quinta-feira, 30 de junho de 2016
Salazar
Há uns anos, e na secção dos utensílios de cozinha de um supermercado, ouvi uma voz infantil exclamar:
“Olha mãe: um Salazar!”
Logo seguido de uma voz feminina em protesto:
“Cala-te filho! Isso não se diz!”
Ainda fui a tempo de a ver a arrumar um destes no respetivo lugar. Era de uma cor vistosa, fluorescente, que dificilmente se deixava de ver.
Consigo imaginar que na casa daquela família se fizessem comentários pouco abonatórios ao então primeiro-ministro. E tivessem feito uma adaptação de alcunhas.
Tropeço agora neste conjunto de três, numa daquelas lojas de utilidades/inutilidades para o lar, franchisada ou não, que pululam nos centros comerciais.
Mas achei graça o serem em cinzento. Não apenas o cinzento não é a cor tradicional em termos de higiene, como por serem cinzentos, neutros sensaborões cromáticos os rapa-tachos, popularmente conhecidos por “salazar”, que tudo rapava do fundo dos tachos.
Aquilo que eu não esperava, confesso, foi o que se lhe seguiu, minutos após a aquisição: Comentado o troféus e os pensamentos associados, oiço dizer: “Ah, mas é do Jamie Olivier. Muito bom!”, como se o simples facto de ter essa assinatura transformasse um objecto banal e vetusto em algo especial, de vitrine.
Ainda não tive oportunidade, mas irei fazer uma comparação exaustiva de formatos e materiais entre estes e um clássico. Quem sabe se o cabo será diferente quanto baste para justificar fama e custo.
By me
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Leio num jornal diário
que o director do museu da presidência terá sido detido na sequência de
investigações da polícia judiciária.
Faz sentido! Se
abusou dos poderes que tinha, se usou de bens que não seus para proveito próprio…
faz sentido que seja julgado em tribunal.
Já agora, recordo
as fotocópias dos livros de estudo para os filhos, os clips do economato, o
agrafador que se “perdeu”…
Os abusos devem
sempre serem controlados e punidos. Nos museus e fora deles.
O que me choca é o
subtítulo ou o título para outra notícia: “ Marcelo já deu instruções para total
transparência e cooperação com autoridades policiais.”
E era preciso
fazê-lo? E é preciso divulgá-lo?
Notícia seria, das
grandes, se as instruções fossem de sentido inverso.
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No dia em que o
mundo ficar reduzido a espaços fechados, controlados por polícias, chips
implantados, câmaras de vigilância e demais parafernália…
Nesse dia deixará
de valer a pena viver: apenas existiremos!
Entre casas,
cidades ou países, a diferença é só no tamanho. Continuam a ser espaços
fechados!
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O altar
O mês de Junho é o
mês dos santos populares.
Confesso que nunca
percebi lá muito bem isso, porque me leva a concluir que todos os outros santos
não são populares. E no entanto, atente-se, há mais santos no calendário que
deputados no parlamento, o que é obra.
Em qualquer dos
casos, e para não destoar da época, montei um altar ao santinho da minha devoção.
Só não está
montado todo o ano porque, mais que adorar, prefiro praticar. Fotografia e tudo
o mais na vida.
By me
quarta-feira, 29 de junho de 2016
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Leio um artigo num
jornal em que se fala do novo museu em Lisboa – MAAT ou Museu de Arte, Arquitectura
e Tecnologia, da Fundação EDP.
Aplaudo a sua
criação e fico curioso em o visitar.
Fica, no entanto,
o aviso:
Se eu tiver ali o
mesmo tratamento que tive no Museu da Electricidade, nas exposições do Centro Cultural
de Belém e na Fundação Arpad Szenes Vieira da Silva, garanto que terão um
visitante a menos para sempre.
Que tratamento? O
recusarem a minha entrada com a minha mochila ou saco fotográfico, ao mesmo
tempo que outros, com volumes equivalentes entravam sem serem questionados ou
impedidos.
De acordo com
eles, eu poderia entrar mas a minha mochila ou saco teria que ficar na entrada.
Digamos que foi
uma triagem a olho, ao critério dos vigilantes na entrada, que não me agradou
nem um nico.
Espero para ver
como aqui agirão.
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terça-feira, 28 de junho de 2016
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E quando me tornarem
a dizer que tenho uma atitude parva em relação ao futebol, apenas referirei o
que hoje se diz do jogo de ontem: humilhação.
Num jogo de
oitavos de final (é preciso ser-se bastante bom para se chegar aos oitavos de
final) o resultado é de 2-1. Num jogo em que obrigatoriamente terá que haver um
vencedor, não sendo aceitável um empate. Um jogo que acaba com a diferença mínima.
Humilhação porquê?
Porque uma equipa ganhou? E não era isso que deveria acontecer?
Humilhação porquê?
Porque uma equipa perdeu? E não era isso que deveria acontecer?
Humilhação porquê?
Porque não foi o favorito a ganhar?
Humilhação porquê?
Perder um
confronto em que terá que haver um vencedor e um vencido, e pela diferença mínima,
é uma humilhação?
Humilhante é tanta
gente fazer depender a sua felicidade, ou mesmo só satisfação, do esforço de um
pequeno grupo de gente. Que, por sinal, nem sequer foram escolhidos pelos cidadãos
ou por alguém escolhido pelos cidadãos, mas apenas dentro de um circulo fechado
de negócio que são as federações de futebol.
Se eu gosto de
futebol? É bem claro que não gosto e porque não gosto.
By me
segunda-feira, 27 de junho de 2016
Fotografia ou retrato?
Por vezes temos
destas surpresas e curiosidades!
Veio parar-me às mãos
um livro interessante, do ponto de vista histórico. Intitulado “Tirée par… A rainha
D. Amélia e a fotografia”, é uma colectânea de fotografias da rainha e feitas
pela rainha, no final do séc. XIX e inícios do séc. XX.
Fotografias
formais, descontraídas, de cerimónias, de passeios, de visitas oficiais, no país
e no estrangeiro… interessante.
A preciosidade, do
meu ponto de vista, é esta fotografia da rainha.
Feita por Vidal
& Fonseca, em Lisboa e algures entre 1890 e 1899, trata-se de uma fotografia
de estúdio, como tantas outras.
A retratada de pé,
provavelmente com algo atrás, ainda que oculto, onde se encostar para evitar imagens
tremidas, uma luz suave, um fundo pintado e esfumado… uma fotografia normal
para a época não fora o facto de a perspectiva ser demasiado baixa para a época.
Se observarmos
bem, o eixo da objectiva encontra-se a, talvez, um metro do chão e não perto da
altura do rosto ou olhos como era e é habitual.
Esta questão, que
não é certamente uma limitação técnica, não é de somenos importância. Se
atentarmos ao olhar da retratada, constatamos que ela olha para além a acima de
nós (e da câmara) numa atitude de quem vê mais do que apenas o que a cerca.
Quase como que se a câmara (ou o espectador) ali não estivesse.
É esta perspectiva
contra-picada (de baixo para cima) que faz desta fotografia algo de especial, que
transforma uma fotografia num retrato, que justifica o livro e que me fará ir
em busca demais trabalhos do estúdio onde foi feita, para tentar saber se terá
sido uma opção pontual neste trabalho ou uma abordagem usual dos seus fotógrafos.
Nesta pesquisa
tenho para procurar, e para além da obra referida no livro, o arquivo fotográfico
municipal de Lisboa, duas bibliotecas específicas na matéria, a minha própria
biblioteca e algumas pessoas a quem farei algumas perguntas.
Mas não me peçam
prazos, por favor.
By me
domingo, 26 de junho de 2016
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Juro que não
entendo nem aceito tanta histeria em torno de um campeonato de futebol, jogado
lá fora por uns muito poucos, quando cá, todos juntos, não conseguimos melhorar
o país!
Cresçam e
apareçam, sim!?
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Mudando de assunto
Só para não
falarmos sempre do mesmo – europeu, brexit, Trumps assustadores, auditorias
inconsequentes ou congressos mal cobertos – um assunto completamente diferente:
Quantas meninas,
nos últimos sete dias, foram genitalmente mutiladas em rituais bárbaros, perpetrados
por mulheres elas mesmas mutiladas quando meninas?
Boa noite!
By me
sábado, 25 de junho de 2016
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Apesar do ofício,
continuo a defender o mesmo de há trinta e tal anos:
Não adianta
avançar na tecnologia, mergulhar nas electrónicas, abraçar as novidades… se os
conteúdos continuarem na mesma, ou ainda pior.
Isto é válido em
televisão, em cinema, em fotografia!
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Não que seja muito
importante.
Mas completam-se
hoje seis meses que fumei o último cigarro.
E, já que falamos
de efemérides, saiba-se que ainda não passaram 24 horas desde que fiz a última
fotografia.
E se há coisas que
se espera repetir amiúde, outras há que se espera nunca repetir.
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sexta-feira, 24 de junho de 2016
As tendências da moda ou a miscigenação de culturas
Ele tinha uns cinquenta bem medidos, assim como ela. O cabelo grisalho de ambos assim o denunciava.
Ele tinha chapeu e sapatos pretos, ela segurava o cabelo com uma mola azul e as sandálias eram pretas.
A mala de plástico branco a tiracolo dela fazia "pandan" com a massa branca do óculos grossos dele.
O fato dele era cinzento claro e a camisa, azul estava aberta uns quatro botões
Ela tinha um camiseiro leve em azul turqueza e uma saia de ganga, comprida até aos pés como manda a tradição cigana, com rasgões da moda, púdicamente forrados por dentro.
Quando sairam de sob a pala da estação e caminharam para uma das camiotetas, ele seguia à frente, ela uns dois passos atrás, de acordo com a tradição.
(Não! A fotografia não é da saia em causa, que serei louco mas não maluco)
quinta-feira, 23 de junho de 2016
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Sabem o que tem
graça?
É não me lembrar da
última vez que a classe de jornalistas, em Portugal, criticou em público um
jornalista.
Punindo-o de acordo
com os estatutos e lei vigente.
Será que a memória
me está a atraiçoar????
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Incrível!
Os canais de Tv
estão a gastar quase tanto tempo de antena no referendo no Reino Unido quanto o
que estão a gastar com o Europeu de Futebol.
Está tudo perdido!
O futebol a perder terreno.
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quarta-feira, 22 de junho de 2016
Do sobre a utilização da imagem fotográfica – parte 11
Tenho vindo a
afirmar, ao longo dos tempos, que fazer ou ter uma fotografia é o resultado de
um sentimento de cobiça ou desejo de pose. Por aquilo que nela está iconificado:
o pôr-do-sol, a pessoa, o objecto.
Apenas para dar um
exemplo que consubstancia esta afirmação, quantos serão os que fotografam e
exibem objectos que possuem? Com que lidam todos os dias? A excepção será,
talvez, quando a fotografia e a sua exibição sirva para demonstrar que se
possui o retratado – pessoa ou objecto.
E quanto mais
precioso é o iconografado mais sacramentalmente se guarda a imagem: álbuns
especiais para aquelas férias ou casamento, molduras caras para este ou aquele
retrato de um parente ou amado e, cereja no topo do bolo, a carteira onde
constam as fotografias de parentes, em regra muito queridos, vivos ou não. E,
quando se fala nos filhos, netos, namorado/a ou pais, aí está a carteira (mais
modernamente o telemóvel) onde se encontram as fotografias mais recentes ou
significativas.
Mas a fotografia
também é uma manifestação de afectos negativos! Fotografa-se o acidente, o
insólito, o feio, o incómodo!
E, aqui, há dois
tipos de motivos: Ou o exaltar o fotógrafo, mostrando assim, com a fotografia,
que ele esteve no local, que testemunhou aquela situação ou, menos frequente
mas real, como forma de exorcismo do mal retratado, tentando assim que o
iconificado não passe disso e não seja parte integrante da vida do fotógrafo ou
exibidor.
Um pouco como
sucede com as anedotas, de que tanto nos rimos, e que, se bem as analisarmos,
nunca falam de coisas agradáveis ou boas que tenham sucedido aos
intervenientes. Pelo contrário, rimo-nos com o mal dos outros como que, com o
riso, possamos afastar a possibilidade de o mesmo nos acontecer.
Mas há ainda uma
terceira atitude negativa que é tida perante a fotografia. Neste caso, não
perante o acto de a fazer mas antes para com ela enquanto objecto ou ícone: a
negação ou destruição!
O rasgar, queimar,
destruir de uma fotografia é uma forma de remover o que nela consta ou conta
das vidas de quem assim age. Uma forma de negar o passado ou tentar, com isso,
impedir que este se repita ou continue.
Exemplo mais ou
menos corriqueiro é o que sucede aquando de uma zanga entre namorados ou quebra
de votos de afectos. As fotografias do “outro” são destruídas, na tristeza do
privado ou na raiva do público.
Acontece mesmo ser
o retratado a exigir a devolução de fotografias que o “outro” possui de si,
impedindo que o mesmo “outro” possua o que quer que seja de quem protesta ou
reclama. Nem mesmo a sua imagem!
O gesto supremo,
então, é a adulteração da fotografia, rasgando-a e destruindo apenas a metade
em que se vê o “outro”, como que um afirmar que se continua por cá, vivendo,
mas que o “outro” já não faz parte dessa vida.
Refira-se, também,
nesta relação de afectos negativos para com a fotografia, a adulteração bem
mais sofisticada da imagem que foi o caso (quem sabe se ainda é?) do apagar em
fotografias presenças de gente caídas em desgraça perante o regime. Como
sucedeu, por diversas vezes, na União Soviética, para citar apenas casos
públicos e notórios.
É assim que se
constata que a relação com a fotografia (ou com a imagem no seu todo) é uma
relação de afectos, de desejos de pose ou de repúdio, como os agora descritos.
E você? Já
destruiu alguma fotografia?
By me
terça-feira, 21 de junho de 2016
Daquelas coisas
E porque as ideias
são como as cerejas e porque alguém puxou o tema, eis um episódio que vivi com
alguns alunos, há já um bom pedaço de tempo.
A escola decidiu
passar a fazer constar do currículo um módulo de história da fotografia. Decisão
tomada “assim a modos que de repente”, a meio do ano e válida para todos os
anos dos cursos. Incluindo o terceiro, ano final, em que parte alunos estavam
mais preocupados com as diversas vertentes do vídeo e como fazer a prova final que
com a fotografia, discutida e posta de parte no já distante primeiro ano.
Tocou-me em sorte
o módulo e a decisão, ainda que contestada por mim, impunha-se e havia que a cumprir.
Optei por levar o
módulo para os finalistas em modo “levezinho”, tentando que fosse tão apelativo
e simples quanto o possível. E recorri até à exaustão ao que na altura era
novidade para a esmagadora maioria: as tecnologias de informação e as imagens
digitais.
As aulas eram
passadas a ver e discutir fotografias que eu digitalizava em casa a partir de
livros e ali projectava com o raro projector de vídeo que tínhamos. Outros
tempos!
Na aula da penúltima
semana entreguei a cada um uma disquete. Nela constavam quatro fotografias e um
pequeno texto em que pedia para identificar autor, corrente estética, geografia
e condições técnicas… Com a informação final de que poderiam consultar o que
quisessem.
Aquilo era a
avaliação do módulo e teriam que me entregar o trabalho oito dias depois. Melhor
que isto…
Melhor que isto só
mesmo o facto de todas as imagens estarem na biblioteca da escola e que três
delas haviam sido discutidas em sala. Esta incluída.
No prazo previsto
todos me entregaram o trabalho impresso. Quatro fotografias, quatro respostas,
todas certas.
No caso específico
desta imagem, de Man Ray, identificaram correctamente o autor e o que mais
sobre ela perguntava, sendo que haviam encontrado um texto na net bem
explicativo.
Só que a página
era em Inglês e não tiveram a coragem de fazer copy/past sem mais. E
passaram-no por um tradutor automático. O mesmo texto para todos, sem o reverem
ou alterarem um nico de uns para os outros, só para disfarçar.
Como consequência,
o autor da fotografia passou a chamar-se, neste trabalho, “O raio do Homem”.
Depois disto, quem
tem a coragem de dizer que eu sou um mau tipo, se souber que não bati em nenhum
dos alunos?
By me
Celebrações
Estava demasiado
calor para o fazer à toa, pelo que escolhi o fim do dia.
Fui para o parque
recém recuperado aqui do bairro e sentei-me num dos bancos. Eles aqui não têm
costas: parecem ser feitos de chulipas surripiadas aos caminhos de ferro,
assentes em alvenaria forrada com tijolo burro. Simples, razoavelmente
duradoiros e multi usos.
Pois sentei-me e
deixei-me ficar, o que não me é muito fácil: a imobilidade, como dizia o outro,
é uma cena que não me assiste.
Rapei então de uma
folha de papel, procurei por uma pedra e um nico de areia e preparei-me para
constatar o tempo: À medida que a sombra variava no papel, ia colocando a
areia, bem visível no papel.
Dos garotos que
por ali estavam, três deles ficaram curiosos, perderam a vergonha, pararam com
a bola e vieram saber o que fazia eu. Nove/dez anos, teriam eles.
E eu lá lhes
expliquei o especial do dia.
E quiseram saber
mais: “O que é isso do solstício?”
E fui contando: da
rotação, da translação, dos eixos, do tamanho dos dias e das noites, das estações
do ano… Depois veio a lua e as suas fases, dos porquês e das posições
relativas.
E as mãos fizeram
de satélite, e as cabeças de planeta, e o sol… bem, esse fez de ele mesmo.
Quando dei por mim
eram uns oito ou nove, pirralhos ou já nem tanto, que num fim de tarde
brincavam com a luz e a sombra, cabeça na lua e pés na terra, as bolas e os
skates esquecidos ali nas bermas do relvado.
No papel, a areia ia
ficando na curva que eu esperava, marcando bem mais que o tempo: a relativização
do universo e o impossível do equilíbrio.
Quando me levantei
e sombra foi comigo, a miudagem já partira para outras brincadeiras, que as
bolas rolam e as adrenalinas chamam.
E com a certeza
que eles não se lembrarão do que ouviram daqui por seis meses, quando outro
solstício acontecer. Porque nem lembrarão a data. Mas se alguém então falar no
assunto, saberão explicar a brincadeira deste dia e o porquê da noite longa.
Melhor celebração?
Não creio que a pudesse ter tido!
By me
segunda-feira, 20 de junho de 2016
Aos pares
Há aquele velho conceito,
atribuído a um qualquer pensador oriental:
“Se vires alguém
com fome não lhe dês um peixe: ensina-o a pescar.”
O problema é que a
esmagadora maioria das pessoas, nos tempos que correm, não querem saber pescar,
não querem ter uma cana nem sequer querem saber empatar um anzol. Querem mesmo
o peixe e, se possível, já cozinhado e cortado para que não dê muito trabalho a
comer.
By me
domingo, 19 de junho de 2016
Amanhã, segunda-feira
Alguém me
perguntou hoje qual a melhor forma de celebrar amanhã o Solstício. Com a rara
circunstância de coincidir com a Lua Cheia.
Dei-lhe duas
respostas possíveis:
Uma, e de acordo
com o ambiente social em que nos inseríamos no momento, será o fotografar o
acontecimento ou fotografar algo alusivo a tal.
A outra o
sentarmo-nos algures, em contacto directo com o planeta e por uma hora ou mais fazemos
por sentir que o planeta de facto se move, em rotação e em translação, tal como
a Lua se move, tal como o Sol se move, tal como a Galáxia se move… A
imobilidade e o equilíbrio são invenções humanas, tal como a perfeição e o
divino, para compensar a nossa incapacidade de controlarmos o universo.
Não, não lhe disse
tudo isto. Fiquei-me pelo ficar sentado a sentir o movimento e o planeta.
Mas a pessoa em
causa, que me conhecia havia dez minutos, talvez, ficou a olhar para mim,
sorriu, e disse que essa seria uma boa forma de celebrar.
Pela parte que me
toca é o que conto fazer.
By me
O painel
Admito: este é o
melhor!
Este é o melhor
painel de publicidade comercial ou política que já vi!
Alguém que conheça
o dono que o cumprimente em meu nome e o convença a manter isto assim por
muitos e bons anos.
By me
Um retrato
E porque os
retratos também acontecem, aqui fica um.
A probabilidade de
se voltarem a encontra duas pessoas que nunca se encontraram antes e que só por
mera casualidade e nariz comprido de um é que trocaram umas palavras num
comboio, é particularmente pequena.
Essa probabilidade
reduz-se a quase zero quando o único local em que as rotas de vida se voltam a
cruzar contém uns bons milhares de pessoas.
Mas é a diferença
entre “zero” e “tender para zero” que faz o sal da vida e dos fotógrafos.
By me
Aos pares
Rotina surgida já
nem sei onde ou quando:
Em havendo
concentrações de gente, procuro os meus iguais ou, se preferirem, quem como eu é
utilizador de câmara fotográfica Pentax.
E faço o respectivo
registo, por vezes difícil, já que nem sempre partilhamos a mesma língua.
Mas não é fácil
regressar a casa com pelo menos uma imagem que assinale o encontro. São cada
vez menos as Pentax nas ruas, talvez fruto de modas e marketings agressivos por
parte de marcas e lojas.
Ontem foi dia de
sorte:
Tropeço num casal
que partilha o gosto pela marca e que, numa abordagem bem inteligente do ponto
de vista de gestão de recursos, cada um usa a sua mas Pentax.
Uma hora mais
tarde encontro mais uma, também nas mãos de um português, que ficou muito
espantado com o pedido específico da fotografia (como esta) e da justificação.
Talvez a sorte de
ontem se tenha devido ao estar um dia bonito, ensolarado mas não muito quente,
e haver motivos nas ruas para festejar.
By me
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Ontem aconteceram
em Lisboa duas manifestações. Não sendo inédito, é coisa rara e só me recordo
de outra nos tempos recentes: quando o programa de governo do segundo de Passos
Coelho foi chumbado, dando origem ao actual, e em frente da Assembleia da República
se juntaram apoiantes e contestatários de uma e outra ala parlamentar.
No caso de ontem,
uma aconteceu sob o lema de “Em defesa da escola pública”. Para quem não saiba,
surge ela como resposta de apoio à decisão governamental de terminar contratos estatais
com escolas privadas em locais onde a escola pública tem a oferta de educação
que se espera que tenha, de acordo com a Constituição.
A segunda, tendo
acontecido a uns 500 em linha recta da primeira, não terá o nome formal de “manifestação”.
Os seus organizadores preferem usar o nome “Marcha do orgulho LGBT”. Existe
ela, anual e regularmente, para reivindicar perante a lei e as mentalidades o
direito à igualdade, seja qual for a orientação sexual ou a forma de afecto.
Interessante será
de notar que quando a primeira manifestação tiver sucesso e conseguir que a
escola pública chegue a todos e fazer passar a todos o direito à igualdade
entre seres humanos, seja qual for a sua condição, a segunda deixará de fazer
sentido. Pois nessa altura as diferenças serão consideradas como normais e as
orientações sexuais de cada um em nada condicionarão o seu lugar na sociedade. Tal
como as diferenças de pele, de credo, de condição física, de origem…
No dia em que a
escola pública faça chegar a todos os jovens o sentir e saber que somos todos
diferentes porque todos iguais, as duas manifestações de ontem serão anacrónicas.
By me
Foi com a fímbria!
Foi com a fímbria que aquela turista russa tentou limpar o espelho da câmara.
Vi-os à distância, sentados num banco de jardim cometendo o crime de colocar a ponta do longo vestido fresco no interior do corpo da câmara. Não era comigo, mas até os pelos da ponta da língua se arrepiaram.
Passado um pouco vejo-a a levantar-se e fazer o que parecia um pedido de ajuda a um grupo de turistas, com a câmara aberta na mão. Inconsequente e regressou ao banco, retomando a estratégia anterior.
Saltou-me a tampa e avancei, a bem da integridade física da pobre Nikon, que não tinha culpa nenhuma.
O seu inglês era macarronico (ele nem abriu a boca) mas chegou para me mostrar o lixo no visor e o receio que tinha de as fotografias ficarem assim.
Lá lhe expliquei que não, que era só no espelho, que este só se limpa com cuidado e nunca com um pedaço de roupa, mostrei-lhe que as fotos não estavam afetadas e limpei com o que tinha no saco.
Afastei-me com a sensação de dever cumprido e a desconfiança de ter salvo parte daquela lua-de-mel.
E a certeza de ter ganho um lugar no céu dos fotógrafos.
By me
sábado, 18 de junho de 2016
Banho de multidão
Numa tarde de sábado,
três banhos de multidão:
- Em defesa da
escola pública, aquilo que me pareceu ser a primeira manifestação de apoio a
uma medida governamental deste há muitos anos;
- Em defesa dos
direitos dos LGBT, os afectos, as questões legais, as mentalidades;
- Em defesa da
selecção, os golos, o sofrimento, a identificação individual com a glória e
trabalho de terceiros.
Três fotografias
de cada, para que não digam que favoreço estes ou aqueles. Incluindo aquele
evento onde nunca me sonharia ver a fotografar. Estive por lá uns trinta
minutos e zarpei, em sintonia com o sol.
By me
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E no dia em que
for obrigatório que as fotografias obedeçam a leis de cor, composição, nitidez
ou outras, arrumo a tralha em malas protectoras, deito a chave ao rio e vou
pescar taínhas para os lagos do Rossio.
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Há dias, como
hoje, em que me apetece ser o campeão da procrastinação.
Mas tenho ali umas
câmaras com comichão no obturador…
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Uma data especial
Só para que
conste: a próxima segunda-feira será especial.
Acontece coincidir
a Lua Cheia com o Solstício de Verão, coisa rara.
Sabemos ser a Lua
o acontecimento que mais facilmente permitiu criar calendários, para além do
dia naturalmente.
Os quartos de lua,
ou as suas fases, têm sete dias, o que está na origem das semanas. E o mês
lunar, como não poderia deixar de ser, tem 28 dias. Países há no mundo que
gerem o tempo pelos ciclos lunares. Formal ou tradicionalmente.
Já o Solstício,
que não depende de termos um satélite mas de sermos um satélite, é também
constatado em tudo quanto é lugar no planeta. De meio para um lado como o dia
mais longo (de verão), de meio para o outro lado como o dia mais curto (de Inverno).
Estes – os solstícios
– junto com os equinócios, são as datas que se celebram há mais tempo, bem mais
que a invenção da escrita, bem mais que as civilizações das quais temos
testemunhos importantes.
E são de tal forma
importantes estas datas que em alguns países é o equinócio da primavera que
assinala o início do ano, não uma data arbitrária como o primeiro de Janeiro.
Se prestássemos um
pouco mais de atenção ao universo em que nos inserimos e um pouco menos às
lutas fúteis e efémeras do desporto, da religião, da posse da terra, do poder inútil
de quem manda em quem…
Talvez fossemos um
pouco mais felizes!
By me
sexta-feira, 17 de junho de 2016
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Sabemos que privar alguém de liberdade é uma maldade. Punível por lei. Sequestros, raptos, escravatura...
A lei pune esta e outras maldades com prisão, ou privação de liberdade.
Para punir uma maldade a lei, respondendo à vontade dos cidadãos, aplica ou faz aplicar maldades.
Por outras palavras, o ser humano em grupo e organizado, pratica o mal de modo sistematizado e regular.
E depois dizem-me que sou louco ao defender a Acracia!
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A lei pune esta e outras maldades com prisão, ou privação de liberdade.
Para punir uma maldade a lei, respondendo à vontade dos cidadãos, aplica ou faz aplicar maldades.
Por outras palavras, o ser humano em grupo e organizado, pratica o mal de modo sistematizado e regular.
E depois dizem-me que sou louco ao defender a Acracia!
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quinta-feira, 16 de junho de 2016
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Quando oiço falar
em “terrorista”, lembro-me sempre que esse era o nome atribuído por cá a quem
combatia pelos movimentos de libertação, nas colónias portuguesas.
Tal como me
questiono sobre que nome darão na Palestina aos agentes da MOSSAD, ou em Cuba
aos agentes da CIA.
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Ao espelho
Fico triste ao
constatar que há gente que, conhecendo-me e ombreando comigo há uma vintena de
anos, quiçá mais, confunda princípios com conveniências ou coerência com
oportunismo.
E sendo certo que
não sou santo, também é certo que sou obstinado ou teimoso em certas questões,
não cedendo nem à lei da bala. Menos ainda com subterfúgios ou falinhas mansas.
Ontem, uma vez
mais, tentaram pôr-me à prova e, uma vez mais, “deram com os burrinhos na
água”. Não importa quem nem como.
Mas certo é que à
noite, quando procurava eu o sono, me lembrei disso e de um episódio com mais
de uma vintena de anos. Creio já aqui o ter contado, mas não me importo de me
repetir.
“Naquele ano, uma
das propostas feitas a uma das turmas foi o fazer-se uma fotografia para
ilustrar a capa de um livro policial.
Discutimos o que é
um livro policial, falámos dos estereótipos, concebemos espaços e manchas a
preencher e deixar livres para títulos e grafismos de editor e cada grupo ficou
de conceber e executar um trabalho.
Um dos grupos,
três mocinhas, apresentou uma proposta que incluía um semi-nu. Por aquilo que
conversámos, nada que se são visse nos escaparates das livrarias, na secção dos
policiais.
E discutimos as
técnicas e as éticas envolvidas.
Acontece que a
direcção da escola onde isto decorria soube da coisa, chamou-me e interditou a
realização daquele trabalho em particular. Entre outros aspectos, puseram em
causa o que os pais ou encarregados de educação poderiam dizer, se soubessem
que na escola se faziam fotografias daquelas. Peremptória, a interdição.
Quando voltei a
encontrar-me com o grupo, expliquei-lhes a situação e trabalhámos uma imagem
alternativa, aceitável perante quem decidia.
No dia da execução
do trabalho, em que o estúdio estava por nossa conta, ele foi feito de acordo
com as indicações superiores: técnicas, estéticas e objectivos cumpridos de
acordo com o combinado.
Em terminado, e
havendo tempo disponível, disse-lhes que tinha que ir tratar de um assunto à
secretaria, que era coisa para demorar uma hora, mas que elas poderiam ficar
por ali, aproveitando espaço e equipamento. Entreguei-lhes um rolo virgem e
fui.
Nunca soube o que
ali aconteceu naquela hora. Mas quando regressei, depois de ter ido à
secretaria, ao bar por um café, ao pátio fumar dois cigarros e ter dado uns dedos
de conversa com quem por ali estava, o ambiente naquele estúdio era esplêndido.”
Hoje, tal como
então e tal como muito tempo antes disso:
“Tentem convencer-me;
Não tentem obrigar-me! Que faço muita questão de não ter vergonha do que vejo à
noite no espelho!”
By me
quarta-feira, 15 de junho de 2016
Já posso?
Um destes dias,
num canal de televisão temático, vi umas imagens reais da execução de judeus
junto a uma vala comum alemã.
Ainda não era hora
de jantar.
Há dias, num canal
de televisão generalista e no noticiário nobre da noite, mostraram-nos o vídeo
feito com um telemóvel de alguém que estava na discoteca de Orlando e cujas
imagens se interrompem aquando dos disparos bem audíveis.
Pouco passava das
oito da noite.
As imagens dos náufragos
no Mediterrâneo, incluso crianças na praia ou ao colo, são exibidas não importa
a hora ou a privacidade do canal. Tal como as cenas de pancadaria em redor dos
campos de futebol, com cadeiras pela cabeça abaixo, cassetetes em acção e o que
mais acontecer.
A qualquer hora do
dia ou da noite, em qualquer canal.
Mas sobre aquele
casal que praticava sexo numa praia junto a uma criança, imagens captadas à
surrelfa de um acto natural, apesar de não se verem nenhuma das partes pudendas
dos intervenientes…
Isso já é
criticado em tudo quanto é lado, explícita ou implicitamente, com direito a
intervenção dos tribunais, retirada da criança à mãe e explosões de “Oh meu
deus, onde isto vai parar!”
Já posso voltar,
ou continua tudo louco?
By me
segunda-feira, 13 de junho de 2016
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Na competição com bola, o entusiasmo dos fãs da equipa
vencedora é equivalente à tristeza dos da equipa que perde.
Na competição com bola, é tão importante conseguir colocá-la
no lugar da vitória como o conseguir enganar o adversário, fintando-o e
induzindo- em erro.
Na competição com bola o ser-se bom implica ser-se melhor que
os outros. Ou seja, há que empurrar os outros para baixo para que possam subir.
Numa competição com bola mistura-se o exultar da vitória com
a satisfação da derrota do adversário.
E querem que eu goste disto?
A única competição em que participo, com ou sem bola, é
comigo mesmo. E em que a única vitória que conta é o eu conseguir hoje ir mais
longe do que fui ontem.
Lamento o espectáculo degradante de gente a satisfazer-se
com a frustração ou tristeza de outros.
Sim! Estou a falar de futebol.
By me
Exercícios
Naquele tempo não
havia net, fóruns, redes sociais.
Havia “clubes”,
revistas, bibliotecas, as noitadas em casa deste ou daquele, as discussões em
tornos de provas de contacto, as longas conversas com os vendedores ou
lojistas, as lojas que eram pontos de encontro…
E havia aqueles
desafios que fazíamos uns aos outros, sem prémios ou menções honrosas, mas tão
só com o objectivo de nos incentivarmos a irmos mais longe no nosso próprio
caminho.
Um desses
desafios, repetido amiúde, era com tempo e espaço limitado.
Escolhíamos um
lugar (rua, praça, largo, vila operária, o que fosse) definíamos um prazo (uma
hora, duas, meio dia) e uma quantidade (um rolo de 36, dois, três, nunca mais
que a fotografia era cara) e íamos fotografar. Dois ou três de nós, não mais
para que não nos atrapalhássemos.
No final da parte
prática, juntávamo-nos em torno de uns canecos e conversávamos sobre o que havíamos
feito e sentido, face ao local, à luz, às gentes, às cores (mesmo que em preto
e branco), às limitações técnicas…
Uns dias depois,
tornávamo-nos a reunir, desta feita com as fotografias prontas.
Todas eram
mostradas, as escolhidas e as preteridas. As primeiras impressas em formato “que
se visse”, as restantes em provas de contacto ou 9x12.
E conversávamos
sobre o trabalho: as escolhas e os motivos, as correcções ao enquadramento
original, as escolhas de perspectiva em função das ópticas, dos assuntos, das
luzes, da qualidade da impressão (se fosse nossa), do que elas, as fotografias,
nos diziam agora, passados dias…
O pensar
fotografia era um trabalho interior e colectivo, sem exibições e com o respeito
às opiniões de cada um.
Aprendi muito,
nestas brincadeiras.
Aprendi a comparar
a minha forma de ver com a de outros. Aprendi a comparar a minha forma de
sentir com a de outros. Aprendi a fazer chegar a outros a minha forma de ver e
sentir, afinando as minhas técnicas com a eficácia da comunicação. Aprendi que
não importa idade ou experiência, há sempre o que contar e o que ouvir. Aprendi
que a única competição válida é a interior. Aprendi… Aprendi muito com estas
brincadeiras.
Tantas vezes sinto
falta, agora no tempo dos digitais e das auto-estradas da comunicação, destas
brincadeiras tão pueris mas também tão sérias.
By me
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Alguém me explique porque não pode um esteta aplicar unhas de gel ou um esteticista discursar na academia.
E, já agora, o que é um curso de estética de duas semanas.
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E, já agora, o que é um curso de estética de duas semanas.
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sábado, 11 de junho de 2016
Abusos
Repare-se como
alguns famosos “fotógrafos de rua” fazem a sua actividade e ganham a sua
notoriedade à custa de fotografarem desconhecidos, sem autorização prévia ou
conhecimento posterior.
Ainda que possa
ser violento, eu diria que este tipo de fotografia é a chulice das poses e
comportamentos alheios.
By me
sexta-feira, 10 de junho de 2016
Do sobre a utilização da imagem fotográfica – parte 9
Ninguém faz uma
fotografia de algo que quer esquecer.
Numa esplanada, Plaça
Reial, Barcelona, há uns anos valentes
By me
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O problema das
pessoas que têm um objectivo na vida é que, em o atingindo, esgotam-se na sua
ambição!
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quinta-feira, 9 de junho de 2016
Os bons exemplos
Os bons exemplos aparecem
em qualquer lado.
Neste caso foi no
patamar de entrada do meu prédio.
Hoje.
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Do sobre a utilização da imagem fotográfica - parte 8
O meu projecto “Old
fashion” (um fotógrafo à lá minuta num jardim, oferecendo as fotografias que
faz) durou pouco mais de três anos.
Neste período, fiz
cerca de 1300 fotografias. Todas iguais, ou quase, do ponto de vista formal, técnico,
luz… Variou, muito naturalmente, quem se colocou à frente da câmara para ser
fotografado, as motivações para tal e as conversas tidas antes, durante e
depois da função.
Tenho que admitir
que, de quase iguais que são, poucas
recordo de memória, sem para elas olhar. E as que recordo, consigo-o apenas
porque o fazê-la se revestiu de características especiais. No entanto…
No entanto cada
uma delas foi especial para cada um dos fotografados. Pelo insólito acto fotográfico,
pela circunstância em que aconteceu, pela companhia ou falta dela… haverá um
montão de motivos para que cada uma delas seja especial.
Um destes dias,
depois de ter passado umas horas no jardim da Estrela, e estando já na paragem
de autocarro de regresso a casa, sou abordado por um casal. Ela divertida, ele
meio a medo. Mas foi ele que conversou.
“Desculpe, mas… não
era o senhor que tirava fotografias ali no jardim, com uma máquina grande, num
tripé?”
Anuí, claro, ele
prosseguiu, meio para mim, meio para ela:
“Estás a ver? Eu
bem dizia! E aquela fotografia que tenho presa lá no espelho, está a ver, com
aquele arzinho de não sei o quê, foi este senhor que ma tirou, ainda eu andava
aqui no liceu.”
Não perguntei
porque é que uma fotografia de um adolescente, de corpo inteiro, feita num
jardim junto ao liceu era importante o suficiente para estar sempre visível no
espelho, mesmo depois de homem, ou quase.
Mas fiquei
particularmente satisfeito por saber que foi e é importante e que ainda
sobrevive.
As mais das vezes
os fotógrafos preocupam-se com os troféus que conseguem (situação,
acontecimento, paisagem, modelo), sendo isso que conta do resultado do acto
fotográfico.
Mas… e a importância
para o fotografado?
Na imagem?
A minha câmara, eu
e uma mocinha tailandesa de turismo em Lisboa, que fez questão de se fotografar
com o fotógrafo. Que deste meu projecto, tenho imagens espalhadas pelos cinco
continentes
By me
quarta-feira, 8 de junho de 2016
Na livraria
Quando cheguei ao
balcão da livraria, o empregado conversava com um casal.
Era ela, de uns 25
de idade e menos uns cinco que o companheiro, que fazia as despesas da
conversa:
“Eu disse-lhe que
queria a primeira edição, e esta é a segunda!”, ao mesmo tempo que ia passando
as páginas do livro ainda virgem.
“Sim, mas repare:
a primeira esgotou e esta saiu uns seis meses depois. Além do mais não é a
primeira edição do autor, já que é traduzida…”
“Pois! Mas as
primeiras edições é que têm valor. Eu só compro primeiras edições!”
“Bem, pois desse
livro não temos.”
Entretanto eu, que
tenho um nariz maior que a minha barriga, decidi meter-me na conversa, que não
era minha mas que me fazia comichão atrás da orelha:
“Desculpe, mas o
que é importante é a edição ou a obra escrita? Tanto mais que são ambas deste
ano, ou do ano passado.”
“O que importa, o
que dá valor a uma obra e a uma biblioteca é serem primeiras edições. Por vezes
até têm erros ou gralhas, que são corrigidos nas edições subsequentes. E é isso
que lhes dá valor.”
“Olhe, não sabia”,
disse eu disposto a ir muito mais longe com aquela emproada. “E, sabe, se me
arranjar a primeira edição deste livro que procuro, ou souber onde a encontrar,
fico-lhe muito agradecido.”
“E que livro é?”
“Antígona, de Sófocles.”
“Não, acho nunca
ou vi falar. O senhor não tem?”,perguntou, virando-se para o empregado.
Antes que ele
pudesse reagir, atalhei:
“Bem, talvez seja
natural, já que foi escrito há coisa de dois mil e quinhentos anos, na Grécia
antiga.”
Corou até à raiz
do cabelo, que não sei se pintado, deu meia volta com a sua segunda edição na mão
e seguiu a trote para a caixa, seguida de perto pelo companheiro, que sorria
discretamente.
Após uns segundos
de silencio cúmplice, disse para o empregado, que entretanto tentava encontrar
na lista do computar se o livro que eu queria existia ou não na livraria:
“É pena! Talvez um
dia ela descubra que o valor de uma biblioteca não está na raridade das edições
mas na raridade das obras. E, já agora, no que o conjunto dos seus livros, e
cada um em particular, nos pode contar e enriquecer.”
O empregado sorriu
e afastou-se, para regressar pouco depois com o que eu pedira. Este, por cinco
euros.
By me
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