Há uns anos
valentes, e por decisão governamental, a rede de emissores e retransmissores de
televisão foi retirada da RTP para se constituir uma empresa autónoma.
Estava-se nas vésperas
do surgimento de estações de televisão privadas e o argumento de então para tal
decisão foi o de querer que todos, públicos ou privados, estivessem em pé de
igualdade no acesso à rede de distribuição. Evitando-se assim situações
monopolistas ou de privilégio.
Recordo que a TVI
de então ponderou a criação da sua própria rede de emissores, pensando em
rentabiliza-los com o então emergente negócio da rede de telemóveis. Nunca o
chegou a fazer.
A decisão do
governo de então foi polémica. A compensação dada à RTP pela perda do seu
investimento de anos tocou as raias do caricata e tragicamente pequeno e passou
ela a pagar pela utilização daquilo que construíra e fora seu. Parte, boa
parte, do afundanço económico da empresa ficou a dever-se a este “negócio”.
Antevê-se agora um
negócio inverso.
A empresa que detém
a rede de emissores de televisão vai comprar uma estação de TV generalista.
Privada.
Por outras
palavras, a equidade no acesso à distribuição de televisão vai ficar posta em
causa, ficando um canal privado com o monopólio da rede de emissores, podendo
fazer o negócio a seu modo e para seu benefício.
Indo mais longe, é
a mesma empresa que possui os emissores que detém a fatia de leão na distribuição
de televisão por cabo. As infra estruturas são suas, estando o país assente nos
seus cabos e fibras ópticas. Tal como detém uma grossa fatia na distribuição de
internete, tanto fixa como móvel.
É sabido que a
televisão, tal como a conhecemos hoje, está a prazo. Tanto a produção de conteúdos
como o seu consumo. A evolução das tecnologias e as preferências do público então
a mudar o modo de consumir e, a médio prazo, ver TV será tão anacrónico quando
o rodar uma manivela para chamar a telefonista.
Mas deixar ficar o
actual acesso à informação e entretenimento monopolizado nas mãos de privados,
podendo manipular conteúdos em prol de interesses económicos ou políticos e,
com isso, influir séria e notoriamente na vida do país, parece-me demasiado
perigoso.
A apatia
generalizada que se vive neste país no tocante às coisas públicas ou de serviço
público está a conduzir-nos, lenta mas firmemente, para uma sociedade onde cada
vez menos podemos decidir sobre a nossa vida e a dos nossos filhos.
E onde somos moeda
de troca em negócios gigantescos, mudando de mãos e de donos tal como os servos
da gleba medievais.
By me
Sem comentários:
Enviar um comentário