sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

A pedra e eu



Isto é uma pedra. Apanhei-a de um jardim decorado há alguns anos.
De quando em vez transporto-a comigo, no bolso do meu colete. Até mudar de colete ou ter que lá transportar uma objectiva. É sabido que objectivas e pedras não se dão lá muito bem.
Mas também costumo tê-la na mão: no trabalho, à espera do comboio, no autocarro… sempre que sinto a necessidade de ter uma conversinha com ela.
Em boa verdade, não tenho nenhuma conversa com a minha pedra. As mais das vezes limito-me a ouvir o que ela tem para me dizer. Longas histórias sobre tempo, sobre a sua idade e sobre o quão realmente novito eu sou, sobre os nossos antepassados que ela conheceu, símios, dinossáurios e tal, por vezes apresentando-me a algum conhecido dela: uma montanha, um pouco de areia, outra pedra…
Passa ela muito tempo a explicar-me como frívolos somos, os humanos, quando nos batemos por um pedaço de terra, a mesma terra que já ali está muito, muito antes de virmos à superfície fluida do planeta. E que ali continuará a estar muito, muito depois de desaparecermos para sempre.
Também costuma mostrar-me o absurdo da pressa que temos na vida, quando nem sequer vemos um nascer do sol ou um arco-íris, quando não ouvimos os pássaros ou sentimos a brisa. Nós nem sequer nos apercebemos quando nasce uma estrela!
Quando a tiro do bolso e a acaricio na mão os meus colegas no trabalho dizem (ou pensam) que estou mais louco a cada dia que passa. Talvez que seja verdade, mas também é verdade que a chamada “sanidade mental” é aborrecida de morte.
Esses discursos que oiço da minha pedra conduzem-me a uma condição bem mais pacífica, a uma maior comunicação com o que me cerca, quer seja ao alcance da vista ou na outra ponta do universo. Por vezes bem que gostaria de ser uma pedra, com toda a sua imensa sabedoria.
Tenho duas outras pedras em casa. Semelhantes a esta no aspecto e matéria. Mas suponho que não se dão tão bem comigo como esta: não falam comigo. Talvez que entendam que não mereço as suas atenções.
É que, no fim de contas, são elas que nos possuem, e não o inverso como costumamos pensar.

Ou isso, ou sou demasiado ignorante para as entender.

By me 

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