quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

A câmara



Uma ocasião, há já uns anitos valentes, tive que fazer um trabalho com um grupo de jovens, numa escola.
Haveria que pôr de pé um projecto, a partir do zero, com um tema genérico: “A câmara, a minha amante”.
O objectivo, escondido nesta proposta e a pedido da escola, era leva-los a tomar uma maior consciência dos cuidados a ter com o equipamento e que é tão importante bem cuidar dele como o resultado que dele tiramos.
Pondo de parte as questões técnicas e pedagógicas (a direcção da escola sempre pensou que o título era “a câmara, a minha amiga”) a verdade é que esta frase não é nenhum absurdo.
Apesar de ser usada na maioria das vezes, para registar seres humanos, ela tem um comportamento bem melhor que muitos deles.
A partir do momento em que é criada uma relação de intimidade com uma câmara, ela mantém-se fiel nos seus afectos, não enganando, não provocando decepções. Se a tratarmos com afecto e carinho, será exactamente isso que teremos de volta.
Mesmo que o tempo passe, que à excitação dos primeiros tempos se siga a rotina da cumplicidade recíproca, mesmo que a idade provoque uma menor elasticidade nas reacções, com avarias ou caprichos de momento, o certo é que a relação entre a câmara e o seu utilizador mantém-se fiel e forte.
Podemos ter inúmeras câmaras ao longo da vida. Teremos certamente, que as necessidades do que fazemos e os consumismos inúteis a isso nos impelem.
Mas o certo é que o relacionamento que tivermos com cada uma é exactamente o que teremos de volta.


Infelizmente, já não podemos dizer o mesmo de muitos seres humanos.  

By me

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