A história é suficientemente antiga para que “digital” mais
não significasse que “dedo”.
Uma turma de jovens adolescentes no primeiro ano de um curso
de fotografia. Que, por sinal, era também o meu primeiro ano a leccionar.
Quando fomos falar de distâncias focais, ângulos de visão e
perspectivas, resolvi ser brincalhão: disse-lhes que a 50mm era a objectiva
normal porque era a que normalmente vinha com as câmaras. Ri-me da minha piada
e seguimos com os conceitos certos e a relação entre objectivas e percepção
visual.
Quando, uns dias depois, voltámos ao tema, usei a velha
técnica de pegar no conhecido e seguir para o desconhecido. E perguntei-lhes
porque é que a 50mm era conhecida como “normal”.
Uma aluna (lembro-me perfeitamente que estava na extrema esquerda
da sala, do mesmo lado da janela), passou as folhas do caderno e leu os
apontamentos: “Porque é a que normalmente vem com as câmaras”.
Fiquei varado! Eu tinha dito aquilo e, para ela, não havia
dúvidas sobre o que eu dizia. E não poderia eu dizer que ela estava errada.
Brinquei com a coisa, corrigindo, dando eu a mão à
palmatória pela brincadeira e sem a menosprezar pelo erro. Afinal, eu tinha
dito aquilo.
Durante os anos em que trabalhei com alunos fui sempre
assaltado por uma dúvida: “Quem aprendeu mais: eles, com o que lhes dizia e as
descobertas que faziam, ou eu, com as dúvidas, perguntas e reacções deles?”
E este episódio foi, sem sombra de dúvida, uma das grandes
lições que recebi: A credibilidade de alguém que ajuda a aprender é a sua maior
ferramenta.
Levar os alunos (formandos, aprendizes…) a questionarem-me,
a tentarem encontrar falhas ou erros no que lhes dizia ou nos “caminhos” que
lhes sugeria foi um método que nunca deixei de usar e de cujos resultados
(confesso cheio de imodéstia) sempre foram positivos.
No fim de contas, o sol sempre girou em torno da terra até
que alguém demonstrou o contrário.
By me
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