quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

Fotogenias




Convenhamos que o conceito de beleza muda com os tempos. E nem sequer necessitam de ser particularmente longos.
Se olharmos para os retratos feitos com fotografia ao longo do último século e meio, veremos que a beleza humana (ou aquilo que como tal é considerado) tem variado. No masculino e no feminino. Na interpretação feminina e masculina.
O mesmo se aplica, no mesmo período, ao conceito de “fotogenia”. Dizer que uma pessoa é fotogénica significa, regra geral, que “fica bem” nas fotografias. E, por ficar bem entende-se que fica bonita a pessoa.
Mas se “beleza” é coisa variável, então “fotogenia” também o é.
No entanto…
No entanto encontramos fotografias de pessoas que não respeitam os conceitos de beleza em vigor mas que “ficam bem” nas fotografias. Pessoas que não têm as proporções da moda, pessoas cujo tempo moldou feições, pessoas com “deficiências”… E ficam bem na fotografia!
O que é, então, fotogenia?
Tenho para mim que fotogenia será um conjunto de condições que resultam em retratos agradáveis de ver. E que não se ficam em exclusivo pelo visual da pessoa retratada.
Começa, naturalmente, pela forma como o seu aspecto corporal se enquadra nas modas vigentes.
Passa, em seguida, pelo que cerca: roupagens, cenário, arranjo da pelagem… tudo aquilo que vai mais além das proporções da carne, ossos e pele.
Continua por aquilo que é mostrado da pessoa retratada. Os eixos de captação, os volumes evidenciados ou escondidos pela luz, quanto e onde se manifestam os brilhos da pele, do pelo, dos olhos.
Manifesta-se, também, por aquilo que provoca no espectador. Memórias, padrões, afinidades. E pela forma como o seu semblante exprime algum estado interior: alegria, rigidez, tristeza, euforia, sensualidade… Por outras palavras, como “fala” com quem vê a imagem.
E, mais subjectivo, na empatia existente entre fotógrafo e fotografado. O primeiro tem que, de algum modo, tornar a parafernália técnica invisível para que o fotografado não se sinta intimidado ou agredido por ela. A força das luzes, a agressividade da objectiva, o estar escondido atrás da câmara, são elementos prejudiciais a uma ligação positiva entre ambos. Que raramente resultam em fotografias mais “faladoras” que uma fotografia de passe ou foto-reportagem.
Por fim, igualmente importante e subjectivo, aquilo que o fotógrafo vê ou sente perante o fotografado e a sua “mestria” na transposição disso mesmo para o suporte lúmico. Se quem usa a ferramenta fotográfica estiver neutro em relação ao que fotografa, pessoas ou não, sem possuir algum tipo de sentimento, mesmo que negativo, o mais que consegue é obter cópias bidimensionais rígidas daquilo que tem três dimensões e vida. Será quase impossível gostar de fotografias assim feitas. Ou gosta-se tanto quanto o que se gosta da que consta num documento de identificação.
A fotogenia é assim, do meu ponto de vista, um conjunto de circunstâncias positivas para o resultado final. Por parte do fotografado, por parte do fotógrafo e por parte de quem vê o resultado final.
Os meus cinco cêntimos.



By me

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