ou de gelatina, com funções específicas e que raramente uso.
Claro que, para além dos filtro quadrados que são colocados usando um suporte especial, dos outros tenho vários repetidos devido à variedade de diâmetros frontais das diversas objectivas. Em alguns casos, aneis de adaptação permitem usar filtros maiores em objectivas menores, mas isso vai obrigar a mudar de pára-sol. 
Mas uma coisa é certa, e para além das posições radicais que os defensores de uma ou outra abordagem possam ter:
Seja o que for que coloquemos à frente de uma objectiva vai alterar o resultado final. As mais das vezes essas alterações são as desejadas. Por vezes temos surpresas desagradáveis.
A sugestão que posso dar, para satisfazer ambas as partes, é usar um filtro protector e, dependendo do uso que é dado, substituí-lo de quando em vez por um novo, mesmo que não se notem riscou ou outros problemas.
A fotografia uns vinte anos, foi feita com a Pentax K100D e, provavelmente, com a Tamron SP Adaptall2 90mm 1:2,5.
Hoje não a poderia fazer porque, apesar de todo o cuidado que fui tendo, o vidro acabou por cair do aro.
By me

sábado, 23 de março de 2024

Extras? Nem pensar!




Aviso: o texto é longo mas o assunto também. Para o abreviar haveria que o fraccionar e abordar várias vezes, coisa que não quero.

Muitos são os que ao adquirir equipamento fotográfico se contentam com o que o vendedor tem disponível. E se há um artigo que nem sempre está disponível é o pára-sol.

Ou porque o fabricante não o inclui na embalagem, vendendo-o como um extra, ou porque se trata de uma objectiva usada e, as mais das vezes, não acompanhada de pára-sol.

Na minha opinião é um dos erros mais comuns, tanto em amadores como mesmo em profissionais.

O pára-sol não é aquele adicional que dá um aspecto de sério a quem o está a usar. Nem é aquele objecto incómodo de usar, porque volumoso no saco ou mala. Nem aquele outro extra que temos que colocar e retirar de cada vez que trocamos de objectiva.

O pára-sol é parte integrante do sistema de captação de imagem, qualquer tipo, que previne ou limita a luz indesejada de incidir no elemento frontal da objectiva. Cujo uso é, tantas vezes, o que faz a diferença entre uma fotografia bem sucedida e uma outra que, tendo o mesmo enquadramento, perspectiva, profundidade de campo e momento decisivo, tem baixo contraste ou mesmo uns raios luminosos que tudo estragam e de que não nos apercebemos no momento em que premimos o disparador.

Tenho vários. Aliás, tenho muitos. E tenho-os porque, sabendo da sua importância, quando encontro usados à venda, trago-os. Alguns sem utilidade no momento. Ou porque não tenho a objectiva para que foi concebido, ou porque nem sequer referem o modelo ou a marca. E tem sido isso que me tem ajudado muitas vezes.

Por outro lado, e regressando à sua utilidade, utilização e acesso, os fabricantes querem vender. E os fotógrafos querem facilidade de uso. Assim, e porque o sistema de rosca frontal dá trabalho a usar para os colocar ou retirar, optaram por sistemas de encaixe rápido. Uma pequena rotação, um click e já está. Acontece que esses sistemas são, em regra, compostos de dois materiais diferentes: metal e plástico. E, com o uso, um deles desgasta-se. Em regra o plástico da pára-sol. Com a perda de fidelidade na segurança da peça.

Uma objectiva que muito usei tem esse sistema. Com o acréscimo, prático na verdade, de permitir guardar o pára-sol invertido na objectiva para arrumação e transporte. De tanto o usar, deixou de fixar com confiança, sendo frequente descair ou mesmo cair. Tive a sorte de encontrar um igual, perdido numa gaveta de uma loja de usados.

Este sistema de encaixe rápido tem uma vantagem adicional. Se se tratar de um pára-sol em formato de pétala ou, não sendo, que seja rectangular, temos a certeza de, ao colocá-lo, não ficar a cortar parte da imagem. Útil, sem dúvida. Mas desgasta-se.

Alguns fabricantes usam ou usaram de outros métodos de fixação, com aperto na estrutura da objectiva. Para garantir o posicionamento exacto, têm uma referência marcada, que deve ser respeitada. Nem sempre é e com consequências menos boas!

Apesar de tudo o acima dito, muitos são os que erradamente que dispensam o uso de pára-sol. O que lhes pode sair caro! Não apenas com imagens “estragadas” como com objectivas partidas ou batidas. Ao longo dos anos já estraguei ou parti alguns pára-sóis. Uma pancada ao passar num local mais apertado e lá está o estrago. Mas nunca parti ou estraguei uma objectiva porque desprotegida.

Claro que tudo isto é sabido por gente com experiência. E que não dispensam o pára-sol, mesmo que se trate de uma câmara rangefinder ou uma TLL, sem possibilidade de trocar objectivas.

Fica o alerta para os menos experientes: é muito mais barato comprar um pára-sol novo ou usado que comprar outra objectiva.

Pentax K1 mkII, Pentax-M Macro 50mm 1:4

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quinta-feira, 21 de março de 2024

A minorca




Ao fazer esta série sobre as minhas objectivas menores que 50mm por pouco me esquecia desta: 40mm 1:2,8 pancake.

Tenho que admitir que a sua aquisição foi um capricho. Nunca tinha usado uma, nunca tinha visto uma e as referências sobre ela não serão as melhores. Além do mais, aquilo que antecipava ser o seu ângulo de visão não me parecia ser atraente.

Mas ter uma objectiva assim pequena e sendo barata como foi... acabei por me decidir.

É engraçada, a objectiva. A visão que me fornece não me convence, como esperava. Os aneis de controlo de abertura e focagem são tão estreitos que me sobram dedos para os usar. Colocada na minha câmara principal, uma Pentax K1 mkII, quase parece não ter objectiva colocada. Mesmo numa Pentax pequena, como a MX, parece faltar qualquer coisa.

Claro que na MX ou na ME super, as câmaras assim equipadas transformam-se em câmaras de bolso, o que pode ser útil ou prático. Mas não para mim.

Foi um capricho e tenho-a como algo meio excêntrico, guardada para dias de excentricidade ou como peça de exibição. Aliás, ela é tão excêntrica que um dia, em indo ao mecânico de fotografia por outro motivo mas tendo-a na câmara e esta no ombro, ele a elogiou e acabou por me perguntar se eu não a quereria vender para juntar a outras pouco comuns que possui.

Naturalmente que fiquei com ela, qual estrelinha no céu, como se constata pela fotografia junta.

Pentax K1 mkII, Tamron SP Adaptall2 90mm 1:2,5

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quarta-feira, 20 de março de 2024

Confortos




Muitas são as discussões em torno de qual é a objectiva “normal” ou “standard”. Os argumentos são muitos, da fisiologia à técnica, do subjectivo ao histórico.  Por mim, o que mais importa é o conforto de quem fotografa com o ângulo de visão da objectiva com que está a trabalhar.

Nunca fui muito de grande angular. Por vezes recorria a uma, fixa ou zoom, só porque era a que se mais adaptava ao que estava a fazer. Mas sempre ouvi muitos e conceituados fotógrafos a defenderem as virtuosidades da 35mm. Principalmente os que fazem reportagem. Usando mesmo aquele argumento “Se a fotografia não está boa é porque não estavas suficientemente perto”. Rebatível, mas entendo-o.

Um dia vejo-me com esta 35mm nas mãos. Não foi uma escolha, já que acompanhava uma câmara que eu queria. Mas, já que a tenho vamos usar aquilo que tantos e tão bons defendem. Foi uma surpresa!

De início foi um pouco desconfortável estar com aquela primária na câmara. E só alguma disciplina e preguiça me impedia de a mudar. Porque, e por uma questão de método, saía de casa já com ela colocada. Aprender outras abordagens implica entrarmos em terrenos que podem não nos ser confortáveis.

Mas, ao fim de algum tempo, percebi que aqueles 63º em Full Frame eram, e são, muito agradáveis de usar. Tão agradáveis que, agora, é esta objectiva que tenho pronta a fotografar ao sair de casa, alternando apenas com a minha já tradicional 90mm.

Há pessoas que se vestem de acordo com a sua disposição nesse dia. Cores, formalidade, conforto... eu escolho uma objectiva.

Pentax K1 mkII, Tamron SP Adaptall2 90mm 1:2,5

By me

terça-feira, 19 de março de 2024

Exercícios




Fiz este exercício diversas vezes com diversos companheiros de fotografia:

Definimos um espaço (uma praça ou largo, uma rua, um jardim...) definimos um tempo (uma hora, duas horas) e uma quantidade de fotografias (24, 36, 72). Haveria que cumprir esses requisitos e, mais tarde, compararmos imagens e visões. Era uma forma de nos aperfeiçoarmos, tanto no fazíamos como de conhecer outras abordagens.

Tenho usado este exercício ao longo dos tempos. Muitas vezes sozinho, como forma de me aprimorar, muitas vezes em contexto formativo, com adolescentes ou adultos. Tem ele como objectivo o levar a ver bem para além do primeiro olhar, o tirar partido da luz que existe procurando outros eixos e o explorar perspectivas não tão óbvias ou imediatas mas que, de algum modo, contam aquilo que queremos contar. E, em ambiente formativo, o disciplinar o olhar e o acto fotográfico, coisa que com o facilitismo do digital se vai perdendo um pouco.

Recordo uma ocasião em que o fiz com um amigo. Enquanto eu usava a 75-150mm, ele usava a 24mm. Nada de imposto, apenas opção pessoal. As nossas preferidas.

Abordagens bem distintas ao espaço onde estávamos. Nem melhores nem piores, apenas diferentes.

Há uns tempos encontrei esta 24mm. Nunca fui muito de grande angular, mas lembrei-me deste episódio e decidi também eu tentar. Foi uma surpresa.

Aquilo que não me satisfazia na 28mm e que achava demasiado numa 14mm estava na conta certa com esta. O ângulo de visão, a perspectiva a que me leva para colocar o assunto em evidência, a “imposição” de primeiros planos quando o assunto fica distante... fiquei fã desta objectiva e hoje faz parte do conjunto mínimo com que saio de casa. Mesmo não sendo a minha objectiva predileta.

 

Pentax K1 mkII, Tamron SP Adaptall2 90mm 1:2,5

By me

segunda-feira, 18 de março de 2024

Velharias




E a pergunta para queijinho é: Reconhecem o que está na imagem?

Alguns, talvez muitos, dirão que se trata da tampa de um cesto de vime com qualquer coisa por cima.

A esses eu direi que têm algum tipo de raízes à vida no campo ou ao artesanato. Que isto, enquanto objecto de uso quotidiano, principalmente nas cidades, é algo de raro. Eventualmente a acompanhar os ranchos folclóricos.

Quanto ao que está em cima, poucos saberão. Só os mais antigos e que faziam viagens de comboio. Das longas.

Trata-se de um cinzeiro de uma carruagem da CP, que estava fixado nas paredes, junto aos bancos sob as janelas. Ou ao longo do corredor, também sob as janelas, em havendo compartimentos. Coisa que faz tempo que não está em uso, como se calcula, em virtude das leis sobre o uso de tabaco nos tansportes públicos.

Juro que não fui eu que o palmei. Teria que ser há bastantes anos. Nem tem aspecto de ter sido arrancado de onde estava. Suspeito que terá sido retirado quando vieram ordens para isso. Terão sido muitas centenas. E que talvez tenham sido vendidas a peso, sendo que algumas terão escapado à fundição. Como esta, ainda com restos de cinza seca no seu interior.

À minha mão veio parar, a troco de quase nada, numa feira de velharias e trastes velhos.

E por cá irá ficar, como memória viva dos tempos em que se fumava nos comboios, se jogava às cartas e em que galinhas, coelhos ou verduras faziam parte da bagagem. Nestes mesmos cestos.

Consigo imaginar um avental aos quadrados e um lenço numa cabeça.

By me

Duas




E se me perguntarem porque é que tenho duas objectivas quase absolutamente iguais, a resposta é simples: só comprei uma. A outra herdei-a.

A que comprei há pouco mais de 45 anos é a da esquerda e está montada na câmara onde a usei nos meus inícios; a que herdei é a da direita, deve ter sido comprada mais ou menos na mesma época, e está montada na câmara que meu pai usou.

Admito que não é uma objectiva que me agrade. Em Ful Frame, pelo menos.

Não tem um ângulo suficientemente aberto para se usar com uma perspectiva bem próxima e “agressiva” mas não tem um ângulo suficientemente fechado para ser usado no dia-a-dia como objectiva de base.

Claro que para interiores em momentos de festas familiares, eventos ou equivalentes, cumpre a sua função e, por isso, teve boa saída entre os utilizadores. Mas nunca me convenceu.

Mas com a 28mm tive uma vivência interessante, talvez não muito fácil de acontecer nos dias que correm. Creio já a ter contado por aqui:

Num outro grupo Pentax, noutra plataforma, alguém sugeriu que a sua objectiva 28mm circulasse mundo, de mão em mão, e que os seus utilizadores partilhassem o que com ela fizessem. Chamou-se ela “traveling 28” e, ao que recordo, correu os cinco continentes, tendo regressado ao seu proprietário no final do seu périplo.

Foi uma experiência interessante, tanto do ponto de vista fotográfico como humano. Ajudou, sem dúvida, que todos nós tivéssemos uma igual ou equivalente. E não posso garantir a 100% pelos demais, mas aguardei a sua chegada para fazer algumas imagens com ela e não com a minha.

Pentax K1 mkII, Tamron SP Adaptal2 90mm 1:2,5

By me

domingo, 17 de março de 2024

Extremos




Esta objectiva foi um ponto de viragem para mim: Uma Samyang 14mm 1:3,1.
Sabemos que cada fotógrafo tem um tipo de objectiva preferido. Perto da 50mm, meia teleobjectiva, grande angular... cada um tem a sua própria abordagem ao mundo que o circunda.
Durante muitos anos a 90mm foi a minha preferida. Por vezes bem acima, muito raramente abaixo.
Esta preferência prende-se, parece-me, com dois factores: personalidade e deformação profissional.
A minha carreira foi a de operador de câmara de televisão e controlo de imagem de tv. Em estúdio maioritariamente. E esta actividade, ainda que tenha semelhanças com fotografia, tem algumas diferenças notórias.
Se, por um lado, é um trabalho de equipa, entre os diversos operadores e sob a orientação de um director ou realizador, por outro implica uma distância ao assunto controlada.
O facto de serem várias câmaras em simultâneo implica que não nos podemos aproximar demasiado ou perturbamos o trabalho das restantes. Por outro, a luz existente, pré desenhada e dificilmente ajustada durante os programas, define eixos e distâncias de trabalho que não podem ser ignorados. Por outro ainda, o tipo de perspectiva apresentada ao público tem que ser, salvo algumas excepções, tranquilo. Imagens com perspectivas muito próximas não o são.
Assim e durante anos, bastantes, a minha visão com um sistema de captação de imagem foi sendo formatada para uma escala e perspectiva a alguma distância. A 90mm ou maior, em Full Frame, corresponde a isso.
Mesmo que em fotografia eu não estivesse limitado ao acima dito, de algum modo a grande angular nunca me permitiu ter uma abordagem visual que me satisfizesse. 
Claro que muitas foram as situações em que a usei. Quer fosse pela proximidade ao assunto que não podia controlar, quer fosse pelo tamanho do assunto, que não “cabia” de outro modo, quer fosse por ser essa a perspectiva desejada.
Acontece que um dia, não há muitos anos, vi um anúncio desta objectiva on-line. Nova. A um preço barato e que podia pagar. Disse então, de mim para mim:
“Tu sabes trabalhar com estes ângulos, apenas não estás habituado a usá-los. Vai praticar!”
Continua a não ser um ângulo de visão que me seja confortável. Quando a coloco na câmara levo mais tempo, e nem sempre consigo, fazer um enquadramento que me agrade ou a encontrar a perspectiva “certa” para o que quero contar. E continuo a aprender a trabalhar com ela.
De quando em vez saio de casa com ela colocada na câmara. Com a firme decisão de que nesse dia essa ir ser essa a minha visão. Claro que comigo estão mais uma ou duas que sei que me satisfazem e que, em caso de extrema necessidade, as posso usar. Mas tento formatar a minha mente e actos para este extremo ângulo de visão e correspondente perspectiva. E eu gosto de desafios.

Pentax K1 mkII, Tamron SP Adaptall2 90mm 1:2,5
By me

sábado, 16 de março de 2024

A Ricoh




Quando preparei esta série de fotografias envolvendo as objectivas de 50mm que aqui tenho, fiz duas separações: montagem PK e montagem M42. A estas voltarei mais tarde.

Quanto às PK, fiquei particularmente indeciso se iria incluir esta junto com as Pentax ou não. Isto porque a dualidade é múltipla.

Por um lado é montagem PK; por outro não é Pentax.

Por um lado a Pentax faz parte do universo Ricoh; por outro, quando foi concebida ainda as duas empresas não estavam unidas.

Por um lado foi adquirida com uma SLR Pentax; por outro destoa no meio das demais.

Acabei por incluí-la na série, como se constata.

Isto porque tenho diversas outras objectivas, com diferentes características e marcas, que uso com as minhas SLR ou DSLR Pentax e não faria sentido deixar esta de fora, ou teria que nunca referir as demais.

O que a torna única é, para além de ser Ricoh, ser a única 50mm 1:2 que possuo. Se acontecer encontrar acessível para mim uma Pentax f/2, virá com certeza.

Um destes dias terei paciência, porque tempo tenho, para fazer testes conclusivos sobre o que é a qualidade resultante de cada uma delas. E escolher a que mais me convença como a que usarei quando de uma necessitar. Até lá, e só porque sou pentaxiano, esta mantem-se guardada.

Pentax K1 mkII, Pentax-M 35mm 1:2

By me

sexta-feira, 15 de março de 2024

Duplicação




Tenho que admitir que a aquisição desta objectiva de deveu a dois dos pecados mortais: gula e preguiça.

Gula na medida em que não tinho um exemplar cá em casa. E se tenho algumas objectivas de 50mm, “faria sentido” ter uma destas.

Preguiça na medida em que tenho uma outra muito semelhante mas com montagem M42.

Qualquer uma delas tem um racio de reprodução de 1:2, o que é confortável. Principalmente quando a objectiva que mais gosto para trabalho com peças pequenas, uma Tamron, faz a mesma escala de reprodução mas a uma distância de trabalho maior. Ou, por outras palavras, com uma perspectiva diferente.

E dá muito menos trabalho mudar de objectiva, se for necessário, de uma PK para outra PK do que ter que colocar ou tirar o anel adaptador para M42.

Preguiça pura e dura.

O que acaba por ter graça é que quem ma vendeu disse ter duas iguais. O que não é comum, principalmente neste tipo de objectiva. E, considerando o estado de conservação desta, que é quase como que saído da fábrica, ainda que tenha saído de produção há quarenta anos, pergunto em que estado estará a outra que não vendeu. É que melhor será difícil.

Quanto a mim, ganhei uma peça e poupei trabalho no futuro.

Pentax K1 mkII, Pentax-M 35mm 1:2

By me

Memória




Há uns 40 anos uma colega veio ter comigo com um pedido.

Dizia ela que tinha um conjunto de negativos antigos da família e que gostaria de ter aquilo impresso em papel. Se eu me encarregava de o fazer.

Achei a coisa curiosa e aceitei o encargo, já que se tratava de uma colega. Mas se eu soubesse...

Surge-me ela, alguns dias depois com duas caixas de sapatos repletas de negativos de todos os tamanhos e suportes, incluindo vidro 9x12.

Claro que me assustei mas não dei parte de fraco.

Foram horas de laboratório, tentando fazer o melhor que podia, apesar de alguns estarem não muito bem conservados. E até ao formato 6,5x9 ainda tinha ampliador para tal, mas acima disso teve que ser por contacto.

O que foi divertido foi ir vendo várias gerações a aparecerem na tina de revelação. Um casamento aqui, um batizado ali, um festa acoli... ao fim de algum tempo já reconhecia os seus familiares ainda em negativo. Só não me dei ao trabalho de lhe entregar aquilo por ordem cronológica, mas pouco faltou.

Agora veio parar-me às mãos esta caixa cheia de negativos em vidro 6,5x9. Pelas indicações escritas em todos e cada um, deve ser o que sobrou de um fotógrafo de loja aberta e com estúdio, que todas foram assim feitas. Pelas roupas envergadas, consigo calcular que sejam de finais dos anos 50 ou início dos anos 60. E, muito naturalmente, não serão familiares entre si.

São fotografias feitas nos tempos em que se vestia a roupa domingueira para se ir ao fotógrafo, que era algo de especial. As mais das vezes para colocar a fotografia num qualquer documento identificativo, impressas por contacto e vendidas às meias dúzias numa carteirinha de papel própria com o nome do fotógrafo impresso a carimbo nas costas de cada uma.

Irei ter o prazer de as positivar a todas. Para meu gaudio, que não fará sentido publicá-las, ainda por cima sem autorizações. Mas ficarei sempre com a curiosidade (que nunca será satisfeita) sobre o que aconteceu as estas pessoas, algumas das quais, e para além da fotografia, pouco mais restará que a memória.

 

Pentax K1 mkII, Pentax-M Macro 50mm 1:4

By me

quinta-feira, 14 de março de 2024

Na reforma e ângulos de visão




O texto que se segue é longo e não pretende ser, de forma alguma, dogmático. Apenas reflete o que penso e sinto, com um pouco daquilo que pouco sei. Qualquer opinião que lhe acrescente algo é seguramente bem-vinda.

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Como é que esta pobre 50mm faz parte do meu acervo?

Bem: se por um lado a obtive conjuntamente com uma Pentax K2, por outro lado não tenho melhor exemplar deste modelo.

Para além do que se vê, uma pancada e uma tentativa mal conseguida de reparação no anel frontal, também a focagem não é tão suave quanto se espera. Quanto à nitidez, aguardo por ter outro exemplar, em boas condições, para perceber ao certo se será de origem ou não o que sinto nela.

Faz ela parte das objectivas de 50mm que possuo, apesar de não ser nenhuma delas um item que use com frequência. Porque o seu ângulo de visão em Full Frame não me satisfaz, apesar de ser considerada normal ou standard.

Dizem-na assim e muitos o defendem, ou ligeiramente mais “curta”. Eu contesto-o e explico.

A visão tem dois factores importantes: a parte óptica, composta pelo globo ocular e seus elementos, e o que acontece no cérebro quando ela lá chega levada pelo nervo ocular.

O ângulo de luz que o cristalino (a nossa “lente”) permite chegar à retina é muito semelhante nos seres humanos. Fracções de grau de diferença apenas, em individuos saudáveis. As diferenças acontecem na retina, e na forma como o globo ocular, enquanto elemento móvel, se comporta.

A retina tem duas áreas principais de sensibilidade, que todos conhecem mais ou menos: a zona central, onde se é francamente sensível à cor e luz e que fornece a principal informação ao cérebro, com todos os detalhes possíveis, e a zona envolvente, a cujo resultado chamamos de “visão periférica” menos sensível em cor e detalhes, mas que nos informa do que acontece em redor. Estas duas zonas de informação são complementadas com ordens vindas do cérebro, que não comandamos, que levam o globo ocular a movimentar-se, por pouco que seja, para aumentar a área coberta pela zona de detalhe.

Só aqui, e sem aprofundar a questão, constatamos que a nossa visão no que a apenas luz concerne tem dois ângulos fixos e um terceiro variável. E este depende não apenas das questões fisiológicas mas do cérebro também.

Mas o cérebro tem também grande influência na visão. Para além de comandar o posicionamento do globo ocular, processa a informação recebida. E a forma como este processamento acontece depende de diversos factores.

Desde logo se estamos atentos ou não. Podemos, ao estarmos atentos, ignorar as informações provenientes da visão periférica, reduzindo bastante o nosso relacionamento com o mundo circundante. Podemos estar concentrados em qualquer outra coisa (pensamentos, sons, paladares...) e nenhuma atenção prestarmos ao que vemos, só regressando a tal se a visão periférica nos der uma informação de alarme. Podemos ainda estar muito concentrados em apenas parte da visão detalhada, como o perceber pormenores de algo muito pequeno e próximo ou algo muito distante como um navio no horizonte e só considerarmos parte da informação detalhada que a retina nos fornece. E tudo isto redunda em “ângulos de visão” diferentes na percepção visual.

Mas temos ainda uma terceira vertente que isso condiciona: a personalidade do individuo. Se for pessoa muito participativa no que o cerca, terá uma abordagem visual ampla. Se tiver uma abordagem mais de espectador ou observador, terá uma conexão visual com o mundo de menor ângulo. Se for alguém que se preocupe com os detalhes da vida terá mais atenção ao que for pequeno e com menor ângulo, se for pessoa preocupada com os grandes problemas ou questões terá uma visão mais abrangente ou com maior ângulo.

Não se pode deixar de parte a questão de se ser mais ou menos tímido ou mais ou menos sociável, condição que permite uma maior ou menor próximidade com pessoas e, naturalmente, o ângulo de visão preferido.

Tudo isto, bem subjectivo na verdade, acaba por influenciar quem faz fotografia. O tipo de objectiva que prefere terá um ângulo de visão ou captação próximo da forma semelhante ao relacionamento tido com o mundo, havendo preferências por distâncias focais maiores ou menores de acordo com isso.

Claro que os fabricantes não podem condicionar os seus produtos a todas estas variáveis. Foi assim criado o conceito de objectiva normal ou standard aquela que tem um ângulo útil semelhante à visão descontraída mas consciente do ser humano médio. E isso corresponde, mais ou menos, entre os 50º e os 60º. Ao mesmo tempo, teria que ser algo fácil e/ou económico de fazer em grande escala. E atribuir uma referência numérica a isso.

Surgiu então a fórmula de ser objectiva normal ou standard aquela cuja distância focal fosse igual ou próxima da diagonal do formato fotográfico.

No entanto, tenho para mim que não existe tal coisa na prática fotográfica séria e que cada fotógrafo prefere esta ou aquela que mais se assemelha à sua própria visão do mundo que o circunda, condicionado apenas pelo que os fabricantes produzem.

Um exercício estatístico interessante é percebermos qual a distância focal que mais usamos. Quer com objectivas fixas (ou primárias), quer com objectivas zoom. Uma estatística que inclua um número grande de imagens feitas e em diversa circunstâncias. Quer de lazer quer profissionais. Nos tempos que correm, e com o EXIF, é coisa relativamente fácil o verificarmos em 500 ou 1000 fotografias quais as distâncias focais usadas. Melhor dizendo, quais os ângulos usados, porque dependerá do tamanho do sensor, que são muitos hoje.

Talvez que, com este exercício, se desmonte um mito. Que é útil a fotógrafos e fabricantes, mas que é um mito.

Por mim, estou mais ou menos esclarecido quanto às minhas preferências. Em Full Frame, a 90mm é, sem dúvida, a que mais confortável me deixa, ainda que por vezes prefira algo entre a 200mm e a 300mm. No entanto, e talvez porque a minha vida sofreu grandes revoluções nos últimos anos, a 35mm também me passou a agradar bastante.

Quanto à pobre objectiva aqui referida, não a insulto dizendo-lhe que é inútil ou mentirosa. Até porque nunca são.

Mas em tendo oportunidade tratarei de lhe encontrar uma irmã em bom estado, guardando esta junto com outras peças que tenho e das quais digo que estão na reforma, não lhes exigindo trabalho. Até porque, no seu tempo, foram garbosas e terão feito excelentes fotografias.

 

Pentax K1 mkII, Pentax-M 35mm 1:2

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quarta-feira, 13 de março de 2024

Desafios




Por vezes, para obtermos uma peça específica temos que ficar com o conjunto. Foi o caso.

À venda estava uma Pentax MX preta. Fiquei “guloso”, já que faria par com a cromada que tinha.

Mas com a câmara vinha esta 50mm. Na altura não me interessavam por demais as 50mm. Tinha duas PK e uma M42 e esta, para fotografar, não me fazia falta. Mas como com ou sem objectiva o preço era o mesmo, fiquei com ela.

Admito que as 50mm não me cativam. O ângulo de visão que fornecem não corresponde à minha visão: nem suficientemente aberto para uma perspectiva próxima, nem suficientemente fechado para uma perspectiva distante.

Claro que, quando a tenho comigo e colocada na câmara, a uso. É sempre um desafio fotografar com ela e, usando de luz e perspectiva, colocar em evidência aquilo que quero. E eu gosto de desafios.

É por gostar deles que, em ambiente didático, insisto com os alunos a usarem-na em exclusivo durante algum tempo, em vez de usarem as objectivas zoom que agora fazem parte dos kits. Obriga-os a pensar e a estudar e interpretar o assunto, ao invés de variarem a distância focal sem variarem de ponto de vista. Isto leva-os a andarem para a frente ou para trás, ou para os lados até encontrarem uma solução satisfatória. 

Claro que lhes sugiro, mais tarde, para fazerem o mesmo exercício com um grande angular e com uma teleobjectiva.

Esta prática, ainda que forçada e, por vezes, não muito simpática, acaba por os levar a descobrir outras formas de ver e a ganharem o hábito de ver com os olhos da alma e os pés antes de premirem o botão.

Pentax K1 mkII, Pentax-M 35mm 1:2

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Sangacho




Entro na loja e já lá estão três clientes: um a ser atendido, os outros à espera da sua vez.
Já ali não entrava há uns tempos valentes e entretive-me a observar o que ali estava e acontecia: o caixeiro a atender os clientes no balcão principal, num balcão estilo mesa uma jovem senhora ia embalando com papel as latas brilhantes, atrás dela, e com um postigo de vidro de correr, um escritório cuja cadeira de madeira rotativa, àquela distância, rivalizava comigo em idade.
Os clientes não eram portugueses nem se exprimiam em português. Pior: não sabiam bem o que queriam e iam perguntando, apontando no mostruário, o que seria este ou aquele conteúdo da lata e que tipo de sabor ou nível de picante. Entre cada resposta ponderavam, em silêncio, a que as informações recebidas corresponderiam no palato e no respectivo agrado.
O caixeiro, volumoso, agia com a mesma velocidade: quase nada, como se cada gesto seu, para além de um frete, fosse um sofrimento atroz.
Tentando matar o tempo, meti conversa com a jovem, perguntando-lhe quantas latas embalava por dia.
“Não sei, mas são muitas. Depende das necessidades.” Fiquei na mesma.
Ainda tive oportunidade de ver a chegada de uma terceira pessoa, acompanhada por um canito, que foi pendurar o casaco nas costas da cadeira do escritório. Os que os outros emanavam de enfado, este tinha de satisfação e energia. Talvez por ter estado ausente o tempo que canito pediu, quem sabe?
Quando chegou a minha vez pedi com exactidão o que queria: seis latas destas, artigo raro de encontrar noutro local e que me tinham levado ali, bem como duas de outras cujo conteúdo há muito que não provava e de que sou guloso.
O sorriso do caixeiro surgiu de onde estava escondido e entrou em velocidade de cruzeiro habitual no comércio, desenvolto e determinado.
Com a minha mania de querer saber coisas, perguntei-lhe se estaria a sorrir por eu saber o que queria e não estar cheio de perguntas.
“Também”, respondeu-me. “Mas principalmente por falar em português. É o primeiro hoje, e são cinco da tarde.”
Paguei, tendo direito a desconto de dez por cento só porque sim, e saí agradecendo, ansioso por um cigarro, que a espera fora longa.
Cá fora ainda dei dois dedos de conversa com o dono do casaco na cadeira, tal como eu a fumar, e fiquei a saber qual a parte do atum que fornece o sangacho. Aquilo que eu sabia estava errado.
O dia tornou-se profícuo e satisfatório, também por ter tirado do marasmo três alminhas que passam o dia a atender turistas que nem sabem o que querem.
E, claro, o meu jantar soube-me a manjar dos deuses.
Pentax K1 mkII, Tamron SP Adaptall2 90mm 1:2,5

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terça-feira, 12 de março de 2024

"Toda aberta"




Este é uma objectiva Pentax de abertura máxima 1:1,2. Uma das mais luminosas ou rápidas que diversas marcas fizeram. Existem outras ainda mais luminosas, mas não de fabrico em série ou de fácil acesso ao público em geral.

Recebi-a como presente de meu pai. Estava ele afastado do fazer fotografia havia anos e quando a decobri cheia de pó doeu-me. Ofereceu-ma, bem como outros itens Pentax. O restante do seu equipamento herdei-o mais tarde.

A sua grande luminosidade ainda hoje faz abrir a boca de inveja a muitos, ainda que não saibam que, quando na máxima abertura, tem uma imagem resultante que surpreende pela sua fluidez ou definição limitada. Que, bem explorada, é linda.

É uma das várias 50mm que possuo, que me vieram parar às mãos porque acompanhavam câmaras que adquiri ou porque me ofereceram, umas em melhor estado que outras. E isso inclui outras marcas que não usam montagem PK.

De entre a panóplia de objectivas fabricadas para SLR e filme 135, creio que será a distância focal mais divulgada. Até mesmo para não SLR.

O motivo será simples, ou não tanto. A sua construção optica é das mais simples, ainda que com várias fórmulas, permitindo isso aberturas de diafragma maiores sem aumentar em demasia o tamanho da objectiva e peso, por comparação com outras distâncias focais.

Tem também um ângulo de visão próximo da visão humana. Claro que esta questão é objecto de diversas interpretações e contestações e por vários motivos. Eu também o contesto e a isso voltarei.

Mas os fabricantes divulgaram esse conceito de “normal” ou “standard” e ficou na mente de muitas centenas de milhar de pessoas, fotógrafos sérios, amadores ou simples curiosos. Foi rentável para os vendedores e fabricantes.

Nos tempos que correm, com o digital e outros formatos menores que o Full Frame, esse conceito não se aplica. Aliás, não é fácil ou barato encontrar uma objectiva nova, fixa ou “prime”, com este ângulo de visão: 47º. A sociedade de consumo e a evolução tecnológica baixou os preços das pequenas zoom e é isso que se encontra a acompanhar a grande maioria das DSLR.

No entanto, em situações de ensino, seja qual o nível, tento que usem uma 50mm ou equivalente. Não sendo possível, peço que bloqueiem a zoom para um ângulo semelhante durante uns tempos e que só fotografem assim, seja qual for a situação ou assunto.

Esta objectiva, pela sua história e características técnicas, é-me especial e tem um lugar de destaque aqui em casa.

 

Pentax K1 mkII, Pentax- M 35mm 1:2

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A primeira




Quando comecei as minhas actividades lectivas cometi muitos erros naturalmente. Recordo um, maior que um comboio, que foi uma lição enorme para mim.
Explicava eu à turma as diferenças entre grande angular e teleobjectiva e, de permeio, a normal.
Querendo ser engraçadinho, perguntei-lhes se sabiam porque a 50mm era chamada de normal. Não sabiam e eu disse-lhes que se chamava assim porque era a que normalmente vinha com as câmaras.
Claro que me ri desta alarvidade e, de seguida, expliquei-lhes o conceito genérico do ângulo de visão da 50mm corresponder ao ângulo de visão normal do humano.
Na aula seguinte, e para tomar balanço, voltei a perguntar-lhes se sabiam porque a 50mm era a normal.
Uma aluna consultou os seus apontamentos e disse, citando-me, que era porque era as que normalmente vinham com as câmaras.
Fiquei estarrecido!
A jovem (recordo-lhe o nome, o rosto e o lugar onde se sentava) tinha acabado de citar o professor e eu não lhe podia dizer que estava errada. Apenas que tinha sido uma brincadeira. 
Mas a minha credibilidade tinha sido posta em causa com o meu disparate. E, eventualmente, com a sua menor atenção ao que eu havia dito em seguida. Talvez porque estivesse a tomar notas.
E a credibilidade é a pedra basilar de qualquer professor. Mestre, formador, instrutor, o que lhe queiram chamar. Sem ela, a aprendizagem não acontece com a solidêz ou celeridade que se deseja.
Mas cometi um outro erro, que talvez não seja erro: não lhes expliquei que aquela definição de ângulo de visão normal é um absurdo. É o resultado de estatísticas de ordem física, que ignoram por completo a personalidade de quem vê, o seu estado emocional, o ambiente em que se encontra...
Até mesmo do ponto de vista fisiológico esta generalização é apenas isso: uma generalização, não sabendo eu qual a percentagem de gente que assim vê.
Hoje não poderia dizer o que disse. Mesmo que com adolescentes, teria que explicar estes outros factores, mesmo que por alto. E hoje é raro encontrar uma câmara nova no mercado que tenha por kit uma objectiva fixa (ou primária) com 47º de visão na diagonal. 
Em regra o que se encontra é uma pequena zoom, que é das piores coisas que existem para aprender a fotografar.
Esta foi a minha primeira objectiva, que acompanhava a minha primeira SLR – uma Pentax MX.
Pentax K1 mkII, Pentax- M 35mm 1:2

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sexta-feira, 8 de março de 2024

Hoje e amanhã




Uma das coisas que me custa é ver o percurso, as ideias e os comportamentos de tantas pessoas.

Nascidas de famílias com poucos recursos, tiveram juventudes difíceis. Os pais esforçaram-se até ao limite para que estes pudessem ter uma vida melhor, que nem sempre conseguiram.

Entrando no mundo do trabalho, protestaram contra as condições laborais, os contratos precários, os horários intermináveis, as prepotências de chefes e patrões.

Mas assim que conseguem subir um degrauzinho que seja na escada da sociedade, trabalho ou outra, transformam-se e são tão ferozes para com os que ficaram para trás como aqueles contra quem protestaram na véspera. Nos actos e nas palavras. Nos desenhos de sociedade e na disciplina da hierarquia. Mais papistas que o papa!

Sabemos, porque a experiência assim nos ensina, que essas pessoas dificilmente irão mais longe que serem o chefe maior do pessoal menor. Os donos da chave da retrete. Os escravos feitos feitores. Aqueles que os seus iguais de origem odeiam porque algozes nas suas misérias. Os bufos. Os lambe-botas. Os sempiternos frustrados porque, por muito que se esforcem, nunca serão mais que isso mesmo: os trastes da sociedade.

São estes, lamentavelmente, que este domingo serão o grosso dos votantes naqueles que se opõem à igualdade entre seres humanos. Aqueles que defendem como natural que muitos durmam em cobertas de serapilheira enquanto alguns poucos dormem em lençóis de seda.

No dia da Mulher, temo pelo resultado destas eleições.


By me

quinta-feira, 7 de março de 2024

História de uma câmara




Comprei esta em Agosto de 1998. Quase logo a ter surgido no mercado português.

Eu tinha ficado zangado com a vida em geral e a fotografia em particular quando perdi o uso pleno do olho direito. E a fotografia pagou essa minha zanga.

Mas quando foram chegando as digitais, esta veio colmatar, em parte, esse meu problema.

Este modelo foi o escolhido porque era o único que não obrigava a instalar drivers ou software para se aceder às fotografias. Não existia ainda o USB e qualquer coisa que se ligasse a um computador isso exigia. Com as Floppy Disk esse problema não acontecia, que era padrão em todos os PC.

640 por 480 é uma resolução muito baixa pelos padrões de hoje. Aliás, cedo se tornou meio obsoleta. Algum tempo depois acabei por encontrar melhor, ainda que não ainda uma Pentax DSLR.

Uma ocasião um amigo e colega perguntou-me se eu não a quereria vender. Gosto de conservar o que vou comprando, mas vindo o pedido de quem veio, acedi. Sabia que ia ser útil e bem conservada.

Anos passados, já ele tinha uma bem melhor, pedi-lhe que ma vendesse de novo. Acedeu e aqui está: a minha primeira câmara digital.

Tenho conservado as Floppy Disk tão bem quanto possível. E, como já é arqueologia, tenho dois leitores externos.

Esta câmara já fotografou momentos especiais, não apenas meus como mundiais, e tem estado guardada com cuidado e carinho.

Num grupo de fotografia puseram em dúvida que a tivesse e que ainda funcionasse. Aqui fica a imagem dela e uma imagem feita por ela hoje mesmo.

 

Pentax K1 mkII, SMC Pentax 50mm 1:1,4

By me

segunda-feira, 4 de março de 2024

História e livros




O conhecer o trabalho de outros fotógrafos é, para mim, importante. Como não sou um génio, preciso de pistas para aquilo que faço.

Ver o que se expõe é importante. Conhecer a biografia e os pensamentos de quem fotografa ou fotografou é igualmente importante. E os livros são muito úteis em qualquer destes casos.

Monografias, colectâneas, história... tudo é útil para evoluirmos.

Hoje, numa feira de livros e equipamento fotográfico, encontro este livro.

Tenho vários sobre a história da fotografia e é interessante constatar os detalhes que um autor conta e que não constam nos outros. Ou as fotografias escolhidas para acompanhar o que se diz deste fotógrafo ou época. Algumas são as mesmas, outras são-me completamente desconhecidas ou ensaios para as mais divulgadas.

O que é interessante neste livro é que o seu proprietário original assinou-o, datou-o e referiu onde o comprou. Habito que também tenho.

E apercebo-me que o livro foi impresso no Reino Unido, em 1965 e comprado em Luanda, Angola, por 135.00 escudos, uma verdadeira fortuna em 1966. Colónia Portuguesa em África, em guerra. E se a literatura sobre fotografia não abunda em Portugal, nessa altura e nessas circunstâncias ainda pior. 

Comentei isso mesmo com quem o estava a vender e a resposta foi impactante: “Esse livro era de meu pai, que então aí vivia. Talvez que a proximidade com a África do Sul...”

Gosto de saber a história dos objectos que possuo. Deste soube-o em primeira mão. E estive quase para lhe perguntar se tinha a certeza de querer vender. Não perguntei, que não tive coragem.

Fiquei eu mais rico!

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Pentax K1 mkII, Tamron SP Adaptall2 90mm 1:2,5

By me

Direito ao disparate




A liberdade em que vivemos dá-nos um direito universal de que, as mais das vezes, não nos damos conta: o direito ao disparate.

Podemos pensar e dizer as coisas mais absurdas, mesmo contra a liberdade ela mesmo, que não se considera nem crime nem anti-social nem mesmo reprovável. Apenas leva o carimbo de “disparate”.

Aquilo que alguns agora candidatos ao Parlamento não se apercebem é que os disparates que dizem contra a liberdade de ser e pensar são, eles mesmos, atentatórios contra a liberdade que eles, os candidatos, têm de os dizer.

O que se torna perigoso nesses discursos inflamados e plenos de restrições à liberdade individual é que essas propostas programáticas surgem disfarçadas de boas intenções, apelativas para quem não veja para além da embalagem.

Os que defendem a liberdade no seu sentido lato não devem impedir que o direito ao disparate seja cerceado. Podem e devem é agir dentro do conceito de democracia para impedir que esses disparates se possam tornar lei. Impedir que os discursadores de perigosos disparates possam ocupar cargos que cerceiem a nossa liberdade.

Quando no próximo acto eleitoral fizermos escolhas, devemos ter isso bem presente.

 

By me

sexta-feira, 1 de março de 2024

K50




Esta é a última da minha série sobre as minhas Pentax DSLR. Esgotaram-se. Por enquanto.

E este exemplar, K50, não foi adquirido da mesma forma que as restantes.

Encontrei-a numa loja de artigos usados e ponderei bem e durante algum tempo dois factores: “Não me faz falta para fotografar mas estou a ficar colecionador” e “Numa digital usada nunca sabemos ao certo em que estado está o sensor, apesar do número de obturações”.

A tentação foi mais forte e fiz negócio. Até agora não estou arrependido.

Corresponde às expectativas, não aparenta nenhum problema e, na gama das APS-C, substitui a K7, a necessitar de ser revista.

Claro que o problema de alternar entre um modelo, outro ou outro é o da ergonomia. Em cada modelo a gestão de comandos e botões varia, não sei se apetite de “inovar” por parte do criador e por influência de utilizadores que sugerem esta ou aquela alteração.

Se a ocasião me surgir e eu tiver como o fazer, há uma câmara, ou um tipo de câmara, que gostaria de acrescentar às que já possuo.

É característica do equipamento fotográfico o ser preto ou cromado. É antiga esta escolha e consigo entender vários motivos subjectivos para tal.

Se, por um lado, a câmara tem que ser discreta para não fazer parte do que fotografa chamando a tenção para si, então o preto é a discrição por excelência.

Por outro, a tradição talvez venha dos foles da câmaras bem antigas, em preto para não velarem a película.

Já o cromado tem uma conotação com solidêz, fiabilidade mecânica, tecnologia física no seu melhor.

E nós, fotógrafos, até nem reclamamos e as escolhas são feitas entre as duas opções pelo gosto ou sensibilidade.

Os modelos coloridos, do branco ao vermelho, passando pelo rosa, amarelo ou verde, têm uma interpretação de “brinquedo”. Para o fotógrafo, ter um brinquedo caro nas mãos não é confortável psicologicamente. Para o cliente... quem leva a sério um profissional com uma coisa daquelas nas mãos?

Claro que sabemos que é bem mais importante o recheio que a embalagem e que, com qualquer cor de câmara, um fotógrafo pode e deve fazer boas fotografias. Mas a parte subjectiva...

Gostava eu de ter uma câmara que fosse que fugisse dos padrões de aspecto. Talvêz que em branco. Ou em côr de rosa. Como peça de coleção e para ver a reacção dos fotografados ao ser utilizada a sério algo que parece um brinquedo.

Só mais um aspecto, nisto que já vai longo: a introdução do digital em câmaras reflex não resultou apenas no tipo de suporte e tratamento dado à imagem.

As câmaras sofreram uma modificação de monta: a identificação do modelo passou para o lado da mão esquerda, em vez de na da direita como vinha sendo hábito. O recurso a baterias com algum volume, o acréscimo de componentes electrónicos e o apoio anatómico para a mão direita a isso obrigaram.

Mas isso também fez mudanças na forma de fotografar uma câmara fotográfica. Mudou-se o eixo de orientação da câmara, ficando ela virada para a esquerda da imagem. Na nossa cultura ocidental isso não é inconsequente e, confesso, tive alguma dificuldade em aceitar os enquadramentos que isso me obrigavam. Porque, e para além da técnica, da estética e da ética, a semiotica também conta.

 

Lumix DMC-TZ60

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K1 mkII




A entrada desta Pentax K1 mkII na minha posse não foi nem casual, nem resultado de um impulso nem o desejo que ir atrás das novidades.

Se, por um lado, aconteceu ter meios para tal compra, por outro aconteceu estar uma à venda em Portugal. Coisas pouco comuns, diga-se de passagem.

Mas o verdadeiro motivo, aquele que me levou a tal foi o sensor: o tamanho do sensor. O ser uma Full Frame.

Com este sensor tiro partido integral das objectivas de grande ângulo de visão da época do filme, coisa que o formato APSC não permite.

Mas também, com este formato, e para um mesmo enquadramento, a profundidade de campo é mais crítica. O que permite, usando isso, outras abordagens estéticas, bem mais condicionadas no formato menor.

Haverá quem se queixe de não ter flash incorporado. É coisa que não me atrapalha de todo. Raramente uso um na câmara e, se por mero acaso, suspeitar que irei necessitar, acrescento um na mochila.

Claro que o peso é um factor negativo. Tal como é o consumo energético, que as mesmas baterias têm que ser trocadas e recarregadas mais frequentemente quando comparado com modelos menores.

De igual modo, o seu volume obriga a outras gestões de espaço em sacos ou mochilas. E provoca surpresa nos mais desconhecedores. Já me perguntaram, espantados com o tamanho, se seria de médio formato.

Bem cuidada, será câmara para durar bastante, que não creio que a Pentax recorra à obsolênicia programada para aumentar as vendas.

Como disse, não sou de andar em busca da última novidade. Mas fico curioso sobre que inovação a Pentax poderá acrescentar a este seu belo modelo em termos de Full Frame.

 

Pentax K50, SMC Pentax 50mm 1:1,4

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