domingo, 7 de fevereiro de 2016

No feminino



A coisa aconteceu ontem à noite, no regresso a casa.
Se quando embarquei no comboio ele estava quase vazio, cedo se encheu de gente, uma estação após outra. Ocuparam-se os lugares vagos sentados e muito do espaço em pé ficou preenchido.
No banco em frente ao meu, um casal. Sei que o era porque os ouvi conversar, apesar de ir eu muito concentrado no livro que ia lendo. Este.
Mas as suas conversas eram minimais, já que os seus smartfones seriam mais importantes que uma troca de opiniões em fim de dia.
Em qualquer dos casos, a senhora que ia na minha frente parecia um pouco interessada no meu livro. O seu olhar variava entre o ecrã na sua mão e as minhas páginas ilustradas, ainda que para ela de cabeça para baixo.
A dada altura não resisti eu, orgulhoso de ter encontrado a obra e com vontade de fazer passar a mensagem. Fechei o livro com a marca no ponto onde ia e estendi-lho:
“Tome! Dê uma voltinha! Dê uma olhada nas fotografias e veja que não há só fotografia no feminino na Europa ou Américas. Acho que vai gostar.”
Ficou encabulada, claro. E recusou. Mas a minha insistência e a sua curiosidade foram mais fortes. Sob o olhar também curioso e sobre o ombro do seu companheiro, lá se entreteve a passar as páginas e a ver alguns dos trabalhos aqui inscritos. E, nos entretantos, fui eu também dar uma olhada na minha electrónica de comunicação.
Devolveram-mo e saíram umas estações antes da minha, não sem que antes os seus agradecimentos fossem repenicados.

Com um pouco de sorte abri-lhes um horizonte desconhecido. E a noite foi profícua.

By me 

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