Ao longo da minha carreira, fiz de quase todo o tipo de
trabalhos relacionados com o meu ofício. Uns mais simpáticos, outros
francamente desagradáveis. De uns orgulho-me, de outros já nem tenho memória.
Dos que me orgulho saliento hoje em particular a transmissão
de centenas de missas.
Não sou crente, pelo que o seu significado directo pouco me
afecta. Das tarefas e detalhes dessas transmissões retenho boas memórias, já
que são trabalhos exigentes de per si. O tempo e o espaço em causa exigem
cuidados redobrados para que o resultado seja o que pretende. O áudio e o
visual têm que trabalhar juntos, numa harmonia que sempre se quer mas que,
neste caso, é mais exigente.
Mas um outro motivo me enche de orgulho: o conteúdo e o
público a que se destina.
Não será um trabalho de grande audiência. Desporto,
entretenimento, política, são campos com francamente maior audiência.
Mas quem vê e ouve uma missa pela “caixa que mudou o mundo”,
fá-lo porque quer mesmo fazê-lo. Porque se encontra impedido de estar no
templo. Doença, distância, confinamento, justiça, idade… são vários os motivos
que podem impedir um crente de estar na igreja, por muito que o queira. E o
assistir à eucaristia (domingo comum ou em dia especial) é o substituto
possível para algo muito importante para esses crentes.
Tenho para mim que a transmissão da missa, dominical ou
outra, faz parte da essência do serviço público. E tenho muito orgulho em o ter
feito.
Hoje estou em casa. O sistema de rotação de back up assim o
determinou. Mas, ao ligar o aparelho agora de manhã, fiquei com inveja dos
colegas que estão a transmitir a missa pascal da Sé de Lisboa.
Hoje, nos tempos que vivemos, este será o programa
televisivo mais importante para milhares de portugueses.
Com as igrejas fechadas, raros serão os que podem assistir
ao vivo a um dos momentos mais importantes da sua fé. Saber que fazemos o seu
substituto e ver aquele monumental templo com a celebração a decorrer e os
bancos absolutamente vazios faz-me arrepios pela espinha acima.
Ficará para a história que houve um ano em que a missa do
domingo de Páscoa não teve fiéis nos templos. E que fomos nós, os da rádio e da
televisão que levámos os templos a casa das pessoas.
Se isto não é serviço público no seu melhor, não sei o que
possa ser.
By me
Imagem da RTP
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