quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Ao calhas



Escolho um livro ao calhas da estante. Sai-me na rifa o “A tirania da comunicação”, de Ignacio Ramonet, escrito em 1999.
Também ao calhas o abro e aponto com um dedo. Eis o parágrafo que a sorte me mostrou:


William Randolph Hearst, o magnata da imprensa Americana que serviu de modelo ao Citizen Kane de Orson Wells, costumava dizer aos seus jornalistas: “Nunca aceitem que a verdade vos prive de uma boa história.” Em muitas redacções – até nas mais “honestas” -, esta máxima parece voltar a estar na moda. Assim, em 7 de Junho de 1998, a CNN não hesitou em apresentar, de uma forma espectacular, uma reportagem realizada pelo sue jornalista mais famoso, Peter Harnett, em que se afirmava que durante uma operação contra os desertores no Laos, no início dos anos 70, o exército dos estados unidos tinha usado gás Sarin, um gás mortífero. Uma semana mais tarde, o semanário Time (que pertencia ao mesmo grupo mediático, o Time-Warner) retomava e desenvolvia a notícia. No entanto, esta viria a revelar-se falsa. Um relatório provou que Arnett e a sua equipa, tinha empolado todo o caso a partir de declarações ambíguas de dois veteranos parcialmente amnésicos. Como se, à partida, os jornalistas tivessem decidido para qual das versões ia a sua preferência, devido ao seu formato sensacional. Este comportamento testemunha a tendência actual para “inventar um argumento” para a realidade, para “encenar” a informação, e força-la a adaptar-se à encenação que os jornalistas têm em mente. “O que importa neste novo jornalismo – denuncia Juan Luís Cebrián, antigo director do El Pais -, é que a encenação funcione, e não que ela esteja de acordo com a verdade”.


Vinte anos depois, se excluirmos datas, nomes e locais, está tudo na mesma, ou pior ainda!

Imagem: by me

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