Esta fotografia tem uns
cinquenta anos, mais ou menos uns meses.
Foi feita aquando da
minha quarta classe, no pátio da escola que frequentei.
Dos que aqui estão
recordo quase todos. Pela cara a maioria, pelo nome alguns. A uns acompanhei
por uns anos, noutras escolas e aprendizagens, aos outros perdi o rasto.
Mas o que recordo,
pessoas, espaço, árvore e janelas, não é agora importante. Esta fotografia,
encontrei-a num envelope, junto com mais quatro, onde consto. Terão sido feitas
por um fotógrafo profissional, que deveria correr pelas escolas da zona,
aceitando as encomendas da memória para a posteridade. Várias da mesma criança,
em várias situações, para que os familiares se sentissem tocados e as
comprassem. Nenhuma espontânea, mas todas marcando uma época.
Mas o que também marca
essa época, e acredito que o fotógrafo não contasse com isso, é o que consta no
envelope que as contém: o preço.
Escrito a lápis a quantia
de 100$00. Vinte escudos por cada fotografia.
E, se eu bem me recordo
daquilo que minha família contava de quanto ganhava na altura, e éramos
bastantes em casa, uma verdadeira fortuna. Para ser sincero, não quero imaginar
o que, nessa altura, terá sido deixado de fazer para que estas fotografias
tivessem sido compradas.
Pergunto-me agora se
hoje, em pleno séc. XXI, na era das tecnologias da informação e da banalização
da imagem, se alguém faria tamanha despesa. De uma forma ou de outra, toda a gente
tem uma câmara, tenha ela a qualidade que tiver. E aqueles que não as têm,
provavelmente já nem têm os seus filhos na escola.
E terão as imagens feitas
hoje o valor comercial que esta teve nessa altura? Ou, indo um pouco mais
longe: durarão as fotografias deste género, feitas com as técnicas e os
suportes de hoje, tanto tempo?
Fica o alerta para os
pais e avós dos tempos modernos para que acautelem e preservem as suas
fotografias. E, se quiserem por a sorrir ou pensar daqui por umas dezenas de
anos os que hoje são pimpolhos, ponham-lhes o preço atrás.
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