terça-feira, 4 de agosto de 2015

Obrigado



É normal, depois de uma actuação ao vivo, teatro, música, circo, o público aplaudir e os actuantes agradecerem os aplausos.
É uma rotina espectável: o público mostra que gostou, quem actua agradece o terem gostado.
E não acontecer uma coisa ou outra é entendido como rude, desagradável, mal-educado mesmo.
Eu sou do contra! Só aplaudo se me agrada. De facto me agrada. Aplaudir por aplaudir, só porque é obrigatório, soa-me a hipocrisia, a mentira institucional, a bancadas parlamentares. Não comigo.

Mas há uma ocasião ou circunstância em que vou bem mais longe que o simples aplaudir.
Em encontrando uma actuação de rua (mimo ou músico) que me agrade o suficiente para parar nos meus afazeres e ficar a usufruir do que ali me é “ofertado”, faço questão de aplaudir na pausa em que me afasto. Que nunca me afasto a meio de um tema ou representação. Isso sim, seria sinal de desagrado e rude.
Do mesmo modo, e em indo pagar o que assisti (sim, é um pagamento e não uma oferta ou esmola), faço questão de, ao deitar as moedas, agradecer.
A surpresa de aquilo encontrar sem o esperar e o agrado que me terá provocado merece um agradecimento personalizado, para além das moedas que possa usar para pagar o trabalho a que assisti.

No caso da imagem, um tocador de saxofone que me encheu a alma numa rua estreita de Barcelona. O sorriso que me deitou quando me ouviu provou-me, para além de qualquer dúvida, que estou certo no que faço.
Tal como o olhar que entrevi por cima de uma balaustrada de uma igreja românica, em Bordéus. Estava em restauro e nada havia de móvel no seu interior que não o órgão por cima da porta principal. E nele, um organista ensaiava, com um reportório variado quanto bastasse, do sacro ao muito profano. O seu ecoar naquelas paredes nuas de pedra tornaram aqueles mais de 45 minutos em algo de muito especial, em que o obrigado que lancei foi pouco para compensar aquele prazer insuspeito.

Não dou esmola a quem trabalha para mim. Muito menos se o que faz é algo que não sei fazer e que me agrada.

Pago o que é devido pelo prazer que tenho. As mais das vezes, muito abaixo do que deveria.

By me

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