domingo, 12 de outubro de 2008

Sai sempre


No café da minha rua há um “Sai sempre”!
Trata-se de uma maquineta onde se introduz uma moeda de 50 cêntimos, roda-se o manípulo e obtemos uma bolinha minúscula transparente com um papelinho dentro. Dependendo do número neste inscrito, assim se é o feliz contemplado com este prémio ou aquele prémio. E porque há sempre um, “Sai sempre!”
Que se desenganem os incautos! Este entretém existe para que os promotores do jogo ganhem dinheiro e não os jogadores.
Assim, os prémios estão exibidos na parede, presos com um elástico a uma placa, (tal como estavam, há 40 anos, os cobiçados canivetes na venda na aldeia de meus avós). Em cada prémio está um número e é ver os jogadores, seja qual for a idade, a olhar para o papelucho na bolita e para a parede, tentado descortinar o que lhes coube em sorte.
Claro que na parede não consta qual a proporção de cada prémio dentro da traquitana e a maioria das vezes o que se recebe é um chupa-chupa ou um lápis. Terá sorte quem receber uma esferográfica. Sorte mesmo, da grande, é ter direito a um dos outros ali mostrados: relógio, de mesa ou de pulso, calculadora, caneta decorativa ou lanterna. O prémio grande, está bem de ver, é o skate, ainda por cima decorado com cores e marca do Benfica. E “Como quem não é do Benfica não é bom chefe de família”, muitos são os adultos que vão deixando as suas moedinhas na vã esperança que sorte ali lhes sorria como não o faz noutras circunstâncias.
E se os adultos o fazem, as crianças não lhes ficam atrás, chateando, pedindo, implorando por uma moedinha.

Pode ser que tenha sorte, vá lá!
Até pode ser que me saia a lanterna! Vá lá! Posso? Posso?

Pois é! Mais importante que as cores do Benfica, que o relógio, algoz inflexível da hora de deitar e acordar, que a calculadora a recordar as contas ou a caneta grande a lembrar as cópias, os ditados e os erros, mais que tudo isto é a lanterna o prémio cobiçado pela pequenada!
Que a noite é sombria e o foco na mão permite desvendar os mistérios sob os lençóis ou atrás do armário.
Sai sempre, mas a lanterna só aos sortudos!

(Nota extra: do meu cinto estão dependurados quatro estojos. Um contém uma câmara fotográfica, outro um Zippo, outro ainda uma lanterna, e finalmente um canivete. De crescido mesmo, creio que só tenho a barba e a barriga!)


Texto e imagem: by me

Sem comentários: