quinta-feira, 1 de março de 2018

Protestos e arquivos




O texto, tal como a fotografia, tem seis anos. O conceito que lhe está inerente tem muitos mais. Tantos quantos  a minha relação com a imagem, fotoquímica ou outra.

Perpétuo – Não apagar!
Do séc. XX poucas são as imagens de protestos ou rebeliões em Portugal.
É natural!
Se a fotografia era algo quase que reservado para elites amadoras ou profissionais, também o regime ditatorial não era particularmente simpático para com os registos de intervenções policiais. Nenhum regime o é, mas numa ditadura o desagrado transforma-se em antipatia agreste e violenta.
Em pleno séc. XXI a massificação dos sistemas de produção de imagem (estática ou animada), aliada às igualmente massificadas tecnologias de comunicação faz com que qualquer manifestação pública possa e seja registada. Com maior ou menor qualidade, plenas de emoção ou na frieza do olhar de um profissional do ramo.
Pergunto-me quantas, das muitos milhares que agora são feitas, sobreviverão até ao final deste séc., mesmo considerando as eventuais evoluções das tecnologias e o quão obsoletas sejam então as de hoje.
Porque, e convém que tenhamos disso forte consciência, o que agora vai acontecendo em Portugal é história. O que agora vai acontecendo nas ruas, na web, nos ministérios e nos centros de emprego é, a todos os títulos, período único. Lamentavelmente único.
A história se encarregará de o julgar, com a distância que a ciência impõe e baseada nos documentos de que disporá. Relatos, fotografias, vídeos, desenhos, troféus.
É nosso dever, enquanto protagonistas da história e colectores de imagens, garantir que nossa visão chegue ao futuro.
E sendo certo que os tempos que atravessamos serão objecto de dois julgamentos – o nosso, que o vivemos, e o dos vindouros – deixemos a estes as provas dos nossos sentimentos e vivências, garantindo que elas nos sobrevivem.
O apagarmos ou destruirmos as nossas imagens é tão odioso quanto o trabalho da censura afecta ao regime de Salazar ou a queima de livros pelos nazis, em ’33.

By me

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