segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

Simetrias




Na procura do belo, usando os deuses como exemplo, o Homem procura a simetria como fórmula magistral. Na figura humana em geral e no rosto em particular, a representação do corpo ideal é, desde sempre, o simétrico.
Na pintura, na escultura, na arquitectura, esta enquanto lugar de vivência e aparência exterior do que no interior acontece.
Mas a simetria mais não é que a excepção da natureza. Os corpos, mesmo que aparentem sê-lo, não são simétricos. O seu interior, congénito e natural, o seu exterior à nascença e com a evolução do individuo. Mesmo entre os vegetais, a simetria perfeita é rara, quase mesmo que uma aberração, O terreno de onde cresce, o lado mais exposto ou não ao sol, os ventos dominantes… de um modo ou outro a simetria é a peça rara deste puzzle a que chamamos planeta.
E mesmo saindo dele, do pouco que conhecemos do imenso universo em que existimos, a esfericidade, a equidistância, os ângulos rectos… são peças fúteis de procurar, tanto quanto um corpo simétrico.
Mesmo os movimentos dos corpos celestes, no imenso “vazio” em que se encontram, não são simétricos ou exactamente iguais, mas antes evolutivos, como se a perfeição da forma (e do tempo) fosse algo ainda não encontrada.
Por cá o Homem tenta igualar os deuses, ou as suas manifestações visíveis: a natureza.
Mas parece ignorar que a cada minuto esses mesmos deuses se divertem em frustrar os planos humanos, mostrando e evidenciando as nossas falhas, fazendo com que aquilo que queremos perfeito (e simétrico) nos seja mostrado exactamente da forma oposta. Há um momento, um brevíssimo instante, em que a posição aparente do sol nos mostra essa raridade que procuramos: a simetria. Depois continua no seu caminho, como se nada fossemos (e não somos) exibindo a futilidade dos nossos esforços.
Talvez que a perfeição dos deuses esteja mesmo aí: na evolução, na modificação, na procura sempiterna de um ponto tal que, em atingido, nada mais faça sentido procurar ou fazer. Nem mesmo para eles, os deuses.
E se os deuses o são, quem seremos nós para encontrar perfeição numa simetria de forma e tempo que eles não criaram? Nem permitem?
Não vêem as sombras?
Pentax K7, 50mm f/1,2, medição TTL

By me

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