sexta-feira, 8 de junho de 2018

Um copo




Esta fotografia tem quase quarenta anos. A única diferença da original é o seu enquadramento, já que foi feita na vertical e digitalmente adaptada para este formato.
Foi usada uma já então não nova Linhof Kardan Color 9x12, fabricada em 1962. E, se a memória me não falha, usei Agfachrome ASA 100 daylight, filtrado na objectiva com um Kodak wratten 80A.
Foi executada na sala de jantar da família, bem depois de todos terem recolhido ás respectivas camas. Para iluminar, e uma vez mais se a memória me não falha, usei duas Argaphoto 500w, 3200 Kelvin, com papel arquitecto como difusor, tudo suportado por varões extensiveis de cortina de casa de banho, fixados na vertical. Suportes improvisados, que os tripés “à séria” eram particularmente caros então.
A imagem que aqui se vê é o resultado de uma múltipla exposição no mesmo diapositivo, sendo que a cada uma recuava um pouco a câmara para que o copo (e trata-se de um copo) ficasse mais pequeno na fotografia. No despolido da câmara tinha aplicado um acetato onde ia desenhando referências para garantir a sobreposição e simetria tão rigorosas quanto possível. Fiz uma só fotografia.
É reconfortante pensar que desta imagem, e para além dela, ainda possuo o fotómetro que usei (Seconic), a lupa de focagem, o copo, os varões e os casquilhos das lâmpadas. A câmara foi vendida num momento de aperto, as lâmapadas mandadas fora há pouco, porque já muito fora do rigor da temperatura de cor.
Será importante o recordar-me de tantos detalhes do fazer de uma fotografia há quase quarenta anos? Talvez não seja.
Mas certo é que as técnicas de então, em que cada fotografia era cara de fazer, em que o resultado só seria analisado no dia seguinte (na melhor das hipóteses), em que haveria que pré-visualizar na mente com rigor, fazia com que cada imagem fosse feita sabendo o seu resultado antecipadamente. E não com a expectativa de ser feita alguma correcção num editor de imagem se algo corresse mal. Não podia correr mal!
O facilitismo das técnicas de hoje não é negativo. Bem pelo contrário.
Mas leva a que a fotografia seja encarada por muitos com demasiada ligeireza, contando com um “depois se vê”, no lugar de se aprender com cada uma pelo tempo e raciocínio que a ela se dedica.
Hoje pode-se ter a mesma abordagem de rigor. Com melhores resultados.
Desde que se deixe a preguiça na cama.



By me

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