terça-feira, 25 de agosto de 2015

Devaneio nocturno



Não gosto de dizer “É assim que se faz!”
Esta afirmação, explícita ou implícita, é o expoente máximo da arrogância de se possuir a verdade absoluta. Que eu não tenho.
Prefiro, antes sim, dizer ou mostrar como eu faço. Mostrar a “minha” verdade, considerando sempre que existem muitas outras verdades, tão válidas quanto a minha, mesmo que não conduzam ao mesmo resultado.
Ontem a conversa acabou por versar sobre imagens nocturnas. O que são e como o mostramos. E não tive oportunidade de fazer uma imagem e sobre ela escrever que consubstanciasse a minha verdade.
Recorro, por isso, a uma imagem e texto já com algum tempo.
Da validade da minha verdade e dos pressupostos que a ela conduzem aquilatará quem o ler.
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Só mesmo para iluminar alguns aspectos:
A “noite” urbana não se caracteriza, ao contrário do que geralmente se pensa, por “falta de luz”.
O que acontece é um muito acentuado contraste entre o que está iluminado e o que não está.
Montras, candeeiros, faróis, são fontes de luz cujas origens vemos e para as quais olhamos. A luz que delas emana não é suficiente para nos encandear mas suficiente para derramar alguma sobre as zonas circundantes. As mais distantes recebem tão pouca ou quase nenhuma que dizemos estarem na escuridão.
Essa escuridão é muito mais notória nos sistemas de captação de imagem que nos nossos olhos. Estes têm um “automático” que se ajusta quase que instantaneamente a esses contrastes, coisa que as câmaras (digitais ou de película) não fazem.
A técnica, ou o truque, na fotografia nocturna não é mostrar tudo quanto os nossos olhos vêm, mas antes evidenciar a existência desse contraste, permitindo que algumas zonas tenham luz suficiente para que seja visível o que lá está e tirar partido das zonas mais escuras, mostrando-as como tal. É este equilíbrio que é difícil!
Temos, assim, que muitas vezes para fazer fotografia nocturna não necessitamos de usar longos tempos de exposição para que haja detalhe nas zonas escuras. Basta que as deixemos como tal e que mostremos os detalhes nas zonas claras. E é esse contraste que nos dirá, espectadores, que se trata de uma imagem de noite.
Logo, se não usamos sempre tempos demasiadamente longos, não necessitamos sempre de recorrer a um tripé (que se quer pesado e sólido). Alguma firmeza de mão, algum eventual apoio para a reforçar (esquina, candeeiro, ombro amigo, “corrente de autoclismo”) e a coisa resolve-se sem mais complicações.
Antes de mais, o que importa é saber o que queremos mostrar ou, por outras palavras, que história ou estória queremos contar. “Se eu souber porquê, sei como”, como costumo dizer.
Em seguida, há o sabermos tirar partido daquilo que temos connosco para fotografar. Se não existe tripé, não adianta querer fazer tempos longos, pelo que haverá que encontrar outras soluções, mesmo que uma delas seja o “não fotografar”. Ou, se a câmara não permite tempos longos manualmente, saber enganar o programa nela inserido (o tal japonês inteligente) por forma a obtermos o resultado desejado e possível.
A título de exemplo, fica esta imagem.
ISO 400, não muito alto portanto, em modo “Programa” deixando o “japonês” a pensar, e com um ajuste de -3 EV, para forçar que o que estava na escuridão, ou quase, assim ficasse. Tempo de exposição 1/30 de segundo, perfeitamente compatível com o uso da câmara à mão sem suportes adicionais ou muletas de ocasião.
Já o balanço de brancos “WB” foi deixado em “luz de dia”, fazendo com que a iluminação ficasse amarelada ou esverdeada, factor subjectivo extra para que se tenha a percepção de se tratar de uma fotografia nocturna com a luz artificial de um local público.



Os meus cinco cêntimos

By me

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