E porque se
aproxima a realização de mais uma “Feira do livro de fotografia”, aqui fica um
texto de arquivo sobre o evento, escrito há três anos.
Uma ocasião
pediram-me para usarem esta fotografia numa revista electrónica.
Claro que me senti
lisonjeado e acedi, com a ressalva que ela tinha sido feita em torno do soneto
“Liberdade querida e suspirada”, de Bocage, e que deveria ser publicada junto
com ele. Acederam.
Qual não foi o meu
espanto quando vejo, tempos depois, o referido soneto escrito sobre o lado
esquerdo da fotografia. Letras brancas sobre o fundo escuro.
Não gostei. Nem um
nico. Que, ao fazê-lo, todo o jogo claro/escuro que eu tinha criado se perdia
com a mancha branca das letras. Não gostei!
Disse-o a quem o
havia feito, tive que insistir e ser veemente e, vantagem dos processos
digitais e on-line, foi alterado: o soneto escrito ao lado da fotografia, ambos
impolutos e originais.
Não aceito que um
editor de uma publicação subverta assim o trabalho criativo de um fotógrafo,
seja o trabalho bom ou mau.
Sendo dado como
pronto pelo autor, qualquer alteração sobre ele é criar nova obra, já não
passível de respeitar a ideia original. Não aceito!
De igual modo não
aceito que fotografias sejam impressas a duas páginas. Numa revista talvez
escape, tal como num jornal. Mas não, de forma alguma, num livro.
A união das
folhas, e porque a lombada e espessura do livro assim o obriga, impede o ver-se
continuadamente todos os elementos (objectos, formas, cores, luzes, movimentos)
que constam na imagem, desvirtuando-a e criando outras formas de leitura.
Uma fotografia
impressa a duas páginas não é a fotografia original mas antes uma outra, com
outro “ritmo”, gestão de interesses, sentidos de leitura, fraccionando-a mesmo.
E se o fotógrafo
que a criou quis colocar algo em determinado ponto do espaço, desvalorizando
todos os outros, não faz sentido, melhor, é um aviltar o trabalho original o
impedir essa leitura ou importância.
Não gosto, não
quero, não consumo!
Vem tudo isto a
propósito de ter estado na “Feira do Livro da Fotografia”, em Lisboa. E que
ainda decorre hoje, Domingo.
Nesta feira, entre
outros aspectos, dá-se ênfase aos trabalhos de autor, às publicações que, mesmo
com tiragens reduzidas, representam as abordagens de fotógrafos contemporâneos
que usam este meio para divulgar os seus trabalhos. A sua forma de ver e sentir
o mundo. Só posso aplaudir.
Acontece que
alguns destes trabalhos exibem imagens a duas páginas. Impedindo o acesso
integral à fotografia original.
Comentei isso com
uma das pessoas que estava numa das bancas e a resposta surpreendeu-me. Ou não.
Perante o meu
“Porque é que insistem em publicar fotografias a duas páginas?”, ouvi:
“Ah… e tal… é para
dar ritmo ao livro… um livro não é apenas as fotografias exibidas, também tem
personalidade própria…”
Ora batatas!
Então quando
escolhemos um livro estamos a querer ver as fotografias de um determinado
fotógrafo ou estamos a querer ver o trabalho de um determinado editor ou
paginador?
Não questiono o
trabalho destes. Ao fim e ao cabo, o tamanho das páginas, a ordem pela qual as
fotografias são exibidas, se na página esquerda se na direita, se ao alto ou ao
baixo, se todas com a mesma orientação ou salteadas… tudo isto faz parte do
trabalho criativo de quem concebe e pagina um livro.
Agora, por favor:
Não queiram, com o
pretexto da criatividade do paginador ou editor, subverter, adulterar,
estragar, o trabalho de quem fotografou e que, no fundo, é a razão de ser do
livro em si.
Vim da Feira da
Livro da Fotografia com cinco livros. Que me deixaram com a carteira mais leve
mas com a alma bem mais alegre. Trabalho de autor, compilações, texto,
localização geográfica, históricos.
Mas nenhum com
fotografias a duas páginas.
A liberdade
criativa de um termina quando começa a liberdade criativa do outro!
By me
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