quinta-feira, 30 de abril de 2020
quarta-feira, 29 de abril de 2020
Menosprezos
Calhou!
Tropecei na página de alguém que dedica boa parte do seu
espaço virtual a publicar imagens actuais e antigas de actividades televisivas.
Gentes e programas.
E entretive-me, durante um bom pedaço de tempo, a ver tais
fotografias: entretenimento, informação, desporto, bastidores, apoio, oficinas
e laboratórios, palcos e estúdios, velharias e modernidades.
Sabem o que me custou?
O não ter visto registos de actividades ou gentes dedicadas
à programação infantil ou juvenil. Um vazio total, como se tal tipo de
programas nunca tivesse existido.
Daqui por trinta anos, quando por cá já não estiverem
aqueles que dedicaram boa parte da sua actividade profissional aos pequenotes
ou nem tanto, será como se nunca se tivesse produzido trabalhos específicos
para as crianças. Que disso não haverá registo.
E no entanto, saiba-se, foram muitos milhares de horas de
programas emitidos, anos a fio com instalações e gente dedicada em exclusivo a
tal público, autores e executores que se especializaram em entreter e ensinar
as crianças de então, hoje adultos quando não já reformados.
A programação televisiva dedicada às crianças é considerada
um género menor. Isto apesar de ser a que tem mais especificações e critérios
de rigor. Do conteúdo à forma.
Enquanto profissional de imagem, orgulho-me de estado anos
com essas tarefas e com tudo o que isso implica: das perspectivas aos tempos de
movimento, das escalas às profundidades de campo… todo um conjunto de detalhes
pensados e executados para chegar ao público infantil e tentar que o
entretenimento ou lúdico servisse de ponte para as aprendizagens. Naquelas
idades em que os pequenos são esponjas de aprendizagens e em que há que ter
muito cuidado – cuidado extremo mesmo – naquilo que lhes mostramos e ou
contamos.
Tenho um orgulho enorme de ter feito parte dessas equipas e
uma tristeza imensa sobre o desprezo enorme a que é votado todo esse trabalho.
Resta-me a consolação de saber que com nosso esforço
ajudámos a crescer todos aqueles que hoje sorriem quando falo, por exemplo mas
não só, na Rua Sésamo.
By me
terça-feira, 28 de abril de 2020
Virtudes
A photographia não tem que possuir virtudes!
Bem p’lo contrário, a photographia tem que ser provocativa, agressiva, dinâmica, violenta mesmo. A photographia tem que provocar emoções em quem a vê e, principalmente, em quem a produz.
A uniformidade, a monotonia, a falta de interesse, a ausência de diferença, transformam a photographia em algo de tão apelativo quanto a fotocópia da escritura, por exemplo, da compra de um apartamento.
O povo diz que “No meio-termo é que está a virtude!”
Em photographia, o meio-termo, o centro, a simetria, a “virtude” são a antítese de tudo o que a photographia tem que ser. A menos, claro, que o objectivo seja o aborrecimento, a monotonia, o tédio absoluto.
Por exemplo, mostrar o tédio que já se trás de casa, no caminho para mais uma entediante jornada de ganha-pão, no interior de um sempre igual e ronceiro comboio suburbano.
Entenda-se, no entanto, que mesmo um impoluta folha de papel de fotocópias, retirada ao calhas de uma resma recém aberta, pode não ser monótona. Depende, claro está, do estado de alma de quem para ela olha.
Apesar disso, continuo convencido que, em photographia, não é no meio que está a virtude.
By me
sábado, 25 de abril de 2020
Celebrar revoluções????
Celebrar uma revolução é bom. E será tanto melhor para quem
a viveu ou cresceu ao som e ensinamentos e aprendizagens de uma revolução.
No entanto, uma revolução que não é alimentada, mantida em
movimento, sempre rodando, por vezes quebrando, cedo passa a mera comemoração.
Como quem comemora o aniversário ou um dia religioso.
Manter-se em estado revolucionário, sempre contestando o que
deve ser contestado e modificando o que pode ser modificado é a melhor forma de
comemorar uma revolução.
Todos os dias!
Um conceito político ou filosófico só será útil se servir de
ponto de partida para outros conceitos.
Tal como os partidos políticos enquistam, tornando-se
conservadores na medida em que aspiram ao poder pelo poder e tudo fazem para
tal, mesmo fazendo sérias cedências aos seus princípios de base, também as
revoluções, se não se mantiverem em revolução, param e tornam-se conservadoras.
Celebro a revolução de Abril. Tudo o que com ela acabou e
tudo o que com ela passámos a ter e ser.
Mas mantenho-me revolucionário a cada dia que passa e na
medida do que que posso e sei.
Não há vitórias finais! Há batalhas parcelares, sempre em
direcção ao infinito.
By me
Celebrações
Ao longo dos já uns quantos anos que levo disto a que
chamamos vida, há três datas particularmente importantes que a marcam.
Desde logo, e estou em crer que todos têm uma assim, a data
em que nasci. E todos, de um modo ou do outro, a celebram.
Em seguida Abril de ’74. Uma grande parte dos portugueses
celebram-na, ainda que este ano, e para além dos que são filosoficamente contra
o que esta data significa, a sociedade divida-se na forma como se celebra. Por mim,
aconteça o que acontecer, a celebração deve ser pública e oficial. Em espaços
confinados ou nas ruas como tem sido tradição.
Por fim, a data do meu casamento. Somos poucos a celebra-lo,
como é lógico. E fazemo-lo na privacidade que a data implica.
Hoje as cores são estas!
By me
segunda-feira, 20 de abril de 2020
Estatuto do Homem
Artigo I
Fica decretado que agora vale a verdade.
agora vale a vida,
e de mãos dadas,
marcharemos todos pela vida verdadeira.
Artigo II
Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
têm direito a converter-se em manhãs de domingo.
Artigo III
Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança.
Artigo IV
Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais
duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do céu.
Parágrafo único:
O homem, confiará no homem
como um menino confia em outro menino.
Artigo V
Fica decretado que os homens
estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar
a couraça do silêncio
nem a armadura de palavras.
O homem se sentará à mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passará a ser servida
antes da sobremesa.
Artigo VI
Fica estabelecida, durante dez séculos,
a prática sonhada pelo profeta Isaías,
e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.
Artigo VII
Por decreto irrevogável fica estabelecido
o reinado permanente da justiça e da claridade,
e a alegria será uma bandeira generosa
para sempre desfraldada na alma do povo.
Artigo VIII
Fica decretado que a maior dor
sempre foi e será sempre
não poder dar-se amor a quem se ama
e saber que é a água
que dá à planta o milagre da flor.
Artigo IX
Fica permitido que o pão de cada dia
tenha no homem o sinal de seu suor.
Mas que sobretudo tenha
sempre o quente sabor da ternura.
Artigo X
Fica permitido a qualquer pessoa,
qualquer hora da vida,
o uso do traje branco.
Artigo XI
Fica decretado, por definição,
que o homem é um animal que ama
e que por isso é belo,
muito mais belo que a estrela da manhã.
Artigo XII
Decreta-se que nada será obrigado
nem proibido,
tudo será permitido,
inclusive brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes
com uma imensa begônia na lapela.
Parágrafo único:
Só uma coisa fica proibida:
amar sem amor.
Artigo XIII
Fica decretado que o dinheiro
não poderá nunca mais comprar
o sol das manhãs vindouras.
Expulso do grande baú do medo,
o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
para defender o direito de cantar
e a festa do dia que chegou.
Artigo Final.
Fica proibido o uso da palavra liberdade,
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada será sempre
o coração do homem.
Thiago de Mello
Santiago do Chile, abril de 1964
Imagem: by me
domingo, 19 de abril de 2020
Pão
Gosto de pão e uma das poucas coisas que me desagradam na
cidade de Barcelona é o pão. Branquinho, desenxabido, quase que sem paladar.
Pelo menos o que por lá encontrei das várias vezes que por lá estive.
E acho que sei porque gosto tanto de pão: é que, estatisticamente,
sou alentejano. Parte dos meus antepassados é alfacinha ou saloia, a outra
parte é algarvia. Em tirando a média geográfica…
Aliás, a importância do pão é tal que, e para além de ser algo
cultivado e preparado desde tempos imemoriais, foi algo que neste período conturbado
em que vivemos não foi alvo de grandes restrições. Nem fechou por completo o comércio
nem a indústria e é um dos poucos motivos que permitem os cidadãos, confinados
que estão nas suas casas, justificarem escapadinhas.
Confesso que prefiro o pão de centeio ao de trigo. Pelo
menos ao de apenas de trigo. E esta minha preferência pelo centeio não se limita
ao pão: o whisky feito com centeio (rye whiskey) pode ser feito integralmente
de centeio ou parcialmente. Ao que julgo saber, o “Rye Whiskey” americano tem
na sua fórmula no mínimo metade de centeio, enquanto que o canadiano, também
chamado “Rye Whiskey” terá que ter no mínimo 10% deste cereal. Prefiro este
último, ainda que não seja muito comum por cá.
Dizia-se, ao tempo do Estado Novo, que o Alentejo era o
celeiro de Portugal, tal era a produção de trigo e centeio. Hoje assim não é,
sendo que importamos a maioria do trigo que consumimos. Influências ou ditames
europeus. E tanto que assim é que nos portos nacionais onde existem silos para
cereais existem também enormes aspiradores que retiram o cereal dos porões dos
navios, transportado que é a granel. E estas instalações, poucas e estratégicas
que são, estão guardadas com grades, arame farpado e guardas armados.
Seja como for que seja cultivado, negociado ou fabricado, trigo,
centeio, milho, forno ou pedra ou chapa, com ou sem fermento, com ou sem ervas,
dose individual ou de quilo, gosto de pão.
O de cada dia, como se refere nas liturgias, ou cozido para
a toda a semana no forno comunitário como fazia a minha avó.
Da importância do pão, no meu palato ou nos costumes
antigos, poderia ainda referir-se que a nossa tradição impõe o fazer de uma
cruz na massa crua mas já individualizada, em jeito de benzedura. Ou o cesto,
caixa ou saco de pão, existente em todas as casas. Ou o pano, normalmente de
linho, com que era coberto. Ou a faca do pão, em regra apenas com esse uso.
Possuo, guardada algures na arrecadação, a faca do pão de
meus avós. De gume simples com um palmo de comprido e de cabo de alpaca, também
conhecida por “prata dos pobres” e que, ao que sei, foi prenda de casamento,
está gasta, bem gasta, no seu centro, de tanto ter sido afiada ao longo de
dezenas de anos. Mas naquela casa de lavoira, nunca teve outro uso.
O pão vende-se hoje em todo o tipo de comércio alimentar:
padarias, mercearias, cafés e pastelaria, supermercados… Também de porta a
porta, muito menos hoje que em tempos, mesmo os da minha infância. Era habitual
deixar-se o saco de pão pendurado na porta de casa, com o dinheiro correspondente
ou um bilhete indicativo, para que de madrugada o distribuidor de pão ali o
deixasse para o pequeno-almoço (ou primeiro almoço) familiar. Ou, em
alternativa e nos bairros mais antigos, descer-se o saco de pão por uma corda e
da janela, para que o padeiro o colocasse e depois fosse subido até lá acima. “Imposições”
dos tempos anteriores aos elevadores generalizados.
Uma das memórias visuais mais antigas que tenho, e que só
foi esclarecida já homem feito, é de um cesto de vime maior que eu, umas calças
e pés em sandálias com meias: o padeiro à porta de minha casa na sua entrega
diária.
Em termos históricos acrescente-se que o “bolo do caco”, pão
tradicional da Madeira, tem a sua origem nas incursões piratas oriundas do
norte de África. Não é, se se seguir a tradição, cozido em forno fechado mas
antes em cima de uma pedra aquecida nas brasas. Tal como o pão “Naan”,
tradicional na cozinha indiana, é tradicionalmente assim fabricado: pedra ou
chapa. E o motivo é simples: Não apenas um forno não é transportável (navios ou
caravanas terrestres) como nem sempre se encontra material que permita
construir fornos, com resistência ao calor.
O pão faz parte das nossas vidas, gostemos ou não das tradições
enraizadas.
Nestes tempos conturbados, em que o simples acto de o
adquirir se tornou em algo de excepção, muitos foram aprender a fazê-lo:
recorrendo às suas memórias, ao Pantagruel ou caderninhos de folhas já gastas e
com nódoas, ou ao que vão prendendo na web. Os que não querem ou não sabem nem
uma coisa nem outra, fazem as filas que vamos sabendo nas portas das padarias,
que têm agora horários e frequências condicionadas.
Sinal de alívio sanitário será o regresso do pão à mesa de
todos: de manhã, a meio do dia, pela ceia…
Que a falta ou escassez de pão, e para além dos prazeres da
boca, é um forte indício da crise que atravessamos.
Que não vos falte!
By me
sábado, 18 de abril de 2020
Festejos
As cerimónias oficiais do 25 de Abril, na Assembleia da
República contarão, este ano, com 130 pessoas, entre deputados e convidados. No
ano passado contaram com 700.
Ao que parece, há um montão de gente a querer que tal não
aconteça, argumentando que, no momento actual, será uma vergonha juntar tanta
gente quando se pede aos cidadãos para ficarem em casa.
Seria bom que essa profiláctica medida por tantos defendida
fosse extensível aos transportes colectivos, onde aqueles que trabalham têm que
se fazer transportar para manter o país em funcionamento (desde o pessoal da
saúde ao da limpeza, passando pelo comércio de alimentares, segurança,
bombeiros, comunicação social, etc.).
Com a redução de frequência e capacidade dos caminhos-de-ferro
e transportes rodoviários nos horários da manhã e do fim da tarde, é ver como
essas pessoas, que não possuem carro próprio nem podem ficar em casa, viajam
que nem sardinha em lata, sem um pingo de distância de segurança. E sem
dinheiro para eficazes máscaras protectoras.
Ao invés, todos aqueles que estiverem nessas tais
comemorações possuem carro, muitos com motorista, estarão 130 onde costumam
estar 700, e estarão presentes se o quiserem, não dependendo disso salários nem
comida na mesa.
É a revange direitista, ainda não conformada com a actual
governação e que mais não faz que protestar e pouco construir, que vive na
máxima protecção e sem graves problemas económicos na sua casa, que se chega à
frente numa atitude “bota-abaixo”, mais centrada no seu umbigo e ambições de
poder que em qualquer outra coisa fora da sua bolha de conforto.
Dirão que quem escreve estas linhas é de esquerda. Estão
certos.
Mas é igualmente certo que, antes de protestar ou “botar-abaixo”,
tento ver as diversas abordagens e visões de cada problema, ponderando
perspectivas e conceitos.
Neste caso, a atitude que quem contra tal sessão protesta
baseia-se num preconceito social, politico-partidário, cego a outras perspectivas
de sociedade.
Lamento ver tanta gente assim perturbada.
E sempre gostaria de ver que fariam estes agora
contestatários, se aqueles que fazem pão ou vendem o tomate decidissem ficar em
casa protegendo-se.
By me
sexta-feira, 17 de abril de 2020
.
“Sorria”, dizia o fotógrafo para o cliente.
“Não posso.”
“Vá lá! Um sorriso!
“Não posso!”
“Então porque não?”
“Esta fotografia é para a minha carteira profissional e eu
sou agente funerário.”
By me
quinta-feira, 16 de abril de 2020
Anónimo
José Silva, oitenta e um anos.
Viúvo, consta que bom filho, estremado marido e bom pai.
Honesto português, nunca escreveu um livro, mas teve filhos
e plantou árvores.
A polícia não o conhecia que não por umas multas de
estacionamento, ia com regularidade à igreja e nunca recebeu um relógio por
antiguidade na oficina.
Foi sócio fundador da União Recreativa, doador de sangue e
cumpriu serviço militar.
Faleceu há dias numa UCI e no seu funeral estiveram o padre,
uma filha e um vizinho.
Não consta dos obituários.
Nota adicional: isto é uma ficção, por contraponto ao
obituário que o mundo hoje divulga.
By me
Ferramentas
Foi há uns anos.
Decorria a guerra ao estado islâmico, o terrorismo estava na
ordem do dia, viam-se polícias fortemente armados pela cidade e os noticiários
começavam e acabavam com o tema.
Encontrava-me numa estação de caminho-de-ferro, em Lisboa, à
espera do comboio que me levaria a casa. Comigo tinha uma catana, acabadinha de
comprar numa loja de ferramentas e que seria usada para umas fotografias que
pretendia fazer.
Alguém entrou em pânico e denunciou-me à polícia e esta
veio: quatro agentes, que não das forças de intervenção, vieram identificar-me,
interrogar-me, com algum tipo de ameaça física. A coisa acabou bem, com direito
a algum humor pelo caminho e algumas cavaqueiras com um deles tempos depois.
No meio de todo esse processo, em que os demais cidadãos se
afastaram a medo para as pontas do cais de embarque, o meu Bilhete de Identidade
foi pedido e foi consultada via rádio a central de polícia sobre a minha
pessoa. E não repararam que o seu prazo de validade tinha expirado havia três
anos.
Investigações à portuguesa.
Vem este episódio já velho a propósito daquilo que se vai
falando sobre a eventualidade de se usarem os dados dos telemóveis –
geolocalização – para controlo da população, nomeadamente os infectados com o
covid19, e garantir que são cumpridas as normas e leis sobre isolamento e
quarentena.
Na sua essência, a ideia parece positiva. Numa situação de
excepção, medidas de excepção. Claro que o perigo consiste num eventual
aproveitamento destes dados para um controlo generalizado dos cidadãos, coisa
que põe em causa direitos fundamentais e que, em mãos erradas, pode ser muito
perigoso. Para cada um e para todos.
No entanto, não nos esqueçamos de duas coisas:
Por um lado isso já existe. As operadoras de
telecomunicações têm sempre disponíveis essas informações, quer seja com a
triangulação a partir das suas antenas, quer seja com a “localização” que
inocentemente muitos activam para acederem a mapas e outras aplicações e que,
volta e meia, é usado para publicidade que recebem e nem sabem como.
Por outro, a obrigatoriedade de se possuir permanentemente um
documento de identificação válido, que pode ser pedido em qualquer momento por
qualquer agente de autoridade e em qualquer local. E que qualquer desses
agentes pode usar para deter se sobre o cidadão houver qualquer mandato ou
pedido. Ou outra regra ou lei. E o documento tem que estar válido, quando não…
Na sociedade não somos anónimos! Nem invisíveis! Faz muito
tempo que o não somos. E querer fugir disso é uma utopia.
Cabe a cada um e a todos saber como essa identificação é
usada, por quem e com que objectivo. E limitar o acesso a esses dados de um
modo consciente.
Porque não há “ferramentas” boas ou más.
Tal como a minha caneta pode ser usada para uma lista de
compras, um poema de amor ou uma declaração de guerra, também o meu canivete
pode ser usado para descascar uma maçã, para talhar uma estátua ou erguer uma
forca.
By me
quarta-feira, 15 de abril de 2020
Para que recordem
Fala-se à boca cheia no retomar a tele escola, numa solução
de emergência.
Esquecem-se os muito mais velhos e os mais novos de uma
utilização de recurso com o mesmo suporte que aconteceu nos anos seguintes à
revolução de Abril: o ano propedêutico.
Em ’74 as passagens de ano e os exames foram tudo menos
normais. A contestação à “ditadura” do exame, a falta de orientações solidas
sobre a educação e todas as convulsões políticas de então levaram os responsáveis
a concluir que os estudantes do então chamado “curso complementar dos liceus”,
hoje “secundário”, estavam pouco ou mal preparados para cursarem o ensino
superior. Havia que obtivessem mais competências, ou o superior seria uma
tragédia. Por outro lado, as universidades não estavam capazes a receber tantos
estudantes. Nem do ponto de vista de instalações nem de docentes. Haveria que
fazer triagens pelo caminho.
Recorreu-se então a um ano lectivo adicional, chamado de “propedêutico”,
que hoje corresponde ao 12º ano do secundário.
Acontece que nos primeiros tempos (dois anos pelo menos) não
havia instalações nem professores que fossem suficientes para tal. Recorreu-se então
o ensino à distância, usando a estrutura da tele escola no que concerne à
antena usada: o 2º canal da RTP, única estação existente.
As aulas decorriam ao sábado e haveria que comprar os textos
de apoio ou sebentas publicas pelo ministério. Recordo as enormes filas de
gente em Lisboa, para os obter. Foram muitas horas, que os exemplares não eram
muitos e não chegavam para todos, todos os dias. Creio que os métodos de
impressão também não seriam como os de hoje.
Passados dois ou três anos criaram-se instalações “provisórias”
onde esse ano decorreria com mais normalidade, com alunos e salas de aula.
Fui aluno num desses anos de excepção, mas pouco assíduo às
aulas na TV. Nunca o concluí, que entretanto iniciei-me no ofício que tenho.
Quando hoje se fala na excepção ou inovação desta nova tele
escola não posso deixar de recordar esse tempo. E de confirmar que a memória
colectiva é sempre curta e adaptada às conveniências do momento.
By me
Provocações
Não tenho grande paciência para aqueles que passam o tempo a enaltecer as novidades no campo da captação de imagem (fotografia ou vídeo) e que, no fim de contas, não sabem contar uma história, não conseguem pôr o público a sonhar nem são capazes de serem fiéis ao que acontece em frente da objectiva.
No lugar de sonharem com o que não têm, saibam fazer um enquadramento que conte a história que querem contar; saibam tirar partido da luz que existe ou ajustá-la ao que imaginaram; saibam escolher a perspectiva que conduza (ou desvie) o olhar daquilo que se quer (ou não quer).
A maior parte dos que passam o tempo a “babarem-se” com as novidades são os que não têm um pingo de criatividade e são incapazes de tirar partido do que possuem.
Ou é necessário uma caneta com aparo de ouro para escrever um bom romance?
By me
terça-feira, 14 de abril de 2020
Gozos
“If you want someting
well done, do it yourself!”
Velha máxima que muitos
de nós aprendemos cedo e que ainda hoje seguimos.
Quando, há uma data de
anos atingi o astronómico número de objectivas possuídas – três: 28, 50, 75-150
- levantou-se-me um grave problema: como transportar tudo aquilo.
Não tinha carro nem carta
na altura, como não tenho hoje, e tudo o que transportasse seria em cima de
mim. E, preferencialmente, que não despertasse a cobiça a membros da CAPA –
Confederação dos Amigos da Propriedade Alheia.
As malas e sacos
existentes eram por demais evidentes no seu conteúdo, por um lado. Por outro ou
eram demasiado pequenas ou demasiado grandes. E se no primeiro caso não caberia
tudo, no segundo encheria eu com outras peças, sempre com o acréscimo do peso.
Portanto, tratei de fazer
o meu próprio saco.
O material de base seria
– e foi – sola. Isso mesmo, sola de sapato, comprada no mesmo local onde os
sapateiros se abastecem. Tinha a vantagem da durabilidade, robustez no formato
e discrição no olhar.
Com um formato
absolutamente rectangular, o interior foi forrado a veludo sintético. Os fechos
e a dobradiça feitos com pele de seleiro e ferragens em latão, vindas das
sobras do exército.
O seu interior estava organizado
da seguinte forma:
Na parte inferior, a
maior, lugar para a câmara ao alto e ao meio, sem objectiva e com o power
winder; de cada lado dela, um compartimento com o tamanho certo para uma
objectiva. Na tampa, usando elásticos largos, lugar para um conjunto de
filtros, pincel e papel de limpeza e dois ou três rolos.
Foi um trabalho duro, o
imaginar, aprender a fazer e usar os materiais e ferramentas para a tarefa. Mas
o resultado foi o que imaginei, forma e função.
Apesar disso, houve um
problema que não antecipei.
Os compartimentos
previstos para as objectivas, concebidos para acolher e proteger a maior, ao
receberem sobrepostas a 50mm e a 28mm tornavam particularmente difícil de
retirar a que, destas duas, ficasse em baixo. Era um exercício de agilidade
digital – de dedos – o conseguir agarrar a infeliz lá no fundo do
compartimento.
A solução foi usar uma
dica aprendida numa revista (na altura as revistam tinham dicas úteis):
Duas tampas traseiras de
objectiva solidamente unidas pelas costas, e que receberiam cada uma a sua
objectiva. Em puxando pela de cima, vinha a de baixo. Com a enorme vantagem de
ser menos uma tampa solta na mala, já que estaria sempre em uso com, pelo
menos, uma objectiva.
Da mala perdi o rasto.
Tenho a vaga ideia de, anos depois a ter emprestado, mas não garanto.
Já as tampas adaptadas…
aqui estão elas, ainda em uso.
E, hábito de então que
ainda não perdi: em vendo tampas à venda, da marca e mesmo que usadas, trato de
comprar. Nunca sei que uso lhes poderei dar. O único problema, hoje, é o
material de que são feitas: plástico rasca, que não se adapta ou aguenta a esta
técnica. Algumas, nem baioneta possuem, mesmo que da Pentax: limitam-se a encaixar
por pressão e nada mais.
Nada do acima descrito,
por si mesmo, melhorou a minha prestação enquanto fotógrafo. Mas deu-me muito
gozo!
By me
Créditos
Os especialistas em História dividem a existência humana em
várias épocas, com “momentos” vários como fronteira.
Eu não sou especialista, mas também tenho fronteiras que
considero vitais na humanidade: a invenção da escrita, a invenção da imprensa, a
invenção da rádio e a invenção da internet.
Em cada um destes momentos o pensamento, nas suas diversas
vertentes, passou a ser mais global, mais acessível no espaço e no tempo a
maior número de pessoas.
O exemplo mais completo é a situação que agora vivemos.
Com a pressão de controlar e acabar com a pandemia que nos
assola, é a comunicação e partilha do pensamento e saber que vão permitindo
saber em quase cada instante a forma como se dissemina e qual ou quais os
tratamentos médicos e sociais mais eficazes contra ela.
Não sabemos o nome de
quem inventou a escrita. Claro que sabemos quem inventou a imprensa: Gutemberg.
Assim como sabemos quem inventou a rádio: Marconni. Tal como a internet: Tim
Berners-Lee.
Nesta guerra em que cada um vai travando as suas batalhas,
tendo na linha da frente todos aqueles que vão mantendo a saúde, a alimentação,
a segurança e a higiene comum nos padrões possíveis, não nos esqueçamos de quem
criou a forma de o fazermos com a maior rapidez possível.
By me
segunda-feira, 13 de abril de 2020
domingo, 12 de abril de 2020
Meio cheio e meio vazio
A meio da tarde do domingo de Páscoa do ano da graça de
2020.
A praceta nas traseiras da minha casa está assim, tal como a
da frente de minha casa: cheia de carros. Numa tarde soalheira e tépida.
Em condições normais, talvez estivesse apenas meio ocupada,
que muitos seriam os que iriam aproveitar o bonito do dia.
Numa varanda desta praceta (obviamente que fora de
enquadramento) um casal a apanhar sol sentados e a ler: ele de tranco nu, ela
de T-shirt.
Esta pandemia e respectivo confinamento tem coisas boas,
saibamos tirar partido disso.
By me
Liberdade
“Posso discordar do que dizes. Mas bater-me-ei para que o
possas dizer!”
Não sei quem o disse ou mesmo se a citação está exacta mas,
ainda antes de conhecer a frase, já era a minha atitude.
A liberdade é algo que não se compadece com políticas mais
assim ou mais assado. Nem com teologias e fé.
A liberdade de ser e de pensar.
Quando alguma delas é posta em causa, é a liberdade no seu
todo que é posta em causa.
E contra isso me baterei!
By me
Serviço público
Ao longo da minha carreira, fiz de quase todo o tipo de
trabalhos relacionados com o meu ofício. Uns mais simpáticos, outros
francamente desagradáveis. De uns orgulho-me, de outros já nem tenho memória.
Dos que me orgulho saliento hoje em particular a transmissão
de centenas de missas.
Não sou crente, pelo que o seu significado directo pouco me
afecta. Das tarefas e detalhes dessas transmissões retenho boas memórias, já
que são trabalhos exigentes de per si. O tempo e o espaço em causa exigem
cuidados redobrados para que o resultado seja o que pretende. O áudio e o
visual têm que trabalhar juntos, numa harmonia que sempre se quer mas que,
neste caso, é mais exigente.
Mas um outro motivo me enche de orgulho: o conteúdo e o
público a que se destina.
Não será um trabalho de grande audiência. Desporto,
entretenimento, política, são campos com francamente maior audiência.
Mas quem vê e ouve uma missa pela “caixa que mudou o mundo”,
fá-lo porque quer mesmo fazê-lo. Porque se encontra impedido de estar no
templo. Doença, distância, confinamento, justiça, idade… são vários os motivos
que podem impedir um crente de estar na igreja, por muito que o queira. E o
assistir à eucaristia (domingo comum ou em dia especial) é o substituto
possível para algo muito importante para esses crentes.
Tenho para mim que a transmissão da missa, dominical ou
outra, faz parte da essência do serviço público. E tenho muito orgulho em o ter
feito.
Hoje estou em casa. O sistema de rotação de back up assim o
determinou. Mas, ao ligar o aparelho agora de manhã, fiquei com inveja dos
colegas que estão a transmitir a missa pascal da Sé de Lisboa.
Hoje, nos tempos que vivemos, este será o programa
televisivo mais importante para milhares de portugueses.
Com as igrejas fechadas, raros serão os que podem assistir
ao vivo a um dos momentos mais importantes da sua fé. Saber que fazemos o seu
substituto e ver aquele monumental templo com a celebração a decorrer e os
bancos absolutamente vazios faz-me arrepios pela espinha acima.
Ficará para a história que houve um ano em que a missa do
domingo de Páscoa não teve fiéis nos templos. E que fomos nós, os da rádio e da
televisão que levámos os templos a casa das pessoas.
Se isto não é serviço público no seu melhor, não sei o que
possa ser.
By me
Imagem da RTP
sábado, 11 de abril de 2020
Parte da minha colecção de tampas.
Conservada numa gaveta, tem peças mais comuns e peças mais
raras.
Algumas encontradas na rua, outras compradas para substituir
alguma perdida, outras só pelo gozo de as ter, outras ainda adaptadas ou
transformadas, outras já danificadas…
Claro que as tampas mais comuns e em maior quantidade são as
da frente de objectivas. Seguem-se-lhes as das traseiras de objectiva e as mais
raras são as de corpo de câmara. Raríssimas são as únicas: tampas de oculares,
tampas de sapatas de acessórios, tampas de compartimento de baterias ou tampas
de compartimento de encaixe de power winder ou motor.
Algumas são de tamanhos estranhos, outras de formatos
estanhos, outras de funções estranhas. Algumas ainda nem sei para que foram concebidas
que não apenas serem tampas.
Tenho tampas com história e outras que, de tão banais, nem
conheço a história.
Ainda no campo das tampas, poderia referir as de caixas,
malas e rolos de fotografia. Ou as da cozinha, onde tapaweres, tachos e panelas
têm uma variedade notável.
Claro que também tenho a tampa do prato do gira-discos, a do
cachimbo, a da lata de gasolina do Zippo…
Tampas soltas de frascos que se partiram também não faltam.
Não sei se me está a faltar alguma ou algum género, mas de
tampas físicas, palpáveis e fotografáveis não tenho grande falta.
By me
sexta-feira, 10 de abril de 2020
Tradições e modernidades
Sexta-feira santa de emergência
A tradição religiosa diz que nos dias santos haverá que
cuidar da família, ir ao culto e não trabalhar. Domingos, Natal, Páscoa.
Eventualmente no dia do santo padroeiro da localidade e no dia 13 de Maio.
Mas as tradições já não são o que foram e o guardar o “dia
do senhor” já não faz fé. Os horários e dias de trabalho desencontrados, as
máquinas de lavar e a mulher inserida no mundo laboral alteraram tudo isso.
Por isso, já não é tão frequente encontrar a roupa estendida
a secar principalmente à segunda-feira. Qualquer dia é propício para a higiene
de tecidos: vestir, mesa, cama… Lava-se quando se pode.
Em tempo de emergência e distanciamento social a roupa e o
seu cuidado não tem dia especial: lava-se e estende-se quando apetece, é
necessário e o clima permite. Mesmo numa sexta-feira santa.
Da minha janela confirmo isso mesmo: aqui e ali a roupa
estendida, a secar ou apenas a arejar, aproveitando o sol que vai rompendo por
entre as nuvens, não augurando chuviscos que estraguem planos domésticos.
Como a questão versa tradições e modernidades, achei que
deveria fazer o registo com as duas vertentes. Uma DSLR e uma objectiva
vetusta, dos tempos em que as tradições ainda vingavam: Uma Soligor Tele-Auto
200mm f/3,5, montagem TX.
Ao que consegui averiguar, através do número de série,
fabricada em 1973.
Para os que o ignoram, nesta época era banal encontrar
fabricantes de objectivas que construíam todo o conjunto óptico (vidros,
sistema de focagem, diafragma) de um modo standard mas por si mesmo não
compatível com nenhuma marca de câmara. Haveria que adquirir um anel de
adaptação, da própria marca ou de outras, para que funcionassem na câmara que
queríamos.
Tinha isto a vantagem de se poder usar a mesma objectiva em
várias marcas, permitindo ainda que o negócio de usados fosse comum e não
restrito a um fabricante de câmaras.
No meu caso, a objectiva é Soligor (ainda que fabricada pela
Tokina), o anel fabricado pela Vivitar e compatível com qualquer câmara que
aceite objectivas sem contactos electrónicos.
Nada de plásticos, nem em aneis de manuseamento nem no seu
interior, o que lhe dá um peso hoje em dia estranho, mas uma sensação de
solidez a toda a prova.
O resultado é equivalente a qualquer objectiva de grau
médio/superior tendo dois defeitos: a distância mínima de focagem - 3 metros –
e o párassol ser absurdamente pequeno porque integrado. Nada que não se resolva
com um anel de extensão, igualmente mecânico, e o recorrer à “mala da tralha”.
Neste caso não houve porque o fazer.
Gosto de usar objectivas antigas, de as escolher de algum
modo de acordo com o que estou a fotografar. Manias de quem gosta do acto
fotográfico no seu todo.
By me
quinta-feira, 9 de abril de 2020
Guerras de números
E porque já me chateia a guerra dos números, tratei eu de
arranjar os meus, baseado apenas nos números oficiais que nos são fornecidos.
Fui saber qual a percentagem de vítimas mortais com o covid
19 nos USA e em Portugal: 0,0045 e 0,004.
E fui saber qual a percentagem de infectados nos USA e em
Portugal: 0,12 e 0,14.
Claro que os números nos Estados Unidos da América são assustadores:
contabilizam-se em dezenas de milhar ou centenas de milhar. Em Portugal
fazem-se as contas em centenas ou em dezenas de milhar.
Mas também por lá contabilizam-se qualquer coisa como 327
milhões de habitantes e por cá consideram-se uns “míseros” dez milhões.
Mas feitas as contas, as proporções são semelhantes.
Acabe-se com a guerra de números e as comparações absurdas
baseadas em valores absolutos. E, repito, estas contas são feitas nos números
oficiais que ambos os países apresentam.
Qualquer dissemelhança com a realidade não é culpa minha.
Imagem editada da net
By me
Repensar
Esta crise que a humanidade está a viver terá, estou certo,
efeitos positivos para os que a superarem.
Desde logo o ponderar-se o conceito de solidariedade. Tanto
individual como institucional ou até nacional.
A forma como os recursos são geridos, tanto humanos como
materiais, a sua distribuição mais equitativa, os investimentos que cidadãos e
nações fazem nas diversas actividades comerciais e industriais, a formação que
cada individuo pode e deve ter, tanto no campo profissional como no da
cidadania…
Mesmo os conceitos politico-partidários podem e devem ser
reconsiderados, assim como as relações entre adversários políticos.
Mas até o conceito de competição desportiva deve ser
revisto. A sua importância em cada um e a relevância que tem ou terá no futuro.
Será importante competirmos quando a nossa fragilidade é tão evidente? Será
importante sermos melhores que outros, quando somos nivelados nas nossas
fragilidades?
Vale a pena repensarmos o como vivemos.
By me
AC/DC
Daqui em diante, quando lermos algures “AC” ou “DC”, teremos
que ponderar se será “Antes do Corona” ou “Depois do Corona” ou se referido a
Cristo.
Entre outros motivos, o Corona é mundial, enquanto que
Cristo não abrange todos os humanos.
By me
quarta-feira, 8 de abril de 2020
Apeteceu-me.
Apeteceu-me fazer esta fotografia, em 2013, e agora apeteceu-me
usa-la, ao dar uma voltinha no arquivo.
Porquê?
Bem, costumo dizer que “Se eu souber porquê sei como.”
O pior é que por vezes se sabe o como sem se saber o porquê.
E outras sabemos muito bem o porquê e nem desconfiamos o
como.
E isto é válido na fotografia e em tudo o mais da vida. Analogia
muito bem usada por Vilém Flusser no seu “A filosofia da caixa preta”.
Recomendo a quem não conhece, mas não sou responsável pelos
vosso actos depois de o lerem.
By me
Uma por dia
A imagem de cima foi feita com uma objectiva por mim
construída.
Montada numa câmara digital, é composta por um tubo de
extensão variável (dos usados para macrofotografia), uma lupa fixada numa tampa
de corpo de câmara que sacrifiquei.
Na segunda imagem usei o mesmo conjunto com a adição de um
disco de cartolina preta com um orifício circular ao centro, com cerca de 1,5cm
de diâmetro.
A terceira fotografia foi feita com uma objectiva zoom
convencional. As medições de luz foi feita usando os próprios meios da câmara.
Nenhum tratamento posterior que não a justaposição das três
fotografias.
Para além da definição óbvia, em que a do meio reproduz
aquilo a que alguns chamam de “boquet”, repare-se na ligeira mudança de
rendimento cromático, resultado da existência, ou não, do tratamento feito nas
superfícies de vidro.
Para quem quiser fotografar e dizer que a objectiva foi
feita por si. Ou para quem quiser fotografar com métodos antigos: objectivas de
fraca qualidade mas ajustável em função da abertura de diafragma ou, se
preferirem, se se aproveita integralmente a luz que atravessa os vidros ou
apenas a que passa pela zona central.
Se está confinado em casa e não sabe o que ou como
fotografar, eis um exemplo para os mais curiosos.
By me
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Uma pergunta
É uma daquelas perguntas que me vem assolando de há umas
semanas:
No meio desta pandemia, afectando todos por igual sem
distinção de condição social ou credo, onde estão os membros do clero?
Vemos os profissionais de saúde a dar o corpo ao manifesto
nos hospitais. Vemos os demais cidadãos a garantir que as necessidades básicas
continuam a ser satisfeitas, dos serviços ao comércio. Vamos sabendo que os
lares estão afectados seriamente, em utentes e cuidadores.
Mas não sabemos de sacerdotes ou freiras a cuidar dos
necessitados, tanto fisicamente como espiritualmente.
Não os vemos a acompanhar os terminais nos hospitais, nem
com hábito nem com bata. Não os vemos nas reportagens sobre os lares de idosos.
Não os vemos a prestar cuidados domiciliários aos que não podem sair de casa, por
doença ou incapacidade de outra ordem.
É possível que estejam em campo, a fazer tudo isto e ainda
mais, mas na discrição que a caridade material e espiritual impõe. Porque a
verdadeira é anónima.
Mas a verdade é que nem os membros do clero nem a igreja
enquanto instituição se manifestam ou deles sabemos.
Talvez que a protecção de mosteiros, conventos e seminários
seja acolhedora.
Dentro da mesma linha, também não vejo as igrejas a dar uso
aos imensos fundos que sabemos possuir por aquilo que cobram e recebem em
doações.
Mas isto digo eu que não sou crente e sou céptico quanto ao
papel social e humanista das igrejas, quaisquer que sejam.
By me
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