Vivemos com o medo, do medo e para o medo.
Temos medo da carência económica, da falta de saúde, da
criminalidade, do desconhecido, das catástrofes naturais, do pecado, dos
acidentes de viação.
E, porque temos medo, entaipamo-nos, vigiamo-nos,
protegemo-nos. E construímos altos muros farpados, refugiando-nos atrás deles e
afirmando estarmos livres e seguros. Dentro de muros!
Claro está que há quem tire lucro dos nossos medos. As
polícias, os farmacêuticos, as igrejas, os exércitos, os políticos. Vêm ter
connosco e dizem-nos: “Temei, oh gente, que o perigo espreita! Mas
regozijai-vos, oh crentes, que nós aqui estamos para vos proteger!”
E nós vamos comprando as mezinhas, permitindo as devassas,
engrossando as fileiras, pagando os dízimos e votando em quem afirma que fará
ou que faria se.
Àqueles que não o fazem, que dizem não ter medo e que não
alimentam os negócios do terror, chamamos nós (eles) de inconscientes, de
loucos, de ingénuos, de perigosos agitadores. E marginalizamo-los,
prendemo-los, drogamo-los, eliminamo-los da temerosa convivência social.
Claro está que, em tendo medo e em havendo como o minimizar,
o medo desaparece e, com ele, o negócio de quem vive e lucra com o nosso medo.
Assim, há que manter, alimentar, reforçar o medo individual
e colectivo. Mantendo-o naquele ponto exacto em que não desesperamos mas vamos
entregando o que nos pedem para não o ter. E pagamos, permitimos, engrossamos,
acreditamos, votamos.
Para manter este nível de medo, temor ou terror, esta ponte
entre quem o tem e quem o apazigua, existe uma outra actividade que se alimenta
das duas partes: a comunicação social. Procuram as razões para ter medo,
divulgam-nas, incentivam-nas. Os vendedores de tranquilidade agradecem e
retribuem, fornecendo-lhes as notícias que divulgam, e os temedores, que vão
alimentando os seus medos e sossegos com as notícias que lêem, vêem ou escutam,
vão consumindo os media. O único medo que os media têm é não haver motivos para
ter medo!
O medo é tão velho quanto a outra profissão! E, mesmo que
não saibamos em concreto o que está atrás da porta do bordel, vamo-nos
prostituindo todos os dias, alimentando os fazedores de medo, cedendo na nossa
liberdade e convicções em troca de uma aparente segurança.
Aparente porque não a queremos, aparente porque não a
permitimos, aparente porque inconveniente.
E, cada vez mais, os oficialmente chamados terroristas têm o
trabalho facilitado. Que as indústrias, os exércitos, as igrejas e os políticos
fazem, e bem melhor, o trabalho por eles.
Que os reais atentados, à bomba, a tiro ou de colarinho
branco, são cada vez mais inúteis. Basta, no seu lugar, que se diga, que se
sussurre, que se sugira que podem acontecer. E o terror virtual instala-se,
para gáudio e proveito de quem dele se alimenta.
Entretanto, nós continuamos a viver com o medo, do medo e
para o medo!
By me
Sem comentários:
Enviar um comentário