segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Um olhar – O nome fica para mim



Das três ou quatro vezes que a encontrei, nestes últimos talvez dois anos, foi sempre na mesma circunstância: ou numa estação de caminho de ferro ou num comboio.
Sempre aquele lamentável aspecto de alguém que envelheceu demasiado depressa, sempre aquela doçura no falar, sempre um pedido de ajuda.
Temos conversado, umas vezes mais, outras menos, quase sempre de olho no revisor. Na medida do que tenho podido, tenho ajudado. Que nunca me esquecerei do seu olhar e tom de voz quando, da primeira vez que nos cruzamos, e depois de termos passado pelo bar da estação onde uma sandes bolo e sumo (que já não havia sopa) lhe mataram a fome, me disse olhos nos olhos: “Sabes, este dinheiro, desta vez, é mesmo para pagar o quarto. Estou tão cansada…”.
Faz-me ela o especial favor de se recordar do meu nome, apesar de só me interpelar de uma forma diferente dos demais a quem pede se eu lhe dirigir a palavra. Nomes que trocámos da primeira vez que falámos, em que veio à baila a sua família, ascendente e descendente, e de como já quase nem sabe de uns e de outros.
Desta minha mania de fotografar olhares, o seu nome fica para mim. Que mo disse em voz baixa, quase que a medo que os circundantes ouvissem.

Até à próxima. Que se não for num comboio, talvez possamos ir por uma sopa, sandes e bolo. E sumo, claro.

By me

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