quarta-feira, 10 de abril de 2019

Minimalisno estético e semiótico




A maior parte das fotografias feitas nos dias de hoje por amadores ou entusiastas de fotografia são feitas para serem consumidas na web. Nos sites de fotografia, nas redes sociais, enviadas como mensagem.
Elas são consumidas em tamanhos que não ultrapassam, optimisticamente, um palmo de largo se em computador, poucos centímetros se em dispositivos moveis.
O tempo gasto por cada consumidor com cada uma dessas fotografias não ultrapassa os poucos segundos: cinco, na melhor das hipóteses.
E se é certo que as imagens são divulgadas, também é certo que quem as divulga quer algum tipo de resposta, um feed-back positivo de preferência. Um click para um um like, meia dúzia de palavras elogiosas.
Acontece que este consumir a correr, estes tamanhos minúsculos de imagens e a enormidade de fotografias publicadas faz com que não haja tempo para se interpretar toda a imagem, dos elementos que a compõem à forma como estão distribuídos e a respectiva mensagem. Do que resulta indiferença se a fotografia for complexa, cheia de conteúdo, sem leitura imediata ou fácil. Sem feed-back, portanto.
O que conduz quem produz fotografia, amador ou entusiastas, a minimalizar as imagens, a retirar elementos, a reduzi-las a pouco mais que simples grafismos, como que icones de um sistema operativo. Em que pouco há que pensar ou interpretar. Porque o agrado ao público é o principal objectivo e há que fotografar e exibir fotografias que lhe agrade.
Esta redução ao mínimo no acto fotográfico, se bem que venha a criar o chamado “estilo minimalista” está a “estupidificar” fotógrafos e consumidores de fotografia.
Imagens elaboradas, com diversas interpretações possíveis, com jogos de luz, cor, composição e elementos, que enchem a alma e nos fazem pensar, são coisas que estão a desaparecer. Da web, da imprensa, dos albuns.
E, com isto, a identificação cultural de quem produz e de quem consome.
As vertentes estéticas e semióticas dos povos, das culturas, dos quatro cantos do mundo, estão a aproximar-se, criando uma abordagem fotográfica uniforme, informe e incaracterística.
A vertente artística ou de expressão pessoal está a definhar, muito mais rapidamente do que gostaríamos.
Em breve, se não já, a fotografia mais não será que como as fontes de letra que usamos: padronizadas, imutáveis, iguais em todo o lado. E o seu uso para mais que dez linhas ou com mais de dois ou três centros de interesse e duas linhas de fuga será tão anacrónico quanto o saber apertar a cilha de um muar.


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