O texto, tal como a
fotografia, tem seis anos. O conceito que lhe está inerente tem muitos mais.
Tantos quantos a minha relação com a
imagem, fotoquímica ou outra.
Perpétuo – Não apagar!
Do séc. XX poucas são as
imagens de protestos ou rebeliões em Portugal.
É natural!
Se a fotografia era algo
quase que reservado para elites amadoras ou profissionais, também o regime
ditatorial não era particularmente simpático para com os registos de
intervenções policiais. Nenhum regime o é, mas numa ditadura o desagrado
transforma-se em antipatia agreste e violenta.
Em pleno séc. XXI a
massificação dos sistemas de produção de imagem (estática ou animada), aliada
às igualmente massificadas tecnologias de comunicação faz com que qualquer
manifestação pública possa e seja registada. Com maior ou menor qualidade,
plenas de emoção ou na frieza do olhar de um profissional do ramo.
Pergunto-me quantas, das
muitos milhares que agora são feitas, sobreviverão até ao final deste séc.,
mesmo considerando as eventuais evoluções das tecnologias e o quão obsoletas
sejam então as de hoje.
Porque, e convém que
tenhamos disso forte consciência, o que agora vai acontecendo em Portugal é
história. O que agora vai acontecendo nas ruas, na web, nos ministérios e nos
centros de emprego é, a todos os títulos, período único. Lamentavelmente único.
A história se encarregará
de o julgar, com a distância que a ciência impõe e baseada nos documentos de que
disporá. Relatos, fotografias, vídeos, desenhos, troféus.
É nosso dever, enquanto
protagonistas da história e colectores de imagens, garantir que nossa visão
chegue ao futuro.
E sendo certo que os
tempos que atravessamos serão objecto de dois julgamentos – o nosso, que o
vivemos, e o dos vindouros – deixemos a estes as provas dos nossos sentimentos
e vivências, garantindo que elas nos sobrevivem.
O apagarmos ou
destruirmos as nossas imagens é tão odioso quanto o trabalho da censura afecta
ao regime de Salazar ou a queima de livros pelos nazis, em ’33.
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