domingo, 5 de abril de 2020

O silêncio




Na varanda, a fumar um cigarro. Domingo de manhã.
Em casa tudo tranquilo, cada um a fazer o que mais gosta ou tem que fazer, em silêncio e recolhimento. Até o cão, naquele instinto que nós, humanos, quase perdemos, está a dormitar no sofá.
Aqui fora, e para além de mim, poucos sinais de vida: o fumo que sobe na vertical da ponta do meu cigarro, o verde pálido e deslavado que entrevejo entre prédios. Nem aves lá em cima. Volteando ou pousadas nas chaminés ou antenas. Sim, que aqui onde moro ainda há antenas.
De súbito um sinal de vida. Sonoro. A 750 metros em linha recta, os bombeiros anunciam o meio-dia. Naquele som de lamento, triste, a que atribuímos ainda mais tristeza por estes dias.
Depois… Depois mais nada.
De lá de dentro nem um som ou sinal, de lá de fora nem um gesto ou aragem, e nem o cão se manifestou.
Regressei ao interior. Talvez que uma série policial, banal e repetida reponha alguma acção numa manhã quase morta na cidade.
E não deveria ter usado o termo “morta”, mas não se me sobe à cabeça nenhum outro.



By me

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