quarta-feira, 15 de abril de 2020

Para que recordem




Fala-se à boca cheia no retomar a tele escola, numa solução de emergência.
Esquecem-se os muito mais velhos e os mais novos de uma utilização de recurso com o mesmo suporte que aconteceu nos anos seguintes à revolução de Abril: o ano propedêutico.
Em ’74 as passagens de ano e os exames foram tudo menos normais. A contestação à “ditadura” do exame, a falta de orientações solidas sobre a educação e todas as convulsões políticas de então levaram os responsáveis a concluir que os estudantes do então chamado “curso complementar dos liceus”, hoje “secundário”, estavam pouco ou mal preparados para cursarem o ensino superior. Havia que obtivessem mais competências, ou o superior seria uma tragédia. Por outro lado, as universidades não estavam capazes a receber tantos estudantes. Nem do ponto de vista de instalações nem de docentes. Haveria que fazer triagens pelo caminho.
Recorreu-se então a um ano lectivo adicional, chamado de “propedêutico”, que hoje corresponde ao 12º ano do secundário.
Acontece que nos primeiros tempos (dois anos pelo menos) não havia instalações nem professores que fossem suficientes para tal. Recorreu-se então o ensino à distância, usando a estrutura da tele escola no que concerne à antena usada: o 2º canal da RTP, única estação existente.
As aulas decorriam ao sábado e haveria que comprar os textos de apoio ou sebentas publicas pelo ministério. Recordo as enormes filas de gente em Lisboa, para os obter. Foram muitas horas, que os exemplares não eram muitos e não chegavam para todos, todos os dias. Creio que os métodos de impressão também não seriam como os de hoje.
Passados dois ou três anos criaram-se instalações “provisórias” onde esse ano decorreria com mais normalidade, com alunos e salas de aula.
Fui aluno num desses anos de excepção, mas pouco assíduo às aulas na TV. Nunca o concluí, que entretanto iniciei-me no ofício que tenho.
Quando hoje se fala na excepção ou inovação desta nova tele escola não posso deixar de recordar esse tempo. E de confirmar que a memória colectiva é sempre curta e adaptada às conveniências do momento.



By me

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