quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Em defesa do trouxe-mouxe



Eu fui trouxe-mouxado e trouxe-mouxei e estou farto de ouvir debates que falam do trouxe-mouxe sem saber o que é o trouxe-mouxe. Para já, nenhum caloiro que nasce em Portugal é obrigado a fazer trouxe-mouxe. Só é trouxe-mouxado quem quer. E ser trouxe-mouxado ajuda o caloiro a integrar-se no Portugal dos trouxe-mouxes, atabalhoado e à lagardère: por exemplo, o dos "Mirós" vendidos ao desbarato. Como é que julgam que se chega lá? Os verdadeiros adeptos do trouxismo nunca estudam, passam anos e anos nas associações de jovens a aprender como se ganha os partidos a trouxe--mouxe e por isso chegam a dux do governo e a dux da oposição. O código do trouxe-mouxe da Academia da República é claro: cumprindo a tradição epidémica - até porque a causa das epidemias são geralmente os parasitas - rapidamente teremos um Portugal vestido de preto, submisso e rastejando com pedras amarradas aos pés, desnorteado, para glória da confusão do trouxe-mouxe. E quem for trouxe-mouxado, hoje, fá-lo convicto de que amanhã trouxe-mouxará outros, sempre na certeza de que - abrenúncio! - nada será feito estudado, pensado, debatido e programado. O Portugal do trouxe-mouxe estará, então, pronto para enfrentar a onda, à sua maneira. Isto é, não estará. E, então, quando a onda vier e o desastre se consumar, iremos dizer: não houve trouxe-mouxe. Foi um acidente. E será verdade, claro que foi. Acidente é o outro nome de Portugal.


O texto é de Ferreira Fernandes, publicado como “opinião” no “Diário de Notícias”

A imagem, desculpem vós e ele, mas não resisti e é minha.

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