Das três ou quatro
vezes que a encontrei, nestes últimos talvez dois anos, foi sempre na mesma
circunstância: ou numa estação de caminho de ferro ou num comboio.
Sempre aquele lamentável
aspecto de alguém que envelheceu demasiado depressa, sempre aquela doçura no
falar, sempre um pedido de ajuda.
Temos conversado,
umas vezes mais, outras menos, quase sempre de olho no revisor. Na medida do
que tenho podido, tenho ajudado. Que nunca me esquecerei do seu olhar e tom de
voz quando, da primeira vez que nos cruzamos, e depois de termos passado pelo
bar da estação onde uma sandes bolo e sumo (que já não havia sopa) lhe mataram
a fome, me disse olhos nos olhos: “Sabes, este dinheiro, desta vez, é mesmo
para pagar o quarto. Estou tão cansada…”.
Faz-me ela o
especial favor de se recordar do meu nome, apesar de só me interpelar de uma
forma diferente dos demais a quem pede se eu lhe dirigir a palavra. Nomes que
trocámos da primeira vez que falámos, em que veio à baila a sua família,
ascendente e descendente, e de como já quase nem sabe de uns e de outros.
Desta minha mania
de fotografar olhares, o seu nome fica para mim. Que mo disse em voz baixa,
quase que a medo que os circundantes ouvissem.
Até à próxima. Que
se não for num comboio, talvez possamos ir por uma sopa, sandes e bolo. E sumo,
claro.
By me
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