sexta-feira, 14 de julho de 2017

Antena



Há uns anos valentes, e por decisão governamental, a rede de emissores e retransmissores de televisão foi retirada da RTP para se constituir uma empresa autónoma.
Estava-se nas vésperas do surgimento de estações de televisão privadas e o argumento de então para tal decisão foi o de querer que todos, públicos ou privados, estivessem em pé de igualdade no acesso à rede de distribuição. Evitando-se assim situações monopolistas ou de privilégio.
Recordo que a TVI de então ponderou a criação da sua própria rede de emissores, pensando em rentabiliza-los com o então emergente negócio da rede de telemóveis. Nunca o chegou a fazer.
A decisão do governo de então foi polémica. A compensação dada à RTP pela perda do seu investimento de anos tocou as raias do caricata e tragicamente pequeno e passou ela a pagar pela utilização daquilo que construíra e fora seu. Parte, boa parte, do afundanço económico da empresa ficou a dever-se a este “negócio”.
Antevê-se agora um negócio inverso.
A empresa que detém a rede de emissores de televisão vai comprar uma estação de TV generalista. Privada.
Por outras palavras, a equidade no acesso à distribuição de televisão vai ficar posta em causa, ficando um canal privado com o monopólio da rede de emissores, podendo fazer o negócio a seu modo e para seu benefício.
Indo mais longe, é a mesma empresa que possui os emissores que detém a fatia de leão na distribuição de televisão por cabo. As infra estruturas são suas, estando o país assente nos seus cabos e fibras ópticas. Tal como detém uma grossa fatia na distribuição de internete, tanto fixa como móvel.
É sabido que a televisão, tal como a conhecemos hoje, está a prazo. Tanto a produção de conteúdos como o seu consumo. A evolução das tecnologias e as preferências do público então a mudar o modo de consumir e, a médio prazo, ver TV será tão anacrónico quando o rodar uma manivela para chamar a telefonista.
Mas deixar ficar o actual acesso à informação e entretenimento monopolizado nas mãos de privados, podendo manipular conteúdos em prol de interesses económicos ou políticos e, com isso, influir séria e notoriamente na vida do país, parece-me demasiado perigoso.
A apatia generalizada que se vive neste país no tocante às coisas públicas ou de serviço público está a conduzir-nos, lenta mas firmemente, para uma sociedade onde cada vez menos podemos decidir sobre a nossa vida e a dos nossos filhos.

E onde somos moeda de troca em negócios gigantescos, mudando de mãos e de donos tal como os servos da gleba medievais.

By me 

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