domingo, 26 de janeiro de 2025
Boa ou má
quarta-feira, 22 de janeiro de 2025
Retrato de una desconhecida
Tinha saído de casa com
este espelho no saco para o partir e fazer uma paródia fotográfica sobre a
sexta-feira 13 e as demais coisas do azar.
Mas antes de o fazer surgiu
junto à minha câmara á-lá-minuta esta jovem senhora com quem estive um pedaço
de conversa. E pedi-lhe para fazer algumas fotografias com a minha DSLR, uma Pentax
K7. Acedeu.
Não sou muito de fazer
retratos, de sugerir a frontalidade para a câmara e menos ainda de pedir para
sorrir, pelo que a deixei livre nos seus pensamentos e poses.
Depois de algumas
abordagens menos convencionais, lembrei-me do espelho que tinha no saco e
entreguei-lho, pedindo que se entretivesse com ele. Este foi um dos resultados.
É espantoso como como as
pessoas se esquecem da presença da câmara quando têm nas mãos um espelho. Em
particular as senhoras. Entram num outro mundo muito seu, numa outra realidade,
dialogando com quem vêem na superfície espelhada e não com quem está atrás da
câmara.
Já o fotógrafo, se tiver
sorte e a luz ajudar, pode passar para além do visível (pele ou vidro) e criar
emoções ou sentimentos que vão bem para além do explícito e encontrar
implícitos que talvez nunca tenham estado ali.
Pentax K7, Sigma 70-300
By me
terça-feira, 21 de janeiro de 2025
Na Rua do Benformoso
Com a idade que tenho, a
que se soma a minha curiosidade, acabo por ter histórias ou episódios que
aconteceram um pouco por toda a cidade: Lisboa.
E como agora está “na berra”
a Rua do Benformoso, aqui fica uma situação aí vivida, há coisa de meio século.
A minha namorada era adolescente
como eu. Aliás, frequentávamos o mesmo liceu, coisa impossível um ano e tal
antes, época em que o ensino era separado para rapazes e raparigas.
Pois esta minha namorada
tinha uma madrinha, já bem idosa. E era quase que obrigação a afilhada visitar
a madrinha com alguma regularidade. E, para visitar a madrinha, havia que ter
um pouco mais de cuidado com as roupas e as conversas. E nem pensar a afilhada
usar calças na sua presença. Que madrinha é madrinha e o respeitinho é muito
bonito.
Vivia a boa da senhora num
rés-do-chão de uma casa modesta e pequena na Rua do Benformoso. Rua estreita,
de prédios velhos, que começava (e começa) na Praça do Martim Moniz e terminava
(e termina) no Largo do Intendente. Nem o princípio nem o fim, principalmente
este, eram zonas que se recomendassem. Com negócios de contrabando e artigos de
origem duvidosa no seu início e tascos, pensões e prostituição no seu fim. Claro
que não se pode generalizar estes atributos por todos os que ali viviam ou
frequentavam, que boa gente por ali havia naturalmente, mas soqueiras e
ponta-e-mola ou faca na liga eram o pão-nosso-de-cada-dia.
Pois um dia fui formalmente
convidado para ir conhecer a madrinha da minha namorada. Uma espécie de
apresentação formal à família e mais importante que conhecer os pais, que eu já
conhecia. A aprovação da minha pessoa pela madrinha era a aprovação do namoro.
E eu lá fui, tendo cuidado
com o que vestia, mas sem fato ou gravata. Que naquela época era sinal de ser
do reviralho.
Admitido na casa, modesta
que era mas imaculada e cheia de bric-á-braque por tudo quanto é lado, não
faltando um santinho com candeia acesa e um canito de loiça, fui conduzido à
sala. E convidado a sentar-me numa cadeira de braços almofadada, a única, de
costas para a janela mas de frente para o televisor. A que não faltava o naperon
em croché com uma jarra com flores em cima.
A certa altura a boa da
senhora, creio que para ajudar a quebrar o gelo, sugeriu que eu pegasse num
cinzeiro de loiça que ali estava. Qualquer um, disse ela. E eram muitos. Em seguida
pediu-me que o virasse (estava vazio, claro) e que visse o que estava escrito. Se
bem me recordo das palavras, constava nele “Este cinzeiro foi surripiado do
restaurante qualquer-coisa”.
Achei estranho, mas ela
continuou, fazendo-me ver o que constava noutro, e noutro, e noutro ainda. Em seguida
os pratos, decorados ou de mesa. Em todos eles havia algo de semelhante
escrito.
Contou-me então que era
hábito trazer-se uma recordação dos restaurantes ou pensões por onde se passava
e que os donos mandavam escrever aquilo para tentar dissuadir, pela vergonha, o
surripanço.
E toda a decoração daquela
sala, a sala da madrinha, tinha essa origem. Por isso serem desirmanadas e de
estilos tão díspares todas aquelas peças.
Se a memória me não falha
voltei a casa da madrinha talvez duas vezes. Que as visitas seria uma vez por
mês ou a cada seis semanas e eu nem sempre podia ou queria. Quando o namoro
terminou não senti falta da madrinha, dos seus troféus ou da rua do Benformoso.
Quanto aos cinzeiros...
Hoje em dia o que não falta são lojas de recordações.
Pentax K1 mkII, SMC Pentax-m Macro 50mm 1:4
By me
Equivalências
Aparentemente pesa sobre Miguel Arruda, deputado à Assembleia da República pelo partido Chega, a suspeita de ter furtado malas nos aeroportos de Lisboa e de Ponta Delgada.
Para poder ser interrogado
e, eventualmente, julgado terá que ser levantada a imunidade parlamentar que o
protege.
Mas não deve este deputado
açoreano ter receios. A menos que existam dois pesos e duas medidas, o seu
futuro político está assegurado.
Como precedente, veja-se o
que sucedeu com Ricardo Rodrigues, então deputado à Assembleia da República pelo
Partido Socialista, acusado de ter furtado dois gravadores de som durante uma
entrevista a um jornal e sob o olhar irrefutavel da câmara de vídeo desse
jornal. Três anos depois e passada que foi a agitação mediática e política,
regressou à terra natal e foi eleito por duas vezes presidente da câmara de
Vila Franca do Campo.
O problema não está na
integridade dos políticos: está na parvoeira de quem os elege.
By me
terça-feira, 14 de janeiro de 2025
Verso e reverso
Sabemos que a imagem é rainha nos tempos de hoje.
Talvez mesmo imperatriz.
Mais ainda: sabemos que a imagem – com os seus
significados e significantes – é bem mais antiga que a escrita, e que nós hoje
quase que veneramos essas antiguidades.
Mas a história da imagem não é nem linear nem
pacífica. O seu peso mágico ou místico nas diversas culturas foi variando com
os tempos. Tal como as associações que cada uma e cada individuo fazia ou faz à
imagem ou ao que ela representa.
Antes de endeusarmos a imagem nos tempos que correm,
talvez seja útil termos uma ideia do que ela foi no passado.
Aqui, uma transcrição de parte do artigo sobre
“iconoclastia” retirado da Wikipédia (que vale o que vale mas pode servir de
pista para outros estudos ou cogitações).
Iconoclastia ou Iconoclasmo (do grego εικών, transl. eikon, "ícone",
imagem, e κλαστειν, transl.
klastein, "quebrar", portando "quebrador de imagem") foi um
movimento político-religioso contra a veneração de ícones e imagens
religiosas no Império Bizantino que começou no início do século VIII e perdurou
até ao século IX.
Os
iconoclastas acreditavam que as imagens sacras seriam ídolos, e a veneração e o
culto de ícones por conseqüência, - idolatria.
Em
oposição a iconoclastia existe a iconodulia ou iconofilia (do grego que
significa "venerador de imagem"), ao qual defende o uso de imagens
religiosas, "não por crer que lhes seja inerente alguma divindade ou poder
que justifique tal culto, ou porque se deva pedir alguma coisa a essas imagens
ou depositar confiança nelas como antigamente faziam os pagãos, que punham sua
esperança nos ídolos [cf. Sl 135, 15-17], mas porque a honra prestada a elas se
refere aos protótipos que representam, de modo que, por meio das imagens que
beijamos e diante das quais nos descobrimos e prostamos, adoramos a Cristo e
veneramos os santos cuja semelhança apresentam.
Em
730, o imperador Leão III, o Isáurio proibiu a veneração de ícones. O resultado
foi a destruição de milhares de ícones pelos iconoclastas, bem como mosaicos,
afrescos, estátuas de santos, pinturas, ornamentos nos altares de igrejas,
livros com gravuras e inumeráveis obras de arte. O iconoclasmo foi oficialmente
reconhecida pelo Concílio de Hieria de 754, apoiado pelo imperador Constantino
V e os iconófilos severamente combatidos, especialmente os monges. O concílio
não teve a participação da Igreja Ocidental e foi desaprovado pelos papas,
provocando um novo cisma. Posteriormente a imperatriz Irene, viúva de Leão IV,
o Cazar, em 787 convocou o Segundo Concílio de Niceia, que aprovou o dogma da
veneração dos ícones, e recuperou a união com a Igreja Ocidental. Os
imperadores que governaram após ela – Nicéforo I e Miguel I Rangabe – seguiram
com a veneração. No entanto, a derrota de Miguel I na guerra contra os búlgaros
em 813, levou ao trono Leão V, o Arménio, que renovou a iconoclastia.
Durante
a regência da imperatriz Teodora, o iconoclasta patriarca de Constantinopla
João VII foi deposto, e em seu lugar erguido o defensor da veneração Metódio I.
Sob a sua presidência em 843, ocorreu outro concílio, que aprovou e subscreveu
todas as definições do Segundo Concílio de Niceia e novamente excomungou os
iconoclastas. Ao mesmo tempo foi definido (em 11 de março, data da reunião do
concílio em 843) a proclamação da memória eterna da ortodoxia e o anatematismo
contra os hereges, ainda realizada na Igreja Ortodoxa atualmente como o
"Domingo da Ortodoxia" (ou "Triunfo da Ortodoxia").
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Ao
colocarmos hoje no lugar de quase deus a actividade que fazemos (imagem, fotografia),
convém que tenhamos a noção que tudo isso já foi pensado pelos antigos e que o
verso e o reverso já foi ponderado.
Talvez
que o problema da actual sociedade de informação (imagem incluída) seja a
dificuldade de criarmos algum pensamento realmente original.
domingo, 12 de janeiro de 2025
Dúvidas
E a pergunta é:
O que estarão eles a
fotografar?
Pentax K1 mkII, Tamron SP Adaptall2 90mm 1:2,5
By me
quinta-feira, 9 de janeiro de 2025
identidades
Ficam, uma vez mais, o mesmo tipo de testemunhos de gente que
em momentos de desespero têm que abandonar tudo. Ou que lamentam não ter podido
salvar.
Em tendo que escolher o que salvar, uma das primeiras opções
são fotografias. Em paralelo com documentos.
Ouvimos isto de quem foge de incêndios devastadores na europa,
na américa, na oceania. E de quem arrisca a vida atravessando oceanos, fugindo
de guerras ou fome.
Quem somos e de onde vimos. A pergunta de milénios, agora
suportada pelas técnicas contemporâneas.
By me
quarta-feira, 8 de janeiro de 2025
Velharias e histórias
Gosto de adquirir artigos
usados presencialmente, mesmo que anunciados na web.
Confronto o interesse no
artigo, o aparente estado de conservação e a minha disponibilidade económica e
se as três linhas coincidirem algures num ponto combino um encontro.
Neste, e para além da
certeza sobre o artigo e o seu estado, tenho a vantagem de poder conversar com
quem vende. Fico a saber um pouco sobre o seu relacionamento com a fotografia e
a história daquele artigo. Foi o caso.
Este visor em ângulo recto
estava anunciado e com uma localização a que eu podia aceder. O preço era
particularmente bom e, apesar de já ter um, este é anterior, com
características diferentes. E, nas primeiras Pentax, o modelo actual não
funciona e vice versa. Encontrámo-nos.
Em estado impecável, incluindo
o estojo e a embalagem original, fiquei a saber que terá sido comprado por uma
senhora, agora com mais de 80 anos, algures nos inícios dos anos ’70, ou no
Japão ou numa das colónias africanas portuguesas, pois ela viveu por lá.
Mais tarde ofereceu-o,
junto com três filtros Pentax (com os quais também fiquei) a uma amiga, mãe de
quem estava a vender o conjunto.
Para além destes factos, é
interessante perceber como estes itens atravessaram três continentes e três
gerações e que chegam agora ao século XXI em tão bom estado de conservação. Praticamente
novos. Naqueles tempos o equipamento fotográfico não apenas era caro como era
algo para ser conservado por quem lhe tinha estima.
Sobre grande parte das
peças que possuo tenho uma história. Ou porque vivida em primeira mão ou porque
me a contaram. E das que me foram contadas, de algumas tenho dúvidas da sua
veracidade. Ou porque inventadas para facilitar o negócio e inflacionar o preço
ou para ocultar uma origem mais obscura.
Em qualquer dos casos,
todas essas histórias dão um sabor especial ao que tenho aqui por casa.
Pentax K1 mkII, Tamron SP Adaptall2 90mm 1:2,5
By me
domingo, 5 de janeiro de 2025
Confortos
Talvez porque o dia tem
estado frio e húmido, com fortes bátegas ocasionais; talvez porque de manhã
falei numa tampa de maionaise e de se ser rico ou pobre; talvez porque estive
entretido com Boris Vian enquanto ouvia o saxofone de Rão Kyao; talvez...
A verdade é que me apeteceu
uma gulodice de outros tempos: pão barrado com manteiga e polvilhado com açúcar
branco e canela.
Lanche de conforto, que me
transportou para uma adolescência dominical e invernosa de boa memória e os
intervalos das Tardes de Cinema em preto e branco, embrulhados em mantas e a
porta fechada para que o calor não escapasse.
Por vezes não é preciso
muito.
Só lamento a fotografia,
feita às três pancadas e a correr, impelido pela água que me crescia na boca e
o receio de o pão arrefecer.
Pentax K1 mkII, Tamron SP Adaptall2 90mm 1:2,5
By me