Calhou!
Tropecei na página de alguém que dedica boa parte do seu
espaço virtual a publicar imagens actuais e antigas de actividades televisivas.
Gentes e programas.
E entretive-me, durante um bom pedaço de tempo, a ver tais
fotografias: entretenimento, informação, desporto, bastidores, apoio, oficinas
e laboratórios, palcos e estúdios, velharias e modernidades.
Sabem o que me custou?
O não ter visto registos de actividades ou gentes dedicadas
à programação infantil ou juvenil. Um vazio total, como se tal tipo de
programas nunca tivesse existido.
Daqui por trinta anos, quando por cá já não estiverem
aqueles que dedicaram boa parte da sua actividade profissional aos pequenotes
ou nem tanto, será como se nunca se tivesse produzido trabalhos específicos
para as crianças. Que disso não haverá registo.
E no entanto, saiba-se, foram muitos milhares de horas de
programas emitidos, anos a fio com instalações e gente dedicada em exclusivo a
tal público, autores e executores que se especializaram em entreter e ensinar
as crianças de então, hoje adultos quando não já reformados.
A programação televisiva dedicada às crianças é considerada
um género menor. Isto apesar de ser a que tem mais especificações e critérios
de rigor. Do conteúdo à forma.
Enquanto profissional de imagem, orgulho-me de estado anos
com essas tarefas e com tudo o que isso implica: das perspectivas aos tempos de
movimento, das escalas às profundidades de campo… todo um conjunto de detalhes
pensados e executados para chegar ao público infantil e tentar que o
entretenimento ou lúdico servisse de ponte para as aprendizagens. Naquelas
idades em que os pequenos são esponjas de aprendizagens e em que há que ter
muito cuidado – cuidado extremo mesmo – naquilo que lhes mostramos e ou
contamos.
Tenho um orgulho enorme de ter feito parte dessas equipas e
uma tristeza imensa sobre o desprezo enorme a que é votado todo esse trabalho.
Resta-me a consolação de saber que com nosso esforço
ajudámos a crescer todos aqueles que hoje sorriem quando falo, por exemplo mas
não só, na Rua Sésamo.
By me
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