Caminhava calmamente pelo corredor, saindo da luz do sol e
entrando na obscuridade das lâmpadas do centro comercial.
Entre o seu cabelo alvo, já um pouco rarefeito, e o casaco de
cabedal um pouco coçado, um bigode farfalhudo e bem aparado compunha-lhe a
cara.
A sua mão esquerda apoiava-se numa bengala, que manuseava com
destreza, bem a compasso do seu caminhar e parar.
Porque ele parava! A cada meia dúzia de passos olhava para
quem lhe estivesse mais próximo e cantava-lhe. Desafinado e já com falta de
voz, repetia sempre os mesmos acordes e o mesmo verso antigo de nem sei quantos
anos:
Et maintenant, que vais-je faire…
Eu, bem como os demais que ali estavam a almoçar, olhámos uns
para os outros, meio espantados como insólito da situação. Mas nem a empregada
que ali atendia, nem o segurança a uns metros de distância, lhe prestaram
atenção. Deduzi que se trataria de um frequentador habitual do espaço, como
tantos outros reformados que usam os centros comerciais como forma de matar o
tempo que lhes sobra.
Este… bem, este ainda verbaliza o seu problema, de quem se viu
sem ocupação e, talvez, sem com quem partilhar a sua amargura.
É tão difícil – e absurdo – definir normalidade!
By me
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