Na
versão electrónica de um jornal, duas notícias na secção “País”. Seguidas.
Uma
tem o título “Acidente: Uma pessoa morreu em colisão de veículos na Maia”. A
outra é titulada “Óbito: Morreu o presidente da Câmara de Sesimbra, Augusto Pólvora”.
Na
segunda faz-se uma resenha da vida do defunto, académica, profissional e política,
e é-nos dito que morreu de doença prolongada.
Na
primeira dizem-nos que além do morto houve mais um ferido mas que a fonte
informativa não soube informar género ou idade do falecido.
O
anonimato de um e a publicidade de outro torna uma das mortes menos trágica que
a outra? A morte prevista, porque de doença prolongada, é mais pungente que a
outra, súbita e imprevista? A vida de um, porque pública e notória, é mais
importante que a do outro, ignoto e anónimo? Perguntem aos familiares e amigos
de um e de outro.
Óbito
e acidente. Assim se tratam, ao mesmo tempo, políticos e Zé Povinho.
Por
vezes tenho vergonha do meu ofício.
By me
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