quarta-feira, 29 de abril de 2020

Menosprezos




Calhou!
Tropecei na página de alguém que dedica boa parte do seu espaço virtual a publicar imagens actuais e antigas de actividades televisivas. Gentes e programas.
E entretive-me, durante um bom pedaço de tempo, a ver tais fotografias: entretenimento, informação, desporto, bastidores, apoio, oficinas e laboratórios, palcos e estúdios, velharias e modernidades.
Sabem o que me custou?
O não ter visto registos de actividades ou gentes dedicadas à programação infantil ou juvenil. Um vazio total, como se tal tipo de programas nunca tivesse existido.
Daqui por trinta anos, quando por cá já não estiverem aqueles que dedicaram boa parte da sua actividade profissional aos pequenotes ou nem tanto, será como se nunca se tivesse produzido trabalhos específicos para as crianças. Que disso não haverá registo.
E no entanto, saiba-se, foram muitos milhares de horas de programas emitidos, anos a fio com instalações e gente dedicada em exclusivo a tal público, autores e executores que se especializaram em entreter e ensinar as crianças de então, hoje adultos quando não já reformados.
A programação televisiva dedicada às crianças é considerada um género menor. Isto apesar de ser a que tem mais especificações e critérios de rigor. Do conteúdo à forma.
Enquanto profissional de imagem, orgulho-me de estado anos com essas tarefas e com tudo o que isso implica: das perspectivas aos tempos de movimento, das escalas às profundidades de campo… todo um conjunto de detalhes pensados e executados para chegar ao público infantil e tentar que o entretenimento ou lúdico servisse de ponte para as aprendizagens. Naquelas idades em que os pequenos são esponjas de aprendizagens e em que há que ter muito cuidado – cuidado extremo mesmo – naquilo que lhes mostramos e ou contamos.
Tenho um orgulho enorme de ter feito parte dessas equipas e uma tristeza imensa sobre o desprezo enorme a que é votado todo esse trabalho.
Resta-me a consolação de saber que com nosso esforço ajudámos a crescer todos aqueles que hoje sorriem quando falo, por exemplo mas não só, na Rua Sésamo.



By me

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