quinta-feira, 20 de maio de 2021

O cálice




Por vezes não tenho inspiração matinal e, para manter o fluxo de publicações diário, socorro-me de material já divulgado. É este o caso, com uma dezena de anos, texto e imagem.

O cálice
Quando o vi na montra não resisti e entrei. Haveria de saber o preço e, sendo comportável, viria comigo. E, de caminho, a taça prateada que estava noutro ponto da montra, que talvez não com a mesma origem ou época, mas bem que poderia fazer “panelinha” com o cálice numa das minhas brincadeiras.
Mas o objectivo principal era o desafio: um cálice como este, deste material bem reflector e multi-curvilíneo é um desafio fotográfico dos maiores. Conseguir fotografá-lo, mostrando a matéria de que é feito, as formas que possui e não ter formas ou objectos distractivos reflectidos na sua superfície.
Um desafio dos grandes.
Que tratei de tentar solucionar mesmo na rua, em condições em nada controladas.
Uma das técnicas, parece-me, é a questão da luz, da quantidade e qualidade de luz. Ter a fonte de luz principal do lado de lá (o tal lado de que gosto), de forma a que não se reflicta e seja visível na superfície do nosso lado. Ao mesmo tempo, tentar que câmara e fotógrafo estejam pouco iluminados, na sombra se possível, para que o seu reflexo, existente no metal, seja de pouca monta. E, ao mesmo tempo, criar um fundo luminoso e atractivo que, ao captar a atenção, distraia o olhar do que possa estar reflectido do lado de cá.
Tudo isto é teórico. E funciona na prática. Convém é ter meia dúzia de acessórios que ajudem a controlar a luz, a sombrear o fotógrafo, a suportar no local certo o cálice… não tinha nada disso comigo nessa tarde, na rua, e isto foi o melhor que consegui fazer então e de improviso.
O que acaba por ser curioso é nesse mesmo dia, em três locais distintos (na loja onde o comprei, numa loja de artigos infantis didácticos e num novo negócio agora surgido na sede do meu concelho e sobre fotografia) acabei por falar de fundos, da sua importância para isolar o assunto principal, de como variando a quantidade de fundo para um mesmo tamanho de assunto principal contam histórias diferentes, de iluminar de lá para cá, nem que seja com a chamada “luz de recorte” para fazer sobressair do fundo e dar volume…
É curioso como a esmagadora maioria das pessoas, mesmo alguns profissionais, se esquecem que o tratamento do primeiro plano é tão importante quando o do fundo ou segundo plano.
Por vezes, é essa diferença de tratamento que transforma uma fotografia numa photographia.
E o meu cálice ainda precisa de ser tratado.

By me

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