sexta-feira, 24 de outubro de 2008

85 anos


O que tem esta imagem de especial? Para já, as metades têm 85 anos de diferença!
A da esquerda é, tanto quanto sei, a mais antiga imagem registada de uma imagem vídeo. Feita em 1923, é uma fotografia de um ecrã de televisão de então, um aparelho experimental como se calcula.
A da direita é um “frame” de um vídeo doméstico, feita dias atrás por uma conhecida.
Em ambos os casos, trata-se de uma imagem de importância relevante, ainda que para universos diferentes.
No primeiro caso para a história da humanidade e dos media, no segundo para uma família em particular. A da esquerda é a imagem de algo novo à época, que não tem parado de crescer e desenvolver-se, a da direita é a imagem de algo novo que tem ainda muito para crescer e se desenvolver.
Mas as semelhanças não terminam aqui. Ambas foram feitas na vertical, ao contrário do que é habitual ver-se em imagens animadas.
Se os motivos que a tal levaram na mais antiga me escapam, suponho que questões técnicas de então, na segunda foi um mero hábito. Porque esta foi registada com recurso a um telemóvel com câmara e foi manuseado na posição habitual de uso de tal aparelho: na vertical.
O que se torna curioso é como é que esta imagem actual e colorida me veio parar às mãos.
Quem fez este vídeo quis envia-lo para a família, bem longe. E dirigiu-se a uma loja onde pediu que fosse transferido para um DVD a fim de poder ser lido num leitor de DVD.
Na loja assim o fizeram e cobraram-lhe dinheiro pelo trabalho. Mas fizeram-no mal, que se limitaram a copiar os ficheiros, sem mais. E nenhum leitor de DVD de sala é capaz de os ler, como a videógrafa constatou. E recorreu aos meus préstimos para o fazer decentemente.
Vi-me, assim, na posse temporária de um conjunto de pequenos vídeos amadores, que transformei a preceito para o suporte desejado. Com a tarefa acrescida de ter que os rodar a todos 90º já que, se assim não o fizesse, teriam os espectadores que se deitarem de lado para os verem direitos.
O trabalho foi entregue com as recomendações de ter um pouco de mais cuidado na próxima “rodagem”
No entanto, este exemplo serviu uma vez mais para mostrar como a tirania dos fabricantes, dos formatos e tecnologias por estes impostas, pode e faz cercear a criatividade de quem comunica, limitando a expressão individual.
Quando a família desta criança vir este vídeo, achará estranho, mesmo incómodo, que as imagens estejam na vertical, com barras negras dos lados. Porque estão, quem o vir, formatadas no 3 por 4 ou no 16 por 9, formatos standard do vídeo.
Há 85 anos atrás, este não era um impedimento. As imagens eram criadas na sequência das experiências que se iam fazendo, sem impedimentos ou limitações que não fossem o descobrir de novas técnicas.
Duvido que sejamos nós, formatados que estamos pelas tiranias dos fabricantes, os mais livres na criatividade e na comunicação!


Texto: by me
Imagem: edit by me


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