quinta-feira, 20 de julho de 2017

Notas



Eu não gosto de ser maltratado. Talvez haja quem goste, mas eu não gosto.
E uma das formas de ser maltratado de que não gosto é ser colocada em causa a minha honestidade ou bondade nas acções. Sem que me conheçam de lado algum ou tenham motivos pessoais para de mim desconfiarem.
Não gosto! Incomoda-me! Faz vir ao cimo o pior de mim!
É por não gostar que suspeitem de mim que não ando de avião. Ou no TGV francês. Ou no AVE espanhol. Qualquer um que embarque é objecto, sistematicamente e sem excepções, de revista aos seus bens e ao seu corpo. Como se todos os passageiros fossem potenciais criminosos e tenha que haver um despiste. De todos se suspeita, indiferenciadamente.
Como não gosto que suspeitem de mim, mais para mais sem me conhecerem, não gosto do tratamento a que me querem sujeitar. Pelo que não uso estes meios de transporte.
Mas há outra circunstância de que não gosto. Que me faz sair do sério. Que me faz ficar furibundo e recusar posteriores relações. Comerciais ou outras.
Refiro-me às lojas que fazem questão de verificar a validade do dinheiro que lhes é entregue para pagamentos. Passando as notas por máquinas ou tintas capazes de diferenciar as verdadeiras das falsas.
Isso é colocar em causa a minha honestidade, é supor que poderia eu entregar-lhes dinheiro falso. É suspeitar de mim, apesar de não me conhecerem de parte alguma.
Não gosto. E faço questão de lhes dizer que não gosto. E de lhes dizer que não tenciono regressar a um estabelecimento comercial onde todos os clientes são considerados falsários até prova em contrário. Eu incluído.

Dirão que tenho mau feitio. Pois que digam!
Mas tenho para mim que se não devo fazer aos outros o que não gosto que façam comigo, o contrário também é verdade: não gosto que façam comigo aquilo que não faço aos outros.
E eu não ando por aí a suspeitar de tudo e todos, entendendo que o mundo existe para me enganar, vigarizar, burlar ou fazer de mim vítima de um qualquer outro crime ou dano.

Mas o certo é que não quero relacionar-me com gente que suspeita de mim só porque sim e que me trata como um potencial criminoso.

By me

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