sexta-feira, 21 de maio de 2021

Aconteceu em 2009

 



Estava eu, descansadinho da Silva com o meu artefacto no Jardim da Estrela, quando os vejo aproximar. Ela com vinte e poucos e com o microfone na mão, ele na casa dos trintas e com a câmara na mão.

Fui olhando com atenção, tentando, em vão, perceber para que empresa ou estação trabalhariam. Acabei por o saber, após lhes perguntar: Um canal de TV on-line, recente, com pouco mais de um mês de existência. E aproveitaram eles para me pedir se poderia responder as umas perguntas sobre os jardins de Lisboa. Claro!

Aliás, achei tal graça à situação, que acabei por puxar dos galões e falar-lhes do meu próprio ofício. De mestre para mestre, pensava eu, que a forma como manusearam as ferramentas me demonstrou bem o contrário. Mas, sendo que ninguém nasce ensinado, acabei, por no final, ainda lhes dar uma ou duas dicas que, penso eu, lhes terá facilitado e melhorado a função.

Em chegando a casa lá fui ver o tal canal on-line. Não tanto por mim, mas antes para perceber o que vai acontecendo neste suporte em língua portuguesa. E foi aí que fiquei incomodado. Muito incomodado mesmo!

Trata-se de um canal temático. Mas o seu tema era o apoio à candidatura à câmara de Lisboa de Pedro Santana Lopes. E nada me disseram sobre tal questão, quando me abordaram!

Não bastava a recente bronca com o PS e o “Magalhães”, há mais quem o faça e, pelo que vi na web, até nem será novidade: falar com os cidadãos e não lhes dizer que as suas palavras serão usadas em prol deste ou daquele projecto político. Concorde-se ou não com ele.

A grande vantagem da Internet é, sendo quase completamente acrata, não possuir limites aos seus conteúdos e utilizações. O problema são mesmo os abusos, neste e noutros sentidos. E um canal de vídeo on-line que só discretamente se identifica com uma campanha política não é, em meu entender, uma forma lisa, clara e honesta de o fazer. Eu diria que é bem o seu oposto.

Não creio que a CNE (Comissão Nacional de Eleições) ou a ERC (Entidade Reguladora da Comunicação) concordem com estes métodos sub-reptícios e nada transparentes. Estou mesmo em crer que este canal on-line e a forma como recolhe depoimentos fere alguma ou algumas das demasiadas regras, normas ou leis que existem em Portugal.

Não sou munícipe de Lisboa. Mas, se o fosse trataria de dar voz bem alta a este caso junto dos eleitores, para que saibam os métodos por um dos candidatos empregue!

 

Epílogo:

Não sou simpatizante do partido de Santana Lopes; não sou simpatizante de Santana Lopes; não sou eleitor em Lisboa. Assim, contactei a Comissão Nacional de Eleições, a então ERC e a Comissão para a Carteira de Jornalista.

Uma delas encaminhou o assunto para a Comissão Nacional de Proecção de Dados, que me contactou, pediu mais elementos e encaminhou para o DCIAP.

Este fez-me comparecer para prestar depoimento e assinar declarações, numa esquadra de polícia.

Passados uns bons seis meses, recebi uma carta com o despacho de uma juíza: Tinham sido ouvidos os intervenientes (a empresa de audiovisual, o mandatário para a campanha e o Santana Lopes) e haviam chegado à conclusão que, apesar de nada ético, não havia sido cometido nenhuma ilegalidade e o processo havia sido arquivado.

 

Fica o aviso para os munícipes da Figueira da Foz.


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