“Posso discordar
do que dizes, mas bater-me-ei para que o possas dizer”.
Não sei se a citação
estará textualmente correcta, nem sei quem o terá afirmado. O certo é que concordo
com ela até ao limite: A liberdade de expressão é algo que não podemos – eu não
posso – limitar ou coarctar, seja em que circunstâncias forem.
E dois motivos há
para tal:
À uma, porque se
admitirmos que se pode impedir alguém de dizer o que pensa teremos que admitir
que podemos ser impedidos de dizermos o que pensamos. Não gosto que me impeçam
de falar. (Argumento egoísta)
Depois, porque o
acto censório seguinte será o de impedir pensar. E isso, sabemos, é um dos
maiores desejos de qualquer ditador ou aspirante a tal. (Argumento político ou
filosófico)
Mas já me faz sair
do sério que algumas pessoas ponham ou tentem por em prática o que dizem ou
pensam, transformando-se em centro do universo e reduzindo os demais a meras
existências em seu proveito.
Lido regularmente
com gente com quem discordo de pensamento. Tento, na medida do possível, ser
urbano na troca de argumentos, ainda que, por vezes, a conversa descambe na
ignorância: aumento de volume de voz.
Mas quando vejo
algumas dessas pessoas a colocarem em prática o que pensam, ignorando os que os
cercam em prol dos seus interesses, por vezes mesquinhos, já não consigo
tolerar. Mesmo quando as suas acções não se reflectem directamente na minha
pessoa.
Eis um exemplo:
Recentemente tive
que agir numa acção em tribunal. Como testemunha.
Foi-me solicitado
por uma das partes e anuí. Porque sabia da justeza da sua pretensão e porque a
justiça, no seu conceito abstracto, é cidadania e devo ser cidadão por
completo, participando quando solicitado.
Tal como eu,
outros foram convocados para a audiência, depois de terem acedido a pedido da
parte em questão.
Pois uma dessas
pessoas achou que, num dos dias de convocatória, não deveria comparecer. Não
estava doente, nem distante, nem tinha alguém dependente de si. Apenas
argumentou que o seu chefe não achava conveniente para o serviço a sua ausência.
Por sorte para
todos, e na sequência de uma reunião de conciliação antes do julgamento, a audiência
não se realizou, nem se notando a sua não comparência.
Não gostei. Nem um
bocadinho!
Não apenas não
cumpriu com o seu dever de cidadão – colaborar com a justiça – como não honrou
o seu compromisso voluntário junto de quem lho pediu.
Temos tido, eu e
esta pessoa, diversa conversas ao longo dos anos em que os argumentos estão
diametralmente opostos. Irredutíveis, muitas vezes. Mas é legítimo – e saudável
– a não concordância e o ventilar ideias.
Mas, depois deste
episódio, isso não se repetirá.
Para além da
urbanidade que se impõe e dos deveres profissionais, não mais trocarei ideias –
ou piadas ou apartes ou outro tipo de convívio – com quem não cumpre os seus
compromissos voluntários, prejudicando terceiros, apenas porque socialmente não
é “recomendável”.
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