sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Grandes e pequenos


Certas conversas ou temas cedo me levam a transforma-las em discussões, acesas e incisivas. Outras vezes, os mesmos temas pouco mais fazem com que eu abandone a argumentação ou mesmo o local, na inutilidade de esgrimir ideias com certas mentes.

Um desses temas é a frase batida “Os sindicatos não prestam!”
Quem assim argumenta, define um sindicato como uma entidade abstracta e autónoma, com vida própria e quiçá personalizada nos seus dirigentes.
Mas aquilo que se esquece quem assim protesta, é que um sindicato mais não é que uma associação de pessoas (as mais das vezes assalariados) que os representa. E que os seus dirigentes são fruto de eleição ou contratação, consoante o país e as suas regras. E que a força de um sindicato é tanto maior ou menor quanto a força que os seus associados lhe derem!

O mesmo se passa com um país. Funciona bem ou mal em conformidade com as atitudes dos seus naturais.
Supondo que se trata de uma democracia (e mesmo que não o seja) os seus governantes são-no porque de alguma forma foram escolhidos e/ou tolerados pelos cidadãos. As decisões e linhas de rumo tomadas pelas cúpulas de um país reflectem, de alguma forma, a maneira de pensar e actuar dos seus eleitores.
Dizer que este ou aquele governante não presta ou que o povo é bera, é uma forma de alijar as responsabilidades que cabem a cada um dos que nele habitam. É passar o ónus da culpa para uma entidade abstracta, dando a entender que quem faz essas afirmações não apenas não é responsável pelo resultado das escolhas do colectivo como ainda que está à parte do povo, não fazendo parte dele.

Na actual fraseologia política, caiu em desuso a expressão “luta de classes” ou a relação “esquerda/direita”.
Fala-se em esquerda moderna, em liberalismo ou neo-liberalismo, em objectivos tendenciais e competitividade.
O conceito de “patronato” e “proletariado”, “classe dominante” e “classe dominada” são hoje “politicamente incorrectos” e poucos são os que os usam.
Em troca nasceram a “sociedade civil”, a “classe política”, os “pequenos empresários”, os “trabalhadores por conta de outrem”…

Mas, na prática, o que mudou foi apenas a nomenclatura.
Continua a existir quem queira mandar e mande e quem seja mandado e isso o permita! Os “grandes” continuam a sê-lo e os “pequenos” são-no cada vez mais.
Mas uma coisa é certa: os grandes só são grandes enquanto os demais estiverem de joelhos.
É que, quando mortos, vamos todos deitados. Excepção feita, que eu saiba, a William Shakespeare, que foi sepultado de pé!


Texto: by me
Imagem: “Nazaré, Portugal”, by Peter Fink, 1954

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