Naquele ano, uma das
propostas feitas a uma das turmas foi o fazer-se uma fotografia para ilustrar a
capa de um livro policial.
Discutimos o que é um
livro policial, falámos dos estereótipos, concebemos espaços e manchas a
preencher e deixar livres para títulos e grafismos de editor e cada grupo ficou
de conceber e executar um trabalho.
Um dos grupos, três
mocinhas, apresentou uma proposta que incluía um quase semi-nu. Por aquilo que
conversámos, nada que se são visse nos escaparates das livrarias, na secção dos
policiais.
E discutimos as técnicas
e as éticas envolvidas.
Acontece que a direcção
da escola onde isto decorria soube da coisa, chamou-me e interditou a
realização daquele trabalho em particular. Entre outros aspectos, puseram em
causa o que os pais ou encarregados de educação poderiam dizer, se soubessem
que na escola se faziam fotografias daquelas. Peremptória, a interdição.
Quando voltei a
encontrar-me com o grupo, expliquei-lhes a situação e trabalhámos uma imagem
alternativa, aceitável perante quem decidia.
No dia da execução do
trabalho, em que o estúdio estava por nossa conta, ele foi feito de acordo com
as indicações superiores: técnicas, estéticas e objectivos cumpridos de acordo
com o combinado.
Em terminado, e havendo
tempo disponível, disse-lhes que tinha que ir tratar de um assunto à
secretaria, que era coisa para demorar uma hora, mas que elas poderiam ficar
por ali, aproveitando espaço e equipamento. Entreguei-lhes um rolo virgem e
fui.
Nunca soube o que ali
aconteceu naquela hora. Mas quando regressei, depois de ter ido à secretaria,
ao bar por um café, ao pátio fumar dois cigarros e ter dado uns dedos de
conversa com quem por ali estava, o ambiente naquele estúdio era esplêndido.
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