Estava eu,
descansadinho da Silva com o meu artefacto no Jardim da Estrela, quando os vejo
aproximar. Ela com vinte e poucos e com o microfone na mão, ele na casa dos
trintas e com a câmara na mão.
Fui
olhando com atenção, tentando, em vão, perceber para que empresa ou estação
trabalhariam. Acabei por o saber, após lhes perguntar: Um canal de TV on-line,
recente, com pouco mais de um mês de existência. E aproveitaram eles para me
pedir se poderia responder as umas perguntas sobre os jardins de Lisboa. Claro!
Aliás,
achei tal graça à situação, que acabei por puxar dos galões e falar-lhes do meu
próprio ofício. De mestre para mestre, pensava eu, que a forma como manusearam
as ferramentas me demonstrou bem o contrário. Mas, sendo que ninguém nasce
ensinado, acabei, por no final, ainda lhes dar uma ou duas dicas que, penso eu,
lhes terá facilitado e melhorado a função.
Em
chegando a casa lá fui ver o tal canal on-line. Não tanto por mim, mas antes
para perceber o que vai acontecendo neste suporte em língua portuguesa. E foi
aí que fiquei incomodado. Muito incomodado mesmo!
Trata-se
de um canal temático. Mas o seu tema era o apoio à candidatura à câmara de
Lisboa de Pedro Santana Lopes. E nada me disseram sobre tal questão, quando me
abordaram!
Não bastava
a recente bronca com o PS e o “Magalhães”, há mais quem o faça e, pelo que vi
na web, até nem será novidade: falar com os cidadãos e não lhes dizer que as
suas palavras serão usadas em prol deste ou daquele projecto político.
Concorde-se ou não com ele.
A grande
vantagem da Internet é, sendo quase completamente acrata, não possuir limites
aos seus conteúdos e utilizações. O problema são mesmo os abusos, neste e
noutros sentidos. E um canal de vídeo on-line que só discretamente se
identifica com uma campanha política não é, em meu entender, uma forma lisa,
clara e honesta de o fazer. Eu diria que é bem o seu oposto.
Não creio
que a CNE (Comissão Nacional de Eleições) ou a ERC (Entidade Reguladora da
Comunicação) concordem com estes métodos sub-reptícios e nada transparentes.
Estou mesmo em crer que este canal on-line e a forma como recolhe depoimentos
fere alguma ou algumas das demasiadas regras, normas ou leis que existem em
Portugal.
Não sou
munícipe de Lisboa. Mas, se o fosse trataria de dar voz bem alta a este caso
junto dos eleitores, para que saibam os métodos por um dos candidatos empregue!
Epílogo:
Não sou
simpatizante do partido de Santana Lopes; não sou simpatizante de Santana
Lopes; não sou eleitor em Lisboa. Assim, contactei a Comissão Nacional de
Eleições, a então ERC e a Comissão para a Carteira de Jornalista.
Uma delas
encaminhou o assunto para a Comissão Nacional de Proecção de Dados, que
me contactou, pediu mais elementos e encaminhou para o DCIAP.
Este
fez-me comparecer para prestar depoimento e assinar declarações, numa esquadra
de polícia.
Passados
uns bons seis meses, recebi uma carta com o despacho de uma juíza: Tinham sido
ouvidos os intervenientes (a empresa de audiovisual, o mandatário para a
campanha e o Santana Lopes) e haviam chegado à conclusão que, apesar de nada
ético, não havia sido cometido nenhuma ilegalidade e o processo havia sido
arquivado.
Fica
o aviso para os munícipes da Figueira da Foz.
By me
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