terça-feira, 11 de maio de 2021

A 50mm



 

A história é suficientemente antiga para que “digital” mais não significasse que “dedo”.

Uma turma de jovens adolescentes no primeiro ano de um curso de fotografia. Que, por sinal, era também o meu primeiro ano a leccionar.

Quando fomos falar de distâncias focais, ângulos de visão e perspectivas, resolvi ser brincalhão: disse-lhes que a 50mm era a objectiva normal porque era a que normalmente vinha com as câmaras. Ri-me da minha piada e seguimos com os conceitos certos e a relação entre objectivas e percepção visual.

Quando, uns dias depois, voltámos ao tema, usei a velha técnica de pegar no conhecido e seguir para o desconhecido. E perguntei-lhes porque é que a 50mm era conhecida como “normal”.

Uma aluna (lembro-me perfeitamente que estava na extrema esquerda da sala, do mesmo lado da janela), passou as folhas do caderno e leu os apontamentos: “Porque é a que normalmente vem com as câmaras”.

Fiquei varado! Eu tinha dito aquilo e, para ela, não havia dúvidas sobre o que eu dizia. E não poderia eu dizer que ela estava errada.

Brinquei com a coisa, corrigindo, dando eu a mão à palmatória pela brincadeira e sem a menosprezar pelo erro. Afinal, eu tinha dito aquilo.

Durante os anos em que trabalhei com alunos fui sempre assaltado por uma dúvida: “Quem aprendeu mais: eles, com o que lhes dizia e as descobertas que faziam, ou eu, com as dúvidas, perguntas e reacções deles?”

E este episódio foi, sem sombra de dúvida, uma das grandes lições que recebi: A credibilidade de alguém que ajuda a aprender é a sua maior ferramenta.

Levar os alunos (formandos, aprendizes…) a questionarem-me, a tentarem encontrar falhas ou erros no que lhes dizia ou nos “caminhos” que lhes sugeria foi um método que nunca deixei de usar e de cujos resultados (confesso cheio de imodéstia) sempre foram positivos.

No fim de contas, o sol sempre girou em torno da terra até que alguém demonstrou o contrário.


By me

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