“…
A obra de Arbus é um bom
exemplo de uma tendência da arte nos países capitalistas: suprimir, ou, pelo
menos, reduzir os escrúpulos sensoriais e morais. Uma grande parte da arte
moderna tem-se consagrado a baixar o limiar do que é considerado terrível. Ao
habituar-nos ao que, anteriormente, não suportávamos ver ou ouvir, por ser
demasiado chocante, doloroso ou embaraçoso, a arte modifica a moral, esse corpo
de hábitos psíquicos e sanções públicas que estabelece uma vaga delimitação
entre o que é emocional e espontaneamente intolerável e o que não é. A
supressão gradual dos escrúpulos aproxima-nos de uma verdade bem mais formal: a
da arbitrariedade dos tabus construídos pela arte e pela moral. Mas a nossa
capacidade de digerir o grotesco, cada vez mais evidente, nas imagens (fixas ou
em movimento) e na imprensa, tem um preço elevado. A longo prazo, funciona não
como um libertação, mas antes como um enfraquecimento do eu: uma
pseudofamiliaridade com o horrível reforça a alienação, diminuindo a capacidade
de reacção na vida real. O efeito provocado pela primeira visão de um filme
pornográfico ou pelas atrocidades mostradas na televisão não é muito diferente
do efeito provocado pela primeira visão das fotografias de Arbus.
…”
Texto by Susan Sontag, in
“Ensaios sobre fotografia”, 1977
Imagem by me
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